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sexta-feira, 31 de março de 2023

ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

 Luciano Carrierri é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei um pouco com ele sobre essa paixão e como a narrativa é importante em tais jogos.

  1. Olá, Luciano. Como vai?

R: Tudo tranquilo Igor, e com você?

  1.  Tudo bem também! Então, vamos começar o nosso bate-papo. Qual foi o seu primeiro contato com os jogos de tabuleiro? Ele se deu na infância?

R: O primeiro contato, no Brasil, é sempre com os jogos mais comuns: WAR, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, etc. No meu caso, não foi diferente, quando criança jogava esses jogos, mas já percebia que tinha algo errado ali, as partidas não acabavam, os jogos eram muito dependentes de sorte e com pouca estratégia, portanto, bem frustrantes. Depois, descobri o Scrabble, Combate, Imagem e Ação, Detetive, Scotland Yard e as coisas melhoraram um pouco.

  1. Você joga tais jogos continuamente desde a infância ou retomou o hábito já adulto?

R: Tive que parar, por causa de uma treta que aconteceu no meu grupo de amigos, numa partida de Imagem e Ação. Fiquei mais de 10 anos sem jogar.

  1. Caso tenha voltado a jogar depois de adulto, o que motivou essa decisão? Como voltou ao tabuleiro, por assim dizer?

R: Ouvi um Nerdcast uma vez sobre jogos de tabuleiro, onde falaram sobre Zombicide e outros jogos, fiquei interessado. Fui tentar comprá-los, mas eram muito caros. Passou um tempo, a ideia foi amadurecendo e resolvi pedir um de aniversário. Fui na Leitura do BH Shopping e comprei um 7 Wonders, levado pela quantidade de prêmios que o jogo havia ganhado (esses prêmios vêm escritos na caixa). Levei o jogo para umas férias em família, passei 3 dias lendo o manual com muita atenção e chamei todo mundo para jogar. O pessoal quase perdeu a paciência com a explicação das regras, mas quando começou a partida, cabeças explodiram e jogamos três partidas seguidas.

  1. Quais foram os primeiros jogos desse seu triunfal retorno ao tabuleiro?

R: O primeiro, como já dito, foi o 7 Wonders, um draft de cartas fantástico. Depois veio o Zombicide, um jogo de matar zumbis, cheio de miniaturas, muito divertido, que faz um sucesso imenso até hoje. Por último, nessa primeira fase da volta, o The Godfather (O Poderoso Chefão), cuja a mecânica é alocação de trabalhadores, portanto um pouco mais estratégico, que serviu como transição para jogos mais pesados.

  1. Por ser uma atividade em grupo, como você encontrou uma turma que partilhava de interesses similares?

R: Existe um site que se chama Ludopedia, onde você consegue cadastrar jogos (sua coleção), partidas e outras várias funções, inclusive grupos. Nesta última, vi que dava para procurar por cidades. Achei 3 grupos em Conselheiro Lafaiete e entrei em contato. Um deles, por coincidência, era no meu bairro, e me respondeu que eles jogavam todo final de semana, aí deu pra começar a jogar bastante.

  1. Creio que deva ser um ambiente propício para desenvolver novas amizades. Como se deu isso para você?

R: Sim, apesar dos jogos de tabuleiro modernos serem um hobby muito de nicho, conseguimos reunir num grupo de WhatsApp quase 50 pessoas em minha cidade, Lafaiete. Todos muito amigos, receptivos e bastante dedicados. E essas amizades já foram para além do hobby.

  1. Quais as principais diferenças dos jogos de tabuleiro para os vídeos-games? O que leva os primeiros, às vezes, serem mais atraentes para a turma do tabuleiro?

R: Eu costumo dizer que os videogames são um entretenimento passivo, onde tudo é jogado para você na tela. Já os jogos de tabuleiro têm uma experiência ativa, social e, principalmente, tátil, que eu considero muito mais interessante e mentalmente estimulante. O pessoal dos tabuleiros prefere os videogames para experiências solo (jogando sozinhos). Quando há possibilidade de uma experiência mais social, vamos para o tabuleiro. Eu, facilmente abro mão do videogame, por uma partida de tabuleiro.

  1. Qual o papel das histórias, das narrativas, no mundo dos jogos de tabuleiro?

R: As narrativas são mais ligadas ao RPG, que nos jogos de tabuleiro são trazidas por jogos de um estilo chamado Ameritrash, que transpõem muito bem essa experiência.

  1. Quais são os principais tipos de jogos de tabuleiro e suas características?

R: São muitos, não dá para transcrever todos aqui, porque, para você ter uma ideia, existem livros inteiros classificando esses estilos. Mas, muito resumidamente, podemos colocar aqui party games, também chamados de jogos festivos ou de jogar com muitas pessoas, bons para trazer pessoas para o hobby; ameritrashes jogos mais temáticos, bonitos e com miniaturas, que, como eu já disse, são mais ligados à uma narrativa; card games, aqui se inserem todos os jogos de cartas; e os euro games jogos mais estratégicos e pouco dependente de sorte.

  1. Como a narrativa afeta cada um desses gêneros?

R: A narrativa afeta, na maioria das vezes, os ameritrashes. Esses jogos, geralmente, se desenvolvem em um mapa modular (tabuleiros que podem ser montados em várias combinações diferentes), onde as miniaturas vão andando e procurando itens, seja para melhorar o próprio personagem, seja para cumprir um objetivo de missão. Essa missão geralmente está ligada a um objetivo maior, estabelecido na campanha. Para fazer um paralelo, imagine um filme de aventura, como ”Senhor dos Anéis” ou um filme de suspense, como ”Alien, o 8º Passageiro”. Como é difícil resumir, uma dica é assistir vídeos no YouTube. Procurem por Mansions of Madness, Senhor dos Anéis: Jornadas na Terra Média e Nemesis. Em todas as buscas inclua as palavras “board game”.

  1. Qual o seu jogo de tabuleiro favorito?

R: Brass, um jogo econômico, bom para quebrar bastante a cabeça.

  1. Você poderia compartilhar uma memória de um momento engraçado, divertido ou interessante que transcorreu durante uma partida de algum jogo?

R: Momentos engraçados são difíceis de contar porque só tem graça para quem estava na hora, mas uma boa lembrança é a reunião de todo grupo em cinco mesas, na minha casa, para jogarmos o dia inteiro e ao final comermos pizza, feita no forno à lenha.

  1. Por fim, que conselho você daria para quem quer começar a jogar?

      R: Procure vídeos que indiquem jogos para começar a coleção. Defina o perfil de jogador com quem irá jogar. Por exemplo: pessoas com paciência para ouvir regras ou não; pessoas que já gostam de jogos de tabuleiro, etc. Comece por jogos mais leves, mas que, ao mesmo tempo, sejam interessantes, como os vencedores do prêmio Spiel des Jares. Procure por grupos de jogos na sua cidade, que sejam compatíveis com o tipo de jogo que você goste. Não trapaceie nas partidas, isso acabará com a sua experiência e com a dos outros e, naturalmente, os demais jogadores te excluirão do grupo sem você perceber.

 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

ENTREVISTA COM O FILÓSOFO E ESCRITOR MARCELO PEREIRA RODRIGUES

 O filósofo, escritor, palestrante, agente literário, editor da Revista Conhece-te há mais de duas décadas e articulista d´O Barrete, de Portugal, Marcelo Pereira Rodrigues, 48 anos, é uma personalidade criativa e inquieta. Vivendo de literatura no Brasil há mais de duas décadas, viu o seu trabalho chegar a diversos países tais Portugal, Espanha, Sérvia, México, Estados Unidos, Costa Rica, Guatemala, Índia, Bangladesh, Paquistão, Uzbequistão, Peru e se fôssemos listar aqui, a enumeração seria longa.

Uma de suas facetas é a de ser cinéfilo. Nesta entrevista onde conta muito de sua vitoriosa carreira, encontramos oportunidade para conversarmos sobre cinema. Embora refute a pecha de cinéfilo, escreveu cerca de duzentas resenhas e análises de películas para uma publicação em Portugal. Brincando, afirma que quase foi preso pela polícia aos 14 anos após ter assistido a um filme pornográfico. Sua paixão pela Sétima Arte se estende ao infinito, ainda mais agora que oferece seus roteiros a produtores mundo afora. Com desenvoltura e leveza, elenca os seus filmes favoritos, atores e atrizes e suspeita que teve um argumento plagiado em um filme que venceu o Oscar.

Curiosos? Leiam a entrevista na íntegra...

 

IC – Olá Marcelo. Como vai?

MPR – Olá Igor. Vou bem, obrigado por perguntar.

 

IC – Por que não começa nos falando um pouco sobre você?

MPR – Boa a sessão de psicanálise. Na verdade, não gosto muito de falar de mim. Ao longo dos tempos, consegui plataformas que expõem os meus trabalhos e fico satisfeito desta forma. Como sou escritor em tempo integral, possuo trabalhos como editor da Revista Conhece-te; como articulista de uma revista em Portugal, O Barrete; escrevo os livros e está tudo contido no meu site oficial; além disso faço os meus agenciamentos literários e dou palestras. Enfim, graças a este caudaloso trabalho me transformei em um Edson falando do Pelé. Se eu não fosse eu, admiraria muito o Marcelo Pereira Rodrigues. Mas como eu sou eu, fico encabulado de dizer quem eu sou. Esta parte confusa e existencial se deve à minha formação, Filosofia.

 

IC – O que o levou a cursar Filosofia?

MPR – Certamente por inaptidão a outras profissões tidas como importantes e que dão dinheiro. Sempre passei ao largo de status e direcionamentos de outros, nunca fui Maria vai com as outras. Já lia Filosofia bem antes de ingressar na UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rey) no longínquo ano de 1998. Cursar significa um caminho e o percorri com muitos estudos e investigações. Quando saí formado da instituição tinha uma base sólida e continuei estudando alguns clássicos, especializando-me em Friedrich Nietzsche e Jean-Paul Sartre, mas tudo numa busca pessoal interessante. Até hoje a disciplina me acompanha e herdei dela a forma de ver o mundo, mais contemplativo e sem pressa para aderir a modismos e ideologias partidárias tolas. Aliás, não adiro a nada, a não ser o sagrado compromisso de pensar com a minha própria cabeça.

 

IC – Como surgiu a Revista Conhece-te, da qual você é editor?

MPR – Surgiu meio que por acaso. Antes mesmo de ter me formado, ministrei um curso livre de Filosofia ao qual intitulei “Conhece-te a ti mesmo” (o slogan do templo de Delfos e ao qual Sócrates se aferrava). Bom, nestas turmas de 10, 12 alunos, começamos a discutir temas da nossa contemporaneidade à luz da Filosofia e surgiu em mim a ideia de publicar um informativo. Desta forma veio a público a 1ª edição deste periódico, uma folha apenas, frente e verso, com o pomposo nome de Informativo do Curso Livre de Filosofia Conhece-te a ti mesmo. Isso em março de 2001. No mês seguinte, apareceu a 2ª edição e mal sabia eu que 22 anos após, persistiríamos com 265 edições mensais impressas ininterruptas. Obviamente que ao longo dos tempos melhoramos bastante, fomos reduzindo o nome da publicação até chegarmos a este formato Revista Conhece-te. Engraçado que os cursos terminaram e a publicação continuou. Hoje a Revista Conhece-te é lida por gente do Brasil inteiro e chegou até ao exterior. Uma história de sucesso que pode ser consultada em www.revistaconhecete.com.br 

 

IC – O que o levou a se tornar escritor?

MPR – Sempre gostei muito de ler, desde criança. Nas aulas de Português, adorava o momento em que as professoras mandavam fazer Redação. O que poderia ser martírio para muitos, para mim era deleite. Desde criança gostava de compor histórias e confesso que era um baita mentiroso. Inventava situações e me encantava observar como adultos caiam nas minhas mentiras. Mas eram mentiras leves, bobas, fantasiosas. Quando estava na faculdade, não tinha em mente me tornar professor nem seguir carreira acadêmica. Encontrei na escrita vazão para a minha criatividade. Comecei a perceber em mim um estilo de escrever irônico e debochado, não que eu fizesse força. Tive algumas escaramuças na UFSJ por conta de minhas ideias publicadas em um mural chamado “Dus Campi Libre Novedad”. Tomei gosto pela coisa. Quando comecei a publicar a Revista Conhece-te e a colaborar para jornais do Brasil inteiro, percebi que tinha talento para a profissão. Meus textos provocativos passavam ao largo da indiferença, amealhando elogios e insultos. Sou indiferente a essas recepções ao meu trabalho. Daí a reunir crônicas e lançar os meus dois primeiros livros, “Muito Humano Demais” e “Nós” foi um pulo. Aliás, neste ano de 2023 faz 20 anos da publicação de “Nós”. Daí estreei no romance e a coisa engrenou. 15 livros depois e bastante repercussão no Brasil e no exterior fazem-me sentir bastante orgulho desta verdadeira saga, que pode ser consultada em www.marcelopereirarodrigues.com.br 

 

IC – Como foi o processo de publicação do seu primeiro livro?

MPR – O processo foi horroroso, traumático. Contou com uma confecção amadora, com tiragem de 500 (quinhentos) exemplares feitos em uma gráfica. A diagramação foi horrorosa, a correção ortográfica abaixo da crítica. Desgostei deste trabalho por um bom tempo. Até que em 2015 recebi uma proposta de uma boa editora do Rio de Janeiro para uma 2ª edição e aí a produção foi bem mais profissional. Aproveito esta sua pergunta para indicar a jovens escritores o auxílio de um profissional qualificado para produzir o seu respectivo livro. Atualmente sou sócio de uma agência literária que visa auxiliar a estes autores. É um desperdício jogarmos árvores no chão para produzirmos porcarias, não acha? Pelo menos esta minha primeira má experiência me serviu de lição: afaste-se de incompetentes e amadores e busque os melhores profissionais. É o que sempre indico a quem se aventura a escrever um livro.

 

IC – Como se deu o seu primeiro contato com o cinema?

MPR – O primeiro contato com o cinema foi assistindo a um filme pornográfico num cine que funcionava na Rua Marechal Floriano, no Clube Dom Pedro, em Conselheiro Lafaiete. Tinha 14 anos e os hormônios estavam soltando pelos poros. Conhecidos mais velhos fizeram ver ao homem da bilheteria que eu tinha 18 anos. No dia seguinte fiquei com medo de a polícia me prender, pois os meus vizinhos me alertaram que um policial estava atrás de mim. Pode isso?! Ainda bem que esmerei bastante o meu gosto. Frequentava o cinema na Rua Tavares de Melo anos depois e lembro-me de filmes que assisti ali, como “Eternamente Jovem”, “Perdas e Danos”, “Independency Day”, “Mulher Solteira Procura... alugar um apartamento pode ser fatal”, “O Retorno de um Estranho” (com Richard Gere), “Os Imperdoáveis” e outros. 

 

IC – Qual o papel do cinema na sua obra, no seu trabalho e na sua vida?

MPR – Como sou escritor de novelas, romances e ficções, acaba que fica muito próximo de um roteiro para filmes. Nestes últimos tempos tenho me aventurado a oferecer estes meus escritos a produtores do audiovisual. Tive um direito autoral comprado e estou no aguardo de ver no que vai dar. Assim, como não dissocio uma coisa de outra, trabalho-vida-obra, o cinema é fundamental, a válvula de escape que me faz viajar a outros mundos, assim como a arte nos permite, através da leitura de um excelente livro; visitarmos exposições em museus e ir a grandes shows musicais tais Guns N´Roses, Metallica e Kiss. Voltando ao cinema, é difícil uma semana onde não assista pelo menos a quatro filmes, a Sétima Arte não passa ao largo de minha percepção.

 

IC – Como a Sétima Arte se relaciona à Filosofia?

MPR – Do meu ponto de vista, através do aspecto multidisciplinar. Acredito que o bom filósofo e escritor deva ser uma verdadeira esponja para coisas boas: cinema, artes plásticas, música, teatro, pinturas, esculturas etc. Sou plástico na forma de me conduzir no mundo. Esse espectro cultural é fundamental para aplicarmos a filosofia e o juízo crítico em todas as áreas da nossa vida.   

 

IC – Qual o seu ator preferido? Por que?

MPR – Impossível responder a esta pergunta, pelo viés da singularidade. Irei me estender na pluralidade. Sabe estes atores que se doam para o trabalho e que parecem perderem a conexão com o mundo real? Amo esta entrega e admiro demais Daniel Day-Lewis, Heath Leager (falecido, enquanto terminou o seu papel como Coringa no filme “Batman, O Cavaleiro das Trevas”), Philip Seymour Hoffman (também falecido) e os lendários Jack Nicholson (do qual li até uma biografia), Clint Eastwood, Tom Hanks (formidável!), Christian Bale (outro que se doa ao ofício, emagrecendo ou engordando horrores), Joaquin Phoenix, Ricardo Darín (argentino), Morgan Freeman, Al Pacino, Leonardo DiCaprio, Michael Keaton, Daniel Craig, Woody Harrelson, Edward Norton (genial!) e Sylvester Stallone (só ele para ser tão bom e canastrão ao mesmo tempo). Sei que ao findar esta lista deixarei de fora outros excelentes.

 

IC – E atriz? Por que?

MPR – Talvez as feministas não irão gostar muito do que eu vou responder, mas admiro a beleza de verdadeiras divas tais Scarlett Johansson, Hillary Swank, Jodie Foster e outras. Nas interpretações admiro a Scarlett que consegue até a ousadia de ficar menos bela do que é, mas, analisando um pouco mais a fundo, percebo que mesmo Hollywood acaba dando mais protagonismo aos homens, não tenho dados específicos, trata-se de uma percepção. Brincaram que a Meryl Streep sempre é indicada ao Oscar de Melhor Atriz e não vence, azar do Oscar! Ela atua muito bem.

 

IC – Qual o seu filme favorito?

MPR – Mais uma vez, serei plural. Assisti com minha mãe e minha tia ao clássico “Doutor Jivago” e aquilo me marcou, mesmo que eu não entendesse patavina com os meus 10 anos. Mas fiquei petrificado ao assistir a “King Kong”, naquela versão de 1976, com a linda Jessica Lange. Na minha seleção entraria facilmente “Cinema Paradiso”, “A Vida É Bela”, “O Poderoso Chefão”, “O Povo Contra Larry Flint”, “Os Imperdoáveis” (com Clint Eastwood), “Titanic”, “Melhor É Impossível”, “Django” (do Quentin Tarantino), “Batman O Cavaleiro das Trevas”, “Meia-Noite em Paris”, “O Último Tango em Paris”, “1492 A Conquista do Paraíso” (o épico de Ridley Scott sobre a descoberta da América”, “O Lobo de Wall Street”, “Táxi Driver”, “Amadeus”, “Medianera” (argentino), “Parasita” (sul-coreano), “Sete Anos no Tibet”, todos os “Rambo” (sendo o II, “A Missão” o melhor) todos do Hitchcock e Woody Allen e se ficar aqui enumerando esta entrevista não acaba nunca. Quanto às nacionalidades, fora Hollywood onde os caras sabem fazer cinema, destacaria os argentinos, espanhóis, franceses, dinamarqueses e noruegueses.

 

IC – E você tem uma cena especial que lhe marcou? Não necessariamente ligada ao filme da questão anterior.

MPR – Tenho uma que está ligada ao meu trabalho e é bastante curiosa. Está contida numa entrevista que concedi ao programa “Iluminuras” da TV Justiça. Estava no cinema assistindo a “Birdman ou (A Inesperada Virtude Da Ignorância)” e uma cena lá me chamou a atenção. Quando o protagonista, interpretado pelo Michael Keaton fica preso de cueca do lado de fora do teatro e isso se transforma em um escândalo pela mídia sensacionalista e pela revolução que começou a acontecer naquele ano, 2014, quando uma pessoa com um smartphone podia gravar tudo e a privacidade acabava indo para o beleléu. Aquilo me marcou e depois senti (e verifiquei) que já havia escrito uma passagem no meu romance “Corda Sobre O Abismo”, lançado no ano anterior, que falava mais ou menos a mesma coisa. Essa similaridade de roteiros me deixou bastante feliz. Longe de mim aventar plágio do diretor, mas quando soube que o filme venceu o Oscar fiquei mais feliz ainda. No ano de 2015, quando “Corda Sobre O Abismo” foi publicado em Portugal, com uma tradução para o português de lá, inseri uma notinha esclarecendo a similaridade entre a minha ideia e o roteiro do filme. Brinquei atribuindo um subtítulo a esta versão portuguesa e assim o livro passou a se chamar “Corda Sobre O Abismo O Elogio Da Desesperança”. Dificilmente esta cena deixará de ser a minha especial, no dia em que encontrar o diretor de “Birdman”, Alejandro González Iñárritu, irei cobrar dele a minha comissão.          

domingo, 5 de fevereiro de 2023

ENTREVISTA COM PAULO ANTUNES

Estou aqui com Paulo Antunes que, além de professor universitário e amante da sétima arte, também é ator.

1.  Por que não começa nos falando um pouco sobre você, Paulo.

R: Grato pela oportunidade de participar desse blog. Sou lafaietense, professor universitário, escritor e ator. Aprecio muito viajar e assistir teatro e cinema. Na verdade, meu gasto com entretenimento é bem focado em arte, cultura. Sempre gostei de ler, escrever e atuar. E observar as pessoas, os fatos, as coisas... por isso também adoro fotografia. Por isso falo menos e ouço mais. Essa a forma que me garante mais tentar entender o mundo.

2.  Qual foi o seu primeiro contato com o cinema?

R: Meu contato com o cinema se deu nos cinemas de Lafaiete, desde muito cedo, quando pré-adolescente. Tínhamos aqui, no mínimo, 5 cinemas, sendo o maior e mais disputado o Cine Regina. Lá assisti a muitos filmes comerciais e de arte, além dos eróticos. Na época, a gente falsificava a data de nascimento nas carteirinhas de estudante, deixava o pouco de barba que tinha crescer para ludibriar o Juizado de Menores. Vivíamos sob um governo ditatorial que queria censurar tudo, mas que se esquecia de que quanto mais proibido, mais a gente gostava de fazer.

3.   E quando o cinema virou uma paixão?

R: A paixão pela Sétima Arte é desde sempre, como a pelo teatro e pelos os livros. Costumávamos já comprar ingressos no fim de semana anterior para o posterior. Uma forma de se conseguir lugar e não perder o filme da semana seguinte. O cinema virou paixão quando descobri os filmes exibidos fora do circuito comercial, os filmes de arte que também, ora e outra, passam na televisão. Me apaixonei pelos cineastas geniais da época: Bergman, Godard, Hitchcock, Fellini, Woody Allen, Truffaut, Kurosawa, Polanski, Walter Hugo Khoury, Glauber Rocha e outros, além de, é claro, Charles Chaplin, esse imortal que conseguiu espaço no Ocidente e no Oriente.  

4. Qual o seu filme favorito?

R: É difícil dizer que se tenha somente um filme favorito devido aos gêneros. Em qual gênero? Os filmes, assim como as peças teatrais e os livros, por se enquadrarem em espécies distintas, não há como se mensurar a preferência em relação a eles. Sei que me lembro com prazer dos filmes O Garoto, de Chaplin; Beleza American, de Sam Mendes; Eles Não Usam Black Tie, de Leon Hirszman etc. etc.

5. Existe alguma cena que te marcou muito? Não necessariamente relativa ao filme da questão anterior.

R: Tenho várias cenas marcantes em mente: em Eles Não Usa Black Tie, por exemplo, quando Fernanda Montenegro e outros atores participam de um enterro-passeata a favor de uma greve; Em Beleza Americana, a cena em que um personagem filma um saco plástico voando e vai narrando o que sente ao ver aquilo; em Nell, com Jodie Foster, as cenas em que ela, uma mulher “selvagem” se banha nua durante a noite num lago... Há muitas cenas que ultrapassam o ato da filmagem e viram poemas no nosso coração.

6. Qual o seu ator favorito? E por quê?

R: Também é difícil se falar de ator favorito devido às múltiplas possibilidades de tipos. Sempre amei Chaplin, Al Pacino, Robert de Niro, Jack Nicholson, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Rodrigo Santoro, Milhem Cortaz e outros muitos. Sempre me agradaram tais atores pela capacidade de exercerem o ofício com muita verdade, boa vontade, senso de responsabilidade e, óbvio, versatilidade.

7.  E atriz? Por quê?

R: Novamente a distinção atrapalha. Tenho adoração por Marília Pera, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Meryl Streep, Glenn Close, Sigourney Weaver, Judie Foster, Susan Sarandon etc. E aprecio essas atrizes pela versatilidade, a capacidade de encarnarem personagem bem distintos uns dos outros e delas próprias. Isso é fazer com amor e profissionalismo o ofício, a arte.

8.  Como percebeu que queria atuar?

R: Quando criança, veio à cidade um teatro itinerante chamado Grande Teatro Bibi. Era uma espécie de circo, só que apresentava peças teatrais. Eu já gostava de teatro, lia muito teatro e como eles tinham um grande repertório, assisti a muitas peças. Isso, para eu criança, era mais que doce, parque de diversão, pipoca: era algo me dizendo que eu havia me achado, que eu estava e sempre estive ali e, portanto, devia respirar, beber, cheirar, comer aquilo com toda força de minha dimensão biológica e emocional.

9.  E a sua relação com os palcos, como começou?

R: Comecei fazendo teatro na escola, no quintal de minha casa; sozinho, comigo próprio sendo ator e plateia, na penumbra de meu quarto me imaginando nesse ou aquele personagem que li, vi... Depois juntei o pessoal que percebi que gostava de teatro e fomos ganhar os palcos de Lafaiete e cidades circunvizinhas.

10. É verdade que você imita o Carlitos, de Chaplin? Como essa experiência começou?

R: Sempre gostei de imitar o personagem Carlitos, de Chaplin, afinal, ele embalou minha infância, adolescência, com seus filmes. Me identificava muito com ele, solitário, intenso, pacificador, mas, sobretudo, subversivo, deliciosamente subversivo. Adoro sair do quadrado, da bolha. Mas assumi mesmo o papel de mímico imitador de Chaplin durante uma apresentação numa gincana no Lafaiete Síder Clube. Foi um sucesso muito grande e tive de repetir a imitação em vários outros clubes, festas em escolas, aniversários... Depois de um tempo, passei a usar o personagem no carnaval e assim foi. Até hoje, quando me visto de Carlitos, ou Chaplin como a maioria diz, uso o mesmo terno surrado, o mesmo chapéu e a mesma bengala de mais de 30 anos atrás. Só o par de sapatos original perdi numa gincana em Piranga e a gravata num baile de carnaval. É muito legal, fico blindado quando me visto, volto no tempo, visto a vida com todas as suas cores, doces e sal. Deixo de ser eu próprio, sou mais intenso... e verdadeiro comigo próprio. Enfim, feliz.

 

 

domingo, 15 de janeiro de 2023

ENTREVISTA COM ANITA GALVÃO

Estou aqui com Anita Galvão, uma das fundadoras do grupo CineClássico do Facebook, e vamos conversar uma pouco sobre a sua paixão pelo cinema.

               1.    Oi, Anita. Como vai?

R: Oi. Estou bem e você?

2.    Também. Muito obrigado por perguntar. Para começar, por que não começa falando um pouco sobre você?

R: Sou advogada aposentada, viúva e com dois filhos adultos.

3.    Qual foi o seu primeiro contato com o cinema? Você se lembra?

R: Meu primeiro contato foi assistindo Branca de Neve e os Sete Anões, no cinema, e depois Bambi. Era muito pequena. Devia ter uns 3 ou 4 anos.

4.    E o interesse pela sétima arte quando, de fato, começou?

R: Na época, os filmes demoravam de 3 a 4 anos para chegarem por aqui e passar no cinema. Não existia vídeo, então, na TV passavam filmes clássicos maravilhosos que eu assistia com o meu pai.

5.    Como surgiu o grupo CineClássico?

R: Sou membro de vários grupos de cinema, no entanto, o foco deles era cinema atual e os clássicos eram relegados ao segundo plano. Então, o Zeca, meu amigo, falou que gostaria de montar um grupo sobre cinema clássico comigo. Assim, em junho de 2021, surgiu o CineClássico, porque eu só assisto a filmes velhos (risos).  

6.    E como você se envolveu com ele?

R: Na montagem do grupo convidei a Nouah, a Fran e a Madalena para serem moderadoras, o que foi fundamental para a formação do grupo. Sem elas não seria o grupo que é.

7.    Qual a área de atuação do grupo? E em quais mídias e redes sociais?

R: Só permitimos posts sobre produções cinematográficas de 1910 até 1969. Estamos no Facebook, Instagram e Titok com conteúdos diferentes em cada rede social.

8.    É verdade que até mesmo algumas celebridades internacionais fazem parte do grupo?

R: No Facebook temos alguns artistas brasileiros e a Sharon Stone nos segue no Instagram.

Para terminar algumas perguntas sobre as suas preferências cinematográficas:

9.    Qual o seu filme favorito da era clássica do cinema? E por quê?

R: Tenho vários filmes favoritos, mas amo todos do Billy Wilder. Em especial, Crepúsculo dos Deuses e Quanto Mais Quente Melhor.

10. Existe alguma cena que te marcou muito? Por que?

R: vi no cinema E o Vento Levou com meus pais, a cena das pessoas mortas e feridas na Guerra de Secessão me marcou muito. Tinha lido o livro que foi bem fiel.

11. Qual a sua atriz favorita do período?

R: Tenho duas: Bette Davis e Audrey Hepburn. 

12. Qual o seu ator favorito da época?

                     R: Cary Grant  

ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

  Luciano Carrierri  é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei ...