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terça-feira, 21 de março de 2023

BAR DOCE LAR

Durante o início dos anos 70, o jovem J.R. (Daniel Ranieri) volta com a Mãe (Lily Rabe) para a casa dos avós maternos, interpretados por Christopher Lloyd e Sondra James, devido a problemas financeiros. Lá também vive o tio Charlie (Ben Affleck), dono e bartender do bar The Dickens, cujo nome do estabelecimento é uma referência ao famoso romancista do século XIX Charles Dickens (1812-1870).

            O tio passa a ocupar o lugar de figura paterna na vida de J.R., ensinando-o lições e valores importantes com o propósito de torná-lo um adulto honesto e trabalhador, já que o pai biológico do garoto, um famoso radialista (Max Martini), não poderia se importar menos.

            Esta é a premissa de Bar Doce Bar (The Tender Bar, 2021, algo como O Bar Acolhedor ou Bar Afetuoso), dirigido por George Clooney, com base num roteiro de William Monahan que adapta o livro de memórias de mesmo nome de J.R. Moehringer.

            É um longa agradável, pois Clooney conseguiu obter boas atuações de seu elenco, principalmente de Ben Affleck, Lily Rabe e Christopher Lloyd. Tye Sheridan também entrega uma performance bastante convincente como um J.R. mais velho, no final da adolescência e início da idade adulta, principalmente durante a cena em que confronta o pai biológico de seu personagem.

            Não posso também deixar de me identificar com J.R, cuja maior ambição, vejam só, é se tornar um escritor. Não é uma tarefa fácil ou agradável o tempo todo. É necessária tremenda dedicação. A pessoa realmente tem de amar o que está fazendo.

            Se divago um pouco, é porque divido com o personagem a dúvida e insegurança quanto aquilo que se escreve, se é bom o suficiente, se tem a capacidade de tocar, de alguma forma, o leitor e assim fazer a diferença em sua vida.

 


 

Fontes:

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Dickens

https://www.imdb.com/title/tt3108894/

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

LICORICE PIZZA

       Licorice Pizza (cuja tradução literal do título seria Pizza de Alcaçuz, mas é também uma gíria norte-americana para discos de vinil), dirigido e roteirizado por Paul Thomas Anderson, é um filme complexo. Aliás, controverso talvez fosse uma palavra melhor para se referir ao mesmo, pois a sua premissa básica é a de um romance, ainda que inicialmente platônico, entre Gary Valentine (Cooper Hoffman), um garoto de 15 anos e Alana Kane (Alana Haim), uma mulher de 25 anos, uma questão não só polêmica na atualidade, como também em 1973, época em que se passa o enredo, já que alguns anos antes, em 1968, ocorreu um caso real, na França, com uma temática parecida: Gabrielle Russier*, uma professora, de 30 anos, foi levada ao suicídio, devido à pressão da sociedade francesa da época, por ter se envolvido com um aluno com metade de sua idade.

          Voltando a trama do filme, essa começa no dia da fotografia na escola que Gary frequenta, cuja empresa responsável pelos retratos é aquela em que Alana trabalha. Ao conhecê-la, enquanto a moça oferecia espelhos e pentes para que os alunos pudessem se arrumar antes de serem fotografados, Gary não perde tempo em convidá-la para sair, apesar da diferença de idade entre ambos.

            Ele a chama para ir a um restaurante em que geralmente vai para jantar e, por alguma estranha razão, Alana resolve comparecer. Assim tem início a estranha simbiose que é a amizade dos dois, que passa por desafios como a venda de colchões d’água, um dos muitos esquemas de Gary para ganhar dinheiro fácil, mas que é frustrada pela crise do petróleo de 1973, já que os ditos produtos são fabricados com base nesse insumo; as crises de ciúmes do garoto, por ver homens mais velhos flertarem com Alana, sem poder fazer nada, ainda que seus sentimentos sejam aparentemente correspondidos pela moça, mesmo que não consumados.

        A verdade é que a história se arrasta, com pequenos acontecimentos que parecem não levar a lugar algum, enquanto tenta resolver o bom e velho eles vão ou não ficar juntos, ao melhor estilo Ross e Rachel, do seriado Friends. Não é que o filme seja ruim, as atuações são agradáveis e consistentes e o elenco é bastante carismático, principalmente os intérpretes de Gary e Alana. A fotografia é muito bem-feita, mas o maior problema é o roteiro, que demora a decolar, que só quando chega ao seu ápice dá mostras da intenção de Anderson ao escrevê-lo, ainda que o roteirista não tenha tido coragem de contar a história que queria desde o início. 


 

Fontes:

 https://portalpopline.com.br/licorice-pizza-explicacao-titulo-filme/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Licorice_Pizza

 *A Imortal Gatito, reportagem de Mavis Gallant, originalmente publicada em 1971, mas presente no livro ‘Os Piores Casos da Revista New Yorker’

 

 

 

sábado, 4 de fevereiro de 2023

FILHOS DO ÓDIO

               Este é um daqueles filmes difíceis de assistir, não só por se tratar de uma história real, mas também por envolver uma questão social tão delicada como o racismo, ainda mais na época e no lugar em que tudo se passa: o princípio dos anos 60, no sul dos Estados Unidos, momento em que a região era um caldeirão prestes a explodir, devido a luta pelos direitos civis e o fim da segregação racial.

     É nesse contexto que conhecemos Bob Zellner (Lucas Till, o novo MacGyver do seriado recém cancelado de mesmo nome), o personagem principal do filme Filhos do Ódio (Son of the South, Filho do Sul, numa tradução literal, 2020), dirigido e roteirizado por Barry Alexander Brown.

            Zellner vem de uma família sulista tradicional e tem um passado complicado: o seu avô paterno é parte da Ku Klux Klan. No entanto, o rapaz não acredita nessa bobajada toda e começa a se meter em problemas ao fazer um trabalho da faculdade sobre diferenças raciais. Ele descobre que, para realizar a tarefa, não poderia nem ao menos falar com pessoas negras sobre o assunto.

 É claro que ele desobedece a ordem e começa a expandir os seus horizontes, questionando o seu passado, o que lhe foi parcialmente ensinado pela sociedade a sua volta e o seu papel em tudo aquilo: deveria não fazer nada, mesmo que a causa fosse correta e justa, ou entrar numa luta que não era sua, deixando de lado a segurança proporcionada pelo seu tom de pele claro e todos os privilégios que vinham com ele, como, por exemplo, uma vida pacata ao lado de sua noiva Carol Ann (Lucy Hale)?

            Tantos anos depois, a escolha parece clara: lutar pelo que era certo, mas ao assistir a trama, vemos o preço que qualquer pessoa, fosse negra ou branca, pagava por assumir a causa dos direitos civis como sua. Indivíduos eram surrados, duramente espancados e linchados até a morte em movimentos pacíficos e não-violentos, fossem passeatas, viagens de ônibus do grupo Freedom Riders (algo como Viajantes da Liberdade) ou por atos como quebrar a política de segregação racial, como Rosa Parks fez, que aliás, está presente no filme interpretada por Sharonne Lanier.

            Assim, ao aderir, por completo, ao movimento dos direitos civis, Zellner fez a sua escolha e aceitou as consequências que vieram com ela. Ele pode ter perdido muito, mas a sua crença, a sua ideologia de uma sociedade melhor ainda lhe é mais preciosa.

            Por fim, vale ressaltar que a história aqui não é planfetária, uma apologia ao ‘salvador branco’, mas uma mensagem mais profunda: para que o mal prevaleça, basta que os bons homens não façam nada, como diz a frase aparentemente atribuída a Edmund Burke.

 


Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt2235372/?ref_=nv_sr_srsg_0

https://www.imdb.com/name/nm1395771/?ref_=tt_cl_t_1

https://en.wikipedia.org/wiki/Edmund_Burke#%22When_good_men_do_nothing%22

 

 

 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

BOA NOITE, MAMÃE

           É muito difícil inovar quando se trata de filmes de terror e suspense, mas, de uma forma para lá de estranha, ‘Boa Noite, Mamãe’ (Goodnight, Mommy; 2022), remake de um filme austríaco de horror de 2014, consegue.

        Dirigido por Matt Sobel, com base no roteiro de Kyle Warren, a trama gira em torno dos gêmeos Elias (Cameron Crovetti) e Lukas (Nicholas Crovetti) que são deixados pelo pai (Peter Hermann) na casa de campo da mãe (Naomi Watts), após terem passado um tempo afastados de sua progenitora.

No entanto, ela está diferente, pois, além de usar uma máscara cirúrgica que envolve todo o seu rosto, devido a um procedimento estético que realizou, também está mais arredia e bruta com os garotos, levando-os a conclusão “lógica” que de que se trata de uma impostora.

Aqui, o enredo poderia optar por uma das duas soluções: a mãe é realmente uma impostora ou tudo não passa de fruto da imaginação dos garotos. De certa forma, tal escolha acaba acontecendo e o espectador consegue prever exatamente o final antes de assisti-lo, pelo menos foi o que aconteceu comigo.

O irônico é que, apesar de todas as pistas espalhadas pela película, de modo a fazer o espectador adivinhar o seu desfecho, a trama é tão bem conduzida que se fica preso a ela, à espera de como vai se dar a grande revelação. E é essa a inovação que mencionei no princípio do texto: não uma grande reviravolta que vai deixar todos que assistirem em choque, mas como os personagens vão reagir a ela.  

E tudo só funciona pelas tremendas atuações de Naomi Watts e dos gêmeos Crovetti.

 


Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Goodnight_Mommy

https://www.imdb.com/title/tt9000184/

https://en.wikipedia.org/wiki/Goodnight_Mommy_(2022_film)

 

 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

JUSTICEIRAS

              Eu acreditava que já tinha visto de tudo a respeito de comédias adolescentes. Bem, eu estava enganado e não tenho vergonha de admitir. Vocês querem saber o porquê?

            O que aconteceria se alguém misturasse os filmes ‘As Patricinhas de Beverly Hills’ (Clueless, algo como Sem Noção em português, 1995), Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004) e... sem brincadeira, Pacto Sinistro (Strangers on a Train, Estranhos num Trem,1951), de Alfred Hitchcock (1899-1980)? Por incrível que pareça, o resultado é este filme, Justiceiras (Do Revenge, algo como Vingue-se ou Faça Vingança, 2022), dirigido por Jennifer Kaytin Robinson, que também assina o roteiro junto de Celeste Ballard, e estrelado por Camila Mendes (a Veronica de Riverdale) e Maya Hawke (a Robyn de Stanger Things e a filha dos atores Uma Thurman e Ethan Hawke).

            O enredo, aparentemente simples, é mais complexo do que parece, pegando emprestado elementos de cada um dos filmes, citados anteriormente, para contar uma trama de vingança adolescente. De Meninas Malvadas, temos o conceito de revanche contra a turma popular, que para tanto aplica a repaginada no visual aplicada por Cher (Alicia Silverstone) em Tai (Brittany Murphy, 1977-2009) em ‘As Patricinhas de Beverly Hills’, que transforma um patinho feio num cisne. Para terminar, o toque de brilhantismo: o acordo de Drea (Camila Mendes) e Eleonor (Maya Hawke) de uma realizar a vingança da outra, tal qual em Pacto Sinistro.

            Tudo começa quando Max (Austin Abrams), o namorado de Drea, vaza um vídeo íntimo da garota, levando-a ser excluída da galera popular. Daí, durante as férias de verão, Drea conhece Eleonor, num acampamento de tênis, e descobre que a última vai começar a estudar na mesma escola que ela, Rosehill. E coincidentemente, Eleonor também têm motivos para se vingar de uma estudante do lugar, chamada Carissa (Ava Capri), que a rejeitou e humilhou por ser lésbica, além de ter espalhado o boato que Eleonor tentou beijá-la a força, transformando-a numa pária social.

            Está armado o palco para todo o drama adolescente. Enquanto tramam as suas vinganças, Drea e Eleonor se aproximam, formando uma inusitada amizade. Tudo parece muito óbvio até aqui, mas aí que as coisas se complicam e uma surpreendente reviravolta muda tudo. Qual? Eu não vou dizer, vocês terão de assistir ao filme para descobrir.



Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt13327038/

https://www.imdb.com/title/tt0112697/?ref_=nv_sr_srsg_0

https://www.imdb.com/title/tt0377092/?ref_=nv_sr_srsg_0

https://www.imdb.com/title/tt0044079/?ref_=nv_sr_srsg_0

https://www.imdb.com/name/nm0000033/?ref_=tt_ov_dr

https://www.imdb.com/name/nm6161516/?ref_=tt_ov_st

https://www.imdb.com/name/nm0005261/?ref_=tt_cl_t_3

 

 

 

 

sábado, 14 de janeiro de 2023

PINÓQUIO

       A nova versão do filme Pinóquio, de 2022, comandada por Robert Zemeckis, é alegre divertida, cheia de cor e vida.

          Assim como o desenho de 1940, a história aqui é praticamente a mesma, com apenas alguns acréscimos de personagens, como Sofia (Lorraine Bracco), a gaivota, Fabiana (Kyanne Lamaya), a marionetista deficiente, e Sabina (Jaquita Ta'le), sua boneca bailarina.

          Mas não se preocupe que todos os personagens antigos ainda estão lá: um carismático Gepetto, interpretado de maneira sensacional por Tom Hanks, a Fada Azul (Cynthia Erivo), o Grilo Falante (Joseph Gordon-Levitt), João Honesto (Keegan-Michael Key), o gato Fígaro e, é claro, Pinóquio (Benjamin Evan Ainsworth), ainda que a computação gráfica desse último deixe um pouco a desejar, não sendo tão realista quanto as dos demais personagens (realista para um boneco, digo).

      E por falar em Gepetto, a sua backstory é expandida nessa segunda versão. Aqui ele é um viúvo que também perdeu o seu único filho, o que explica tanto a sua solidão quanto a motivação de seu pedido a estrela cadente, posteriormente atendido pela Fada Azul.

       Os cenários e os efeitos visuais são fantásticos e as músicas contagiantes, mas no fim das contas o que vende o filme é a nostalgia, pelo menos para os adultos, que veem as suas infâncias ganharem vida de uma forma totalmente nova.

        Carlo Collodi (1826-1890), o autor do conto de fadas que inspirou ambas as versões disneynianas, não poderia estar mais orgulhoso de suas criações, se aqui estivesse para ver a grandiosidade que alcançaram, apesar de algumas mudanças no enredo devido ao que, agora, é politicamente correto.



Nota: disponível no Disney Plus 

Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt4593060/

https://www.imdb.com/name/nm0172830/?ref_=tt_cl_wr_3

 

  

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

ALÉM DO ARCO-ÍRIS

           Ao me preparar para escrever estas linhas, deparei-me com uma declaração de Lorna Luft, uma das filhas de Judy Garland, afirmando que sua mãe não era uma figura trágica.

            Concordo plenamente. Trágico é o que fizerem com ela, pelo menos é o que eu não pude deixar de perceber ao assistir ao filme Judy: Muito Além do Arco-Íris.

            Dirigido por Rupert Goold e estrelando Renée Zellweger como Garland, a trama mescla os momentos do início da carreira de Judy (aqui interpretada por Darci Shaw) com os acontecimentos de sua última turnê em Londres, seis meses antes de sua morte.

            É um filme denso, que mostra com total crueza e realismo os bastidores da fama, o que era ser uma jovem estrela nos anos trinta e os efeitos que isso causou a Garland.

            O tipo de abuso psicológico pelo qual ela passou ao longo de sua adolescência, para se firmar como estrela, ecoaram até o seu trágico e precoce fim, aos 47 anos, devido a uma overdose acidental.

            Toda a pressão para permanecer magra e bonita, os comprimidos que passou a tomar para tanto e para dormir, devido a ansiedade que a acometia ao tentar atender os altos padrões que os estúdios esperavam dela, transformaram-na numa adulta que se sentia patética quando não estava sob os holofotes ou sob o efeito de álcool e narcóticos.

            O pior de tudo é que ela amava e odiava os palcos, pois ao mesmo tempo que atuar e cantar eram seus maiores dons e paixões, também tornaram-se os seus maiores medos, pela simples ideia de não conseguir entregar o seu melhor, o que era “esperado” dela.

            Todas essas nuances podem ser percebidas na atuação de Zellweger, que conseguiu transmitir com perfeição a sensação de estar perdida e não saber quem era, tal qual Garland aparentava se sentir, por ter passado tanto tempo projetando a imagem que os estúdios gostariam que ela passasse.

            Não é para menos que Renée Zellweger consagrou-se como a grande vencedora do Oscar de Melhor Atriz, em 2020, por sua participação neste filme.

 


 

Fontes: 

https://en.wikipedia.org/wiki/Judy_Garland

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Judy

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

KING RICHARD

             Todo mundo conhece o final desta história. É sério. Afinal, quem nunca ouviu falar das irmãs Vênus e Serena Williams, duas das maiores tenistas de todos os tempos?

            Mas o foco da trama aqui é outro: Richard Williams (Will Smith), o pai da dupla, que desde cedo planejou cada passo da carreira das filhas para que ambas alcançassem o máximo sucesso.

        O filme de 2021, dirigido por Reinaldo Marcus Green, cuja fotografia remete a filmagem de vídeos em fitas VHS, é bom, assim como o seu elenco e suas respectivas atuações, tanto que Will Smith conquistou o Oscar de Melhor Ator por sua interpretação no mesmo, apesar do seu envolvimento na polêmica do tapa em Chris Rock, durante a premiação da Academia, em Março de 2022, situação que dividiu opiniões... (mas essa é outra história).

          Um dos grandes problemas aqui é outro: até que ponto o enredo, apresentado no longa, é fiel à realidade? O que é ficção ou dramatização, por assim, dizer? Como exemplo, pegue a cena em que Richard quase mata um membro de gangue que estava assediando uma de suas filhas mais velhas, Tunde (Mikayla Lashae Bartholomew). Ele só não o faz porque o sujeito é morto a tiros primeiro, bem na sua frente, num clichê recorrente no cinema, no qual um homem bom, devido a circunstâncias adversas, quase cai na tentação de fazer algo ruim.

         Outro fator incômodo é o quanto Richard mapeou e determinou a carreira das filhas. De acordo com o filme, ele chegou a escrever um plano para cada uma, antes mesmo delas nascerem, de forma a moldá-las em campeãs.

         Obviamente, elas obtiveram sucesso, mas fica a dúvida: foi por escolha, pelo amor ao esporte ou por não conhecerem outra realidade que não a das quadras? Não me entendam mal, elas poderiam até gostar de jogar tênis, mas também ter outras ambições ou aspirações que não a carreira de tenistas profissionais.

           O controle de Richard é tão extremo que ele decide que Vênus vai deixar de jogar em torneios juvenis até que se torne profissional, para que ela possa ser criança, aproveitar a sua infância, atitude louvável, mas àquela altura difícil de manter, pois o patriarca não contava que o seu plano estivesse dando tão certo e fosse ficar cada vez mais difícil manter o gênio dentro da lâmpada, por assim dizer, tamanha é a garra de campeã de Vênus.

           Situação essa que leva a mais intensa e brilhante cena de toda película, o confronto de Richard com sua esposa Oracene (Aunjanue Ellis), na cozinha da casa do casal na Flórida, na qual a matriarca praticamente tem de forçar o marido a ver os efeitos colaterais de sua teimosia nas próprias filhas.

            É aí que começa o arco de redenção do personagem, se é que se pode chamar tal estrutura assim, por se tratar de uma pessoa real. Enfim, o patriarca começa a mudar, afrouxando um pouco a rédea curta na qual mantinha as filhas, passando a dar mais espaço para que tomem suas próprias decisões e apoiando as mesmas, entendendo que boa parte do seu trabalho está feito. Ele já encaminhou Vênus e Serena em suas jornadas, cabendo a elas darem os próximos passos até os seus grandiosos destinos.


 

No mais, desejo um Feliz Ano Novo a todos!


Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt9620288/

 

 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

DESCASCANDO A CEBOLA DE VIDRO

              Para quem ama romances policiais como eu, Glass Onion: a Knives Out Mystery (Cebola de Vidro: Um Mistério Entre Facas e Segredos, 2022), escrito e dirigido por Rian Johnson, é um prato cheio de diversão. Todos os clichês do gênero estão lá e, incrivelmente, isso não é uma coisa ruim, já que Johnson consegue subverter as expectativas dos seus espectadores.

            A trama, cujo título é uma referência a uma canção dos Beatles, assim como o de seu antecessor (Knives Out, algo como ‘Com as Facas de Fora’) é uma canção do Radiohead, tem como base a viagem de um grupo de amigos até uma ilha particular para passar um fim de semana junto de seu anfitrião, Miles Bron (Edward Norton), um milionário da tecnologia ao melhor estilo Elon Musk, que preparou uma festa temática de ‘mistério de assassinato’, cujos convidados terão como principal fonte de entretenimento descobrir quem ‘matou’ o guru da tecnologia.

          Curiosamente, entre os convidados para o evento está o grande detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), o que faz a festa tomar um rumo inesperado, quando a brincadeira deixa de ser um jogo e torna-se real.

            Apesar de ter conseguido descobrir o culpado, adorei o filme. Tem um ar semelhante ao livro ‘E não Sobrou Nenhum...’ (anteriormente titulado ‘O Caso dos Dez Negrinhos’, mas alterado para evitar conotações racistas) de Agatha Christie, cuja premissa é basicamente a mesma: um grupo de convidados chega a uma ilha deserta na qual crimes começam a acontecer, sendo que, na obra da Rainha do Crime, os convidados vão morrendo um a um, o que não ocorre no enredo de Johnson.

            No entanto, a trama do longa é uma grande homenagem aos romances de Christie. Aliás, a franquia toda é. A começar com o seu personagem principal, Benoit Blanc, uma versão do século XXI de Hercule Poirot, famoso detetive belga protagonista de 33 romances da Dama do Crime, que como Blanc, também é cheio de excentricidades. A performance de Craig é sublime, dando vida a um personagem extremamente divertido que não só sabe que é a pessoa mais inteligente em um recinto como também não tem o menor pudor de dizê-lo (outra semelhança com Poirot).

            Dave Bautista também entrega uma atuação interessante e para lá de engraçada com o seu Duke Cody, um youtuber/influencer e ativista dos direitos masculinos (não teria como não ser hilário, né?). Kate Hudson não fica atrás com a sua interpretação de Birdie Jay, ex-supermodelo que é o epíteto da loira burra. Sim, são todos personagens clichês, mas que funcionam quando costurados juntos, talvez porque ninguém tenha tido a ideia (brilhante por sinal) de unir os novos estereótipos do século XXI, surgidos da sua revolução tecnológica, num filme de mistério e assassinato. 

 


 

Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Glass_Onion:_A_Knives_Out_Mystery

https://en.wikipedia.org/wiki/Agatha_Christie

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

ESPECIAL DE NATAL!

 

           Você já teve a sensação de ter assistido anteriormente a um filme quando na verdade, não viu? E não estou falando de remakes. Calma, não se preocupe que não estou ficando louco.

             Aliás, é algo bastante comum na sétima arte, por isso resolvi escrever este artigo. Nele, trato de dois longas, cujas premissas são essencialmente idênticas, a ponto de beirar o plágio.

            O primeiro deles é ‘Um Salto para a Felicidade’ (Overboard,1987, algo como Fora do Barco ou No Mar), dirigido por Gary Marshall e estrelado por Kurt Russell e sua esposa Goldie Hawn. O outro é ‘Uma Quedinha de Natal’ (Falling for Christmas, 2022, Caindo no Natal, numa tradução livre, lembrando que o verbo to fall também significa se apaixonar, além de cair, no sentido de fall in love, literalmente cair de amores), comandado pela diretora Janeen Damian e estrelado por Lindsay Lohan e Chord Overstreet.

Em ambos, o enredo gira em torno do seguinte: uma mulher rica se acidenta e perde a memória, indo morar com um viúvo que, no primeiro caso, tem uma penca de filhos e, no segundo, apenas uma filha. Outros aspectos que diferenciam as tramas são a temática natalina, presente no segundo, mas não no primeiro e, o motivo do viúvo acolher a rica desmemoriada. Em ‘Um Salto para a Felicidade’, o intuito é lhe ensinar uma lição, enquanto que em ‘Uma Quedinha de Natal’, é por compaixão. Basicamente, as diferenças terminam aí.


Mas você deve estar se perguntando porque eu vi o longa de 2022 se ele tanto se assemelha ao de 1987, mesmo não se tratando de um remake que, aliás, já foi realizado, sendo estrelado por Anna Faris, mudando apenas que agora é o homem rico que perde a memória. Bem, esta estranha coincidência foi uma das razões, quis ver até aonde as semelhanças iriam.

A outra foi Lindsay Lohan, atriz da qual sou fã desde que assisti sua performance como as gêmeas Hallie e Annie em Operação Cupido (The Parent Trap, 1998, Armadilha para os Pais, que aliás também se trata de um remake de um filme de 1961), mas que estava afastada das telas há três anos.

Mas as semelhanças apontadas entre os filmes não significam que sejam ruins, apenas demonstra a falta de originalidade em Hollywood na atualidade. Ambos os longas possuem pontos fortes. Em ‘Um Salto para a Felicidade’, a química entre Russel e Hawn é excelente, muito provavelmente por conta de seu relacionamento fora das telas. Kurt também entrega uma performance sarcástica e engraçada, a ponto de quase justificar o fato de seu personagem ter se aproveitado da amnésia da personagem interpretada por Goldie. Já em ‘Uma Quedinha de Natal’, o chamariz é a sua meiga protagonista (pelo menos depois de perder a memória), personagens cuja interpretação é a especialidade de Lindsay Lohan, que, apesar do hiato em sua carreira, entrega uma performance consistente, ainda que pouco além do arroz com feijão, devido as limitações do roteiro. 

No mais, desejo a todos um Feliz Natal!

 






NOTA: coloquei o trailer, em inglês, do filme 'Um Salto para a Felicidade', assim como dois outros clipes com a dublagem clássica da Hebert Richers. 

Fontes:

 

https://en.wikipedia.org/wiki/Overboard_(1987_film)

https://en.wikipedia.org/wiki/Falling_for_Christmas

https://en.wikipedia.org/wiki/Lindsay_Lohan

https://en.wikipedia.org/wiki/The_Parent_Trap_(1998_film)

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

BLONDE

 

         Não sei até que ponto o filme Blonde, da Netflix, de 2022, dirigido e adaptado por Andrew Dominik, com base no romance de mesmo nome de Joyce Carol Oates, é verdadeiro ou fruto de liberdade criativa. Muitas passagens são ligeiras distorções da realidade, como no caso da precoce morte de Charles Chaplin Jr. (Xavier Samuel), que só veio acontecer 6 anos após o falecimento de Marilyn Monroe (Ana de Armas), ou melhor, Norma Jeane, e não ao contrário, como indicado na película. Outras, como o abuso sexual (estupro) sofrido pela atriz, perpetrado pelo então Presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, são impossíveis de se confirmar. 

            Enfim, a trama é um estudo da personalidade de Norma Jeane, começando com as dificuldades que enfrentou em sua infância problemática, devido aos maus-tratos físicos e emocionais que sofreu de sua própria mãe, Gladys (Juliane Nicholson) e a ausência do pai, que nunca conheceu e cuja identidade só foi confirmada, através de um exame de DNA, como sendo Charles Stanley Gifford, 60 anos após a morte da estrela, agora em 2022. *

            O interessante são os motivos que levaram Norma a buscar o estrelato: o enorme desejo de ser realmente amada e provar a si mesma que merecia esse carinho. Mas nem tudo são flores em Hollywood. O enredo deixa claro que Marilyn Monroe nada mais era do que outra personagem interpretada por Norma Jeane e que a grande dificuldade de manter tal fachada, de ter de ser duas pessoas ao mesmo tempo, lhe era insuportável, pois no fundo a estrela era somente uma garotinha assustada, que buscava, em cada relacionamento amoroso que teve, o amor paterno que não chegou a conhecer. 

            Tudo é retratado pela técnica do fluxo de consciência, derivada da literatura, em cujo uso o expoente foi o livro Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Somos levados a sentir as emoções e pensamentos de Norma Jeane em momentos diversos de sua vida, ainda que em ordem cronológica. Para as cenas em cores, estamos assistindo a vida por trás das câmeras de Norma Jeane, a tranquilidade e estabilidade familiar que ela tanto buscava, enquanto nas tomadas em preto e branco, Marilyn assumia os holofotes, projetando a imagem do ícone ainda hoje lembrado por todos.

            Por fim, a interpretação da belíssima Ana de Armas é espetacular a ponto de ficar de olho, pois provavelmente abocanhará, além de inúmeras indicações, prêmios como o Globo e Oscar da Academia na categoria de Melhor Atriz.  


 

Fontes:

 https://www.imdb.com/title/tt1655389/

* https://veja.abril.com.br/cultura/pai-misterioso-de-marilyn-monroe-tem-identidade-revelada-em-novo-doc/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mrs_Dalloway

terça-feira, 29 de novembro de 2022

LOBISOMEM NA NOITE

          Para início de conversa, apesar de abordar um personagem da Marvel, ainda que pouco conhecido, ‘Lobisomem na Noite’ (Werewolf by Night, 2022) não é propriamente um filme, mas um especial de Halloween de quase uma hora de duração. Seria como um episódio, um pouco mais longo, de uma série de televisão.

            A premissa é interessante: um grupo de caçadores de monstros reúne-se para decidir, através de uma caçada, quem será o herdeiro de Ulysses Bloodstone, até então o maior dos caçadores, mas que infelizmente faleceu. O problema jaz na execução do especial dirigido por Michael Giacchino, com base num roteiro de Heather Quinn e Peter Cameron.

            A estética do especial, rodado em preto e branco, é interessante, uma bela homenagem aos filmes de monstros da Universal. No entanto, a fotografia, os cenários, os figurinos, a maquiagem e os efeitos especiais não dão conta de salvar uma trama apressada, que peca ao introduzir os seus personagens principais: Jack Russell (Gael García Bernal) e Elsa Bloodstone (Laura Donnelly), essa última filha e herdeira natural de Ulysses, mas que há muito abandonou o seu legado familiar.

            Talvez, por eu ter lido os quadrinhos do Lobisomem da Marvel, o meu olhar seja um tanto quanto enviesado, pois já sabia quem era o lobisomem de cara, como também que não se tratava do monstro a ser caçado, um outro personagem pouco conhecido da Marvel, bastante semelhante ao Monstro do Pântano da DC, tanto que ambos personagens debutaram no mesmo ano (1971), com a exceção de que o Homem-Coisa surgiu poucos meses antes.

            Enfim, vale como uma introdução do personagem Lobisomem ao Universo Cinematográfico Marvel e possui uma estética agradável, cuja cena final é uma brilhante referência ao final do filme ‘O Mágico de Oz’ (Wizard of Oz, 1939).

 

 

Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Werewolf_by_Night_(TV_special)

https://en.wikipedia.org/wiki/Man-Thing

https://en.wikipedia.org/wiki/Swamp_Thing

 

domingo, 20 de novembro de 2022

UM SANGUE NEM TÃO SAGRADO...

 

       Hollyblood (Netflix, 2022) é um filme complexo e isso não é necessariamente uma coisa boa, pois tenta ser, ao mesmo tempo, uma comédia romântica e um filme de terror, falhando em ambos os casos.

            Dirigida por Jesús Font, a trama começa com flashback de um trio de garotos fazendo bullying com Crespinho (Piero Mendez), que acidentalmente morre afogado numa piscina. O trio, então, é atacado por uma criatura misteriosa que, aparentemente, é um vampiro.

A criatura, sem a menor dó ou piedade, mata os garotos, mas por alguma razão, resolve reviver Crespinho, que se torna um vampiro também.

Agora, no presente, somos apresentados a Javi (Óscar Casas), o garoto novo na escola que está apaixonado por Sara (Isa Montalbán), uma moça com um curioso interesse pelo sobrenatural, principalmente, por vampiros, situação que será melhor explicada e desenvolvida mais adiante no filme, dando profundidade a única personagem com quem a audiência consegue se conectar, mesmo que, no fim, seja com base num clichê.

Voltando a Javi, o garoto resolve tirar vantagem do interesse de Sara por vampiros e se passar por um, de modo a impressioná-la e ganhar o seu coração. Afinal, o que poderia dar errado? Tirando o fato do garoto ter se passado por uma garota antes, numa sala de bate-papo, para conhecer melhor a amada e ter um maior conhecimento dos interesses dela...

Bom, para quem não sabe, isso se chama “catfishing” e é crime de falsidade ideológica, o que destrói por completo qualquer noção de romance, por mais inofensivas que as intenções de Javi fossem...

Para completar, Crespinho reaparece e desmascara Javi e é aí que a coisa começa realmente desandar, pois o enredo se transforma numa trama de caça-vampiros com uma solução Deus Ex- Machina para lá de forçada. No entanto, devo admitir que a pessoa por trás da transformação de Crespinho e vilã de toda trama, quando revelada, surpreendeu-me um pouco... 


 

 

 

Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt14210720/

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

VIZINHOS

 

              Pense na premissa mais implausível para um filme. Pensou? Pois é a desse: Walter (Leandro Hassum), um quadrado funcionário de uma loja de instrumentos musicais, tem um piripaque devido ao excesso de barulho decorrente de sua profissão e é levado às pressas ao hospital, onde descobre que seus nervos podem, literalmente, explodir por causa de qualquer som mais elevado (o que deveria tê-lo levado ao óbito nos primeiros dez minutos de filme...)

            A solução recomendada pela doutora e adotada por Walter e sua esposa Joana (Júlia Rabello) é mudarem-se para uma casa de campo na serra. Mas o sossego dura pouco quando Toninho (Maurício Manfrini) e família retornam de viagem justo para casa do lado, fazendo o maior estardalhaço. Acontece que Toninho é mestre de bateria de uma escola de samba e as festas e ensaios em sua casa são frequentes, para o desespero total do casal ao lado.

            A trama e o roteiro, como um todo, são para lá de previsíveis, a ponto do telespectador conseguir adivinhar o que acontecerá em seguida sem esforço algum, como no caso da cena dos policiais e do envolvimento amoroso, ao melhor estilo Romeu e Julieta, dos filhos dos vizinhos rivais. Bem, pelo menos da parte de Walter, que se incomoda muito com a ideia de que a filha Camila (Julia Foti) esteja namorando Arthur (Lucas Leto), ainda mais com as infindáveis piadas de Toninho sobre o seu filho estar “traçando” a filha do rival.

            As atuações de Hassum e Manfrini são tão caricatas, em pelo menos três quartos do filme, que chega a incomodar bastante. O que realmente salva a película é a presença de Júlia Rabello, pois a sua interpretação é, ao mesmo tempo, natural, convincente e engraçada, sem maneirismos exagerados e, muito provavelmente, reflexo de sua passagem pelo Portas dos Fundos, cujo um dos vídeos mais famosos é estrelado justamente por ela (Sobre a Mesa) e é referenciado/reverenciado numa cena de jantar em família.

            As coisas só vão melhorar lá pelo último quarto do filme, quando ao invés de atuar como antagonistas, os personagens de Hassum e Manfrini acabam por desenvolver uma inusitada parceria que acaba por ascender um ótimo timing cômico entre a dupla, pena que desperdiçado no restante da película.

 


Fontes:

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Vizinhos_(filme_de_2022)

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

ADÃO NEGRO

 

            Por uma série de razões, este artigo é muito especial para mim . Bem, vamos a elas. A primeira delas é o meu retorno a uma sala de cinema depois de muito tempo, desde antes do começo da pandemia. E não há nada mais mágico do que as luzes de uma sala de cinema apagando-se, quando o filme está prestes a começar. É um misto de expectativa e desejo por aventura, pois nunca se sabe o que a tela grande vai nos proporcionar.

            A segunda razão é o meu imensurável amor por quadrinhos, que cultivo desde a infância, o que nos leva a última, mas não menos importante razão, a nostalgia. Pude lembrar-me claramente de um menino de oito anos que, em Maio de 2002, esperava ansiosamente, na fila, para ver o seu herói favorito, um certo escalador de paredes, ganhar as telas pela primeira vez.

            Mas o Cabeça de Teia não é o foco aqui e, sim um obscuro personagem (e não por causa de sua alcunha) da Distinta Concorrência: o Adão Negro. Deixe-me explicar melhor. Para início de conversa, o personagem em questão surgiu como um vilão do Capitão Marvel original (o agora chamado Shazam, mas que anteriormente foi o primeiro a ter tal título até que a DC Comics, atual detentora dos direitos do mesmo, achá-lo muito similar ao seu principal medalhão, o Superman, e resolver processar a Fawcett, editora que publicava as aventuras do herói, fazendo com que o Capitão ficasse no limbo editorial por décadas, o que levou a  editora Marvel, já em meados dos anos 60, a criar um herói com o mesmo nome para poder registrar os direitos da marca, do qual aliás, Carol Danvers era só coadjuvante, tendo levado décadas para ganhar a posição destaque que merece e conquistou a tanto custo. Enfim, por ironia do destino a DC acabou adquirindo os direitos de toda a Família Marvel no início dos anos 70 e não mais podia usar o título de Capitão Marvel nas capas de suas revistas) na revista Família Marvel 1, de Dezembro de 1945, ficando décadas sem aparecer depois disso, não só por causa de toda questão processual acima mencionada, mas também por ser o tipo de vilão que morria no final de sua primeira aparição nas páginas dos quadrinhos.

            Depois dessa longa e complicada explicação (a qual espero que todos tenham entendido, pois é tudo bastante confuso mesmo...), vamos ao filme. Dirigido por Jaume Collet-Serra, com base no roteiro de Adam Sztykiel, Rory Haines e Sohrab Noshirvani, a história se passa 2600 anos antes da Era comum, na nação fictícia do Kahndaq, na qual um jovem escravo ousa se rebelar contra o tirano rei Anh-Kot, sendo condenado à morte por tanto, mas os Magos da Rocha da Eternidade (aquela mesma na qual Billy Batson ganha os seus poderes) o salvam e lhe concedem incríveis habilidades, desde que o garoto diga a palavra mágica (shazam). Assim, surge o Adão Negro (Dwayne Johnson), que impede que o cruel monarca utilize a recém completada coroa de Sabbac.

            Já no presente, o Adão Negro não passa de uma lenda em seu país natal, agora dominado pela Intergangue, cujo objetivo é encontrar a dita coroa. Mas eles encontram na professora universitária Adriana (Sarah Shahi) uma pedra no sapato, que acaba acidentalmente libertando o Adão Negro de sua tumba, onde também estava escondida a coroa demoníaca.

            O ressurgimento do Adão Negro chama a atenção de Amanda Waller (Viola Davis) que contata a Sociedade da Justiça, formada pelo Gavião Negro (Aldis Hodge), Doutor Destino (Pierce Brosnan) e os dois novatos, Ciclone (Quintessa Swindell) e Esmaga-Átomo (Noah Centineo), para lidar com a situação, pondo a equipe super-heróica em rota de colisão com o anti-herói kahndaquiano.  

            Mais do que isso não posso revelar, pois seria entregar por demasia o enredo. O importante é que saibam que a ação é frenética, sendo o foco de todo o longa, esse basicamente movido a efeitos especiais, sem muito espaço para o desenvolvimento de personagens, com a exceção óbvia do Adão Negro, cujos passado e dores são aprofundados. Você também vai rir um pouco, como também se divertir, mas não é um filme inesquecível, somente mais um blockbuster caça-níquel.

            Talvez por isso, quando em relação aos quadrinhos, eu tenha me atido aos gibis, deixando de lado os filmes super-heróicos já há algum tempo. 

NOTA: SPOILERS NO TRAILER! Procurei, mas não encontrei uma versão sem spoilers, então quem AINDA não assistiu o filme, CUIDADO!


Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Homem-Aranha_(filme)

https://en.wikipedia.org/wiki/Black_Adam#DC_Comics

https://en.wikipedia.org/wiki/Black_Adam_(film)

sábado, 15 de outubro de 2022

ELVIS


          Como todo filme de Baz Luhrmann, diretor de películas como 'Moulin Rouge' e 'O Grande Gatsby', 'Elvis' é um filme glamoroso, cheio de cor, brilho, vida e até mesmo um certo grau de megalomania, mas de certa forma funciona.

            O roteiro não é lá essas coisas, apressando e compactando muitos dos momentos marcantes da trajetória do Rei do Rock. O que salva mesmo o filme, além de um bom enredo (a vida de Elvis Presley), são as atuações de Austin Butler, como o personagem título, e de Tom Hanks como o seu empresário, o “Coronel” Tom Parker. Aliás, é muito difícil que Hanks entregue uma performance ruim, o que de fato não acontece aqui. Sua caracterização e maquiagem estão impecáveis, só é um tanto estranha a escolha de narrar a história de Elvis através dos olhos, ou melhor, perspectiva, do dito “Coronel”.

         Quanto a Butler, admito ter torcido o nariz quando soube de sua escalação para o papel principal, mas ele me surpreendeu, superando todas as minhas expectativas. Junto da caracterização, o ator entrega uma performance realista, roubando a cena em vários momentos, apesar das já apontadas limitações do roteiro.

            Por fim, é digna de nota a atuação de Olivia DeJonge que, mesmo com o seu pouco tempo de tela, consegue comover com sua atuação e fazer parecer que o relacionamento entre o Elvis e a Priscilla da tela grande era mesmo real.

 


 

Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Elvis_(filme_de_2022)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Baz_Luhrmann

ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

  Luciano Carrierri  é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei ...