Luciano Carrierri é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei um pouco com ele sobre essa paixão e como a narrativa é importante em tais jogos.
- Olá, Luciano. Como vai?
R: Tudo tranquilo Igor, e com você?
- Tudo
bem também! Então, vamos começar o nosso bate-papo. Qual foi o seu
primeiro contato com os jogos de tabuleiro? Ele se deu na infância?
R: O primeiro contato, no Brasil, é sempre com
os jogos mais comuns: WAR, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, etc. No meu caso,
não foi diferente, quando criança jogava esses jogos, mas já percebia que tinha
algo errado ali, as partidas não acabavam, os jogos eram muito dependentes de
sorte e com pouca estratégia, portanto, bem frustrantes. Depois, descobri o
Scrabble, Combate, Imagem e Ação, Detetive, Scotland Yard e as coisas
melhoraram um pouco.
- Você joga tais jogos continuamente desde a
infância ou retomou o hábito já adulto?
R: Tive que parar, por causa de uma treta que
aconteceu no meu grupo de amigos, numa partida de Imagem e Ação. Fiquei mais de
10 anos sem jogar.
- Caso tenha voltado a jogar depois de
adulto, o que motivou essa decisão? Como voltou ao tabuleiro, por assim
dizer?
R: Ouvi um Nerdcast uma vez sobre jogos de
tabuleiro, onde falaram sobre Zombicide e outros jogos, fiquei interessado. Fui
tentar comprá-los, mas eram muito caros. Passou um tempo, a ideia foi
amadurecendo e resolvi pedir um de aniversário. Fui na Leitura do BH Shopping e
comprei um 7 Wonders, levado pela quantidade de prêmios que o jogo havia
ganhado (esses prêmios vêm escritos na caixa). Levei o jogo para umas férias em
família, passei 3 dias lendo o manual com muita atenção e chamei todo mundo para
jogar. O pessoal quase perdeu a paciência com a explicação das regras, mas
quando começou a partida, cabeças explodiram e jogamos três partidas seguidas.
- Quais foram os primeiros jogos desse seu
triunfal retorno ao tabuleiro?
R: O primeiro, como já dito, foi o 7 Wonders, um
draft de cartas fantástico. Depois
veio o Zombicide, um jogo de matar zumbis, cheio de miniaturas, muito
divertido, que faz um sucesso imenso até hoje. Por último, nessa primeira fase
da volta, o The Godfather (O Poderoso Chefão), cuja a mecânica é alocação de trabalhadores,
portanto um pouco mais estratégico, que serviu como transição para jogos mais
pesados.
- Por ser uma atividade em grupo, como você
encontrou uma turma que partilhava de interesses similares?
R: Existe um site que se chama Ludopedia, onde
você consegue cadastrar jogos (sua coleção), partidas e outras várias funções,
inclusive grupos. Nesta última, vi que dava para procurar por cidades. Achei 3
grupos em Conselheiro Lafaiete e entrei em contato. Um deles, por coincidência,
era no meu bairro, e me respondeu que eles jogavam todo final de semana, aí deu
pra começar a jogar bastante.
- Creio que deva ser um ambiente propício
para desenvolver novas amizades. Como se deu isso para você?
R: Sim, apesar dos jogos de tabuleiro modernos
serem um hobby muito de nicho, conseguimos reunir num grupo de WhatsApp quase
50 pessoas em minha cidade, Lafaiete. Todos muito amigos, receptivos e bastante
dedicados. E essas amizades já foram para além do hobby.
- Quais as principais diferenças dos jogos de
tabuleiro para os vídeos-games? O que leva os primeiros, às vezes, serem
mais atraentes para a turma do tabuleiro?
R: Eu costumo dizer que os videogames são um
entretenimento passivo, onde tudo é jogado para você na tela. Já os jogos de
tabuleiro têm uma experiência ativa, social e, principalmente, tátil, que eu
considero muito mais interessante e mentalmente estimulante. O pessoal dos
tabuleiros prefere os videogames para experiências solo (jogando sozinhos).
Quando há possibilidade de uma experiência mais social, vamos para o tabuleiro.
Eu, facilmente abro mão do videogame, por uma partida de tabuleiro.
- Qual o papel das histórias, das narrativas,
no mundo dos jogos de tabuleiro?
R: As narrativas são mais ligadas ao RPG, que
nos jogos de tabuleiro são trazidas por jogos de um estilo chamado Ameritrash, que transpõem muito bem essa
experiência.
- Quais são os principais tipos de jogos de
tabuleiro e suas características?
R: São muitos, não dá para transcrever todos
aqui, porque, para você ter uma ideia, existem livros inteiros classificando
esses estilos. Mas, muito resumidamente, podemos colocar aqui party games, também chamados de jogos
festivos ou de jogar com muitas pessoas, bons para trazer pessoas para o hobby;
ameritrashes jogos mais temáticos,
bonitos e com miniaturas, que, como eu já disse, são mais ligados à uma
narrativa; card games, aqui se
inserem todos os jogos de cartas; e os euro
games jogos mais estratégicos e pouco dependente de sorte.
- Como a narrativa afeta cada um desses
gêneros?
R: A narrativa afeta, na maioria das vezes, os ameritrashes. Esses jogos, geralmente,
se desenvolvem em um mapa modular (tabuleiros que podem ser montados em várias
combinações diferentes), onde as miniaturas vão andando e procurando itens,
seja para melhorar o próprio personagem, seja para cumprir um objetivo de missão.
Essa missão geralmente está ligada a um objetivo maior, estabelecido na
campanha. Para fazer um paralelo, imagine um filme de aventura, como ”Senhor
dos Anéis” ou um filme de suspense, como ”Alien, o 8º Passageiro”. Como é
difícil resumir, uma dica é assistir vídeos no YouTube. Procurem por Mansions
of Madness, Senhor dos Anéis: Jornadas na Terra Média e Nemesis. Em todas as
buscas inclua as palavras “board game”.
- Qual o seu jogo de tabuleiro favorito?
R: Brass, um jogo econômico, bom para quebrar bastante
a cabeça.
- Você poderia compartilhar uma memória de um
momento engraçado, divertido ou interessante que transcorreu durante uma
partida de algum jogo?
R: Momentos engraçados são difíceis de contar porque só tem graça para quem estava na hora, mas uma boa lembrança é a reunião
de todo grupo em cinco mesas, na minha casa, para jogarmos o dia inteiro e ao
final comermos pizza, feita no forno à lenha.
- Por fim, que conselho você daria para quem
quer começar a jogar?
R: Procure vídeos que indiquem jogos para
começar a coleção. Defina o perfil de jogador com quem irá jogar. Por exemplo:
pessoas com paciência para ouvir regras ou não; pessoas que já gostam de jogos
de tabuleiro, etc. Comece por jogos mais leves, mas que, ao mesmo tempo, sejam
interessantes, como os vencedores do prêmio Spiel des Jares. Procure por grupos de
jogos na sua cidade, que sejam compatíveis com o tipo de jogo que você goste. Não
trapaceie nas partidas, isso acabará com a sua experiência e com a dos outros
e, naturalmente, os demais jogadores te excluirão do grupo sem você perceber.