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quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

KING RICHARD

             Todo mundo conhece o final desta história. É sério. Afinal, quem nunca ouviu falar das irmãs Vênus e Serena Williams, duas das maiores tenistas de todos os tempos?

            Mas o foco da trama aqui é outro: Richard Williams (Will Smith), o pai da dupla, que desde cedo planejou cada passo da carreira das filhas para que ambas alcançassem o máximo sucesso.

        O filme de 2021, dirigido por Reinaldo Marcus Green, cuja fotografia remete a filmagem de vídeos em fitas VHS, é bom, assim como o seu elenco e suas respectivas atuações, tanto que Will Smith conquistou o Oscar de Melhor Ator por sua interpretação no mesmo, apesar do seu envolvimento na polêmica do tapa em Chris Rock, durante a premiação da Academia, em Março de 2022, situação que dividiu opiniões... (mas essa é outra história).

          Um dos grandes problemas aqui é outro: até que ponto o enredo, apresentado no longa, é fiel à realidade? O que é ficção ou dramatização, por assim, dizer? Como exemplo, pegue a cena em que Richard quase mata um membro de gangue que estava assediando uma de suas filhas mais velhas, Tunde (Mikayla Lashae Bartholomew). Ele só não o faz porque o sujeito é morto a tiros primeiro, bem na sua frente, num clichê recorrente no cinema, no qual um homem bom, devido a circunstâncias adversas, quase cai na tentação de fazer algo ruim.

         Outro fator incômodo é o quanto Richard mapeou e determinou a carreira das filhas. De acordo com o filme, ele chegou a escrever um plano para cada uma, antes mesmo delas nascerem, de forma a moldá-las em campeãs.

         Obviamente, elas obtiveram sucesso, mas fica a dúvida: foi por escolha, pelo amor ao esporte ou por não conhecerem outra realidade que não a das quadras? Não me entendam mal, elas poderiam até gostar de jogar tênis, mas também ter outras ambições ou aspirações que não a carreira de tenistas profissionais.

           O controle de Richard é tão extremo que ele decide que Vênus vai deixar de jogar em torneios juvenis até que se torne profissional, para que ela possa ser criança, aproveitar a sua infância, atitude louvável, mas àquela altura difícil de manter, pois o patriarca não contava que o seu plano estivesse dando tão certo e fosse ficar cada vez mais difícil manter o gênio dentro da lâmpada, por assim dizer, tamanha é a garra de campeã de Vênus.

           Situação essa que leva a mais intensa e brilhante cena de toda película, o confronto de Richard com sua esposa Oracene (Aunjanue Ellis), na cozinha da casa do casal na Flórida, na qual a matriarca praticamente tem de forçar o marido a ver os efeitos colaterais de sua teimosia nas próprias filhas.

            É aí que começa o arco de redenção do personagem, se é que se pode chamar tal estrutura assim, por se tratar de uma pessoa real. Enfim, o patriarca começa a mudar, afrouxando um pouco a rédea curta na qual mantinha as filhas, passando a dar mais espaço para que tomem suas próprias decisões e apoiando as mesmas, entendendo que boa parte do seu trabalho está feito. Ele já encaminhou Vênus e Serena em suas jornadas, cabendo a elas darem os próximos passos até os seus grandiosos destinos.


 

No mais, desejo um Feliz Ano Novo a todos!


Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt9620288/

 

 

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