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sexta-feira, 24 de março de 2023

FAÇA A SUA HISTÓRIA – A ORDEM DAS PALAVRAS


Como contar uma boa história? Existem diversos formatos e mídias para se empregar em uma trama, mas não há como escapar do principal instrumento de toda narrativa: a palavra. Ela é o veículo principal de toda a comunicação, talvez se trate da maior invenção humana, pois através dela é possível transmitir conhecimento.

    No entanto, tal ferramenta não tem o reconhecimento que merece. Quase não nos lembramos dela. Usamos as palavras sem pensar muito em seu significado enquanto instrumento, sem ponderar a respeito de seu peso e, por que não, de seu poder. Ao dizer uma frase não apenas articulamos uma ideia ou um conceito, mas conseguimos exprimir nossas emoções e até mesmo persuadir o outro a agir da maneira como achamos mais conveniente.

Na narrativa, não é diferente. O contador de histórias, seja ele um escritor, roteirista, publicitário, ator etc., nada mais é do que um artesão cujo ofício nada mais é do que ordenar as palavras de uma forma que as mesmas não só façam sentido e transmitam a mensagem desejada, como também evoquem um sentimento, uma sensação em seu receptor.

Veja bem que é algo bastante subjetivo. Não se trata de uma emoção propriamente dita. Você pode ficar com raiva ou feliz com o que lê, mas tais sentimentos advêm do enredo propriamente dito, não da palavra. A sensação de uma construção frasal tem mais a ver com o sabor, com a textura que o leitor sente ao sorver o trabalho do artesão.

Tomemos como exemplo uma frase célebre da literatura:

 

“Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem. ”

 

    O trecho, acima reproduzido, é abertura de um dos capítulos do maravilhoso romance, de Jorge Amado, Capitães de Areia. O meu primeiro contato com a trama como se deu como uma leitura obrigatória para um vestibular que eu iria prestar, o qual, eu já nem sei mais... enfim, não foi preciso muito para fisgar a minha atenção. Já nesse ponto da obra, bem em seu início, eu já havia sido conquistado, porque Jorge Amado sabia o que estava fazendo. Não só tinha conhecimento de possuir uma grande história em suas mãos, como também soube contá-la, torna-la palatável para qualquer leitor!

terça-feira, 14 de março de 2023

FAÇA A SUA HISTÓRIA -O MITO E O CLICHÊ- O CASO DO SUPERMAN

        Ei, gente! Esse é o segundo artigo da série 'Faça a sua História'! Espero que gostem!

FAÇA  A SUA HISTÓRIA

-O MITO E O CLICHÊ-

O CASO DO SUPERMAN

         

Existe uma linha tênue entre o mito e o clichê. Enquanto o primeiro é uma história, ou melhor, um mote que já se tornou clássico e, por conta disso, é por todos lembrado, o segundo nada mais é que um mito diversas vezes repetido, a ponto de ter se desgastado.

Pegue-se o Superman por exemplo. O personagem é muito rico e carrega, em sua essência, ambos conceitos. A sua origem, como o último filho do planeta Kripton pode até parecer original, mas não é. Trata-se de uma releitura de uma história bíblica. Não acredita? Moisés, o libertador das tribos de Israel do Egito, foi abandonado, ainda bebê, por sua mãe, num cesto em um rio, tendo sido posteriormente encontrado pela filha do faraó. Familiar? Substitua um cesto por uma nave espacial, o rio pelo universo, e têm-se a origem do Superman.


Mas isso não a torna menos válida. As circunstâncias se assemelham, mas também muito diferem. A construção de um personagem, de uma história como um todo, nada mais é que uma colcha de retalhos. Ainda no caso do Super, pode-se identificar mais um aspecto de cunho religioso: os poderes do kriptoniano advém do Sol, assim como os do deus Apolo da mitologia grega. Novamente, percebe-se uma roupagem semelhante, mas os conceitos divergem drasticamente a partir do ponto em que se dá uma explicação científica para os poderes do Homem do Amanhã: suas células kriptonianas funcionam como uma bateria solar, que absorvem a radiação de nosso astro amarelo concedendo incríveis habilidades ao Sr. Kent, que de outra forma não as teria, pois o sol de seu planeta natal era vermelho.

Por falar em Clark Kent, outra vez depara-se com um conceito reaproveitado: a da persona pública atrapalhada e introvertida, em contraste com a sua audaciosa identidade heroica. Pouco menos de duas décadas antes, em 1919 (o lançamento do Superman foi em 1938), o personagem Zorro já exibia tal dualidade entre a sua versão encapuzada e sua pacata identidade civil como Don Diego de la Veja. Antes dele, o Pimpinela Escarlate, personagem criado pela Baronesa Orczy, já possuía a mesma característica, assim como incontáveis outros heróis.

Isso os torna menos interessantes ou originais? Obviamente que não. Como um último exemplo, pegue-se Lois Lane, o par romântico do Superman. Ela é o clichê de todo interesse amoroso da época e de muito antes disso: a donzela em perigo. Mas o seu papel nas histórias não se limita a isso: também possuía uma profissão: a de repórter, diferenciando-as das socialites que povoavam a época. Era o seu trabalho que a punha em perigo. Essa quebra de paradigma foi importante para que personagens protagonistas femininas surgissem, como a Mulher-Maravilha, em 1941.

Aproveite e leia também os demais artigos da série:

FAÇA A SUA HISTÓRIA – O CASO SEINFELD

FAÇA A SUA HISTÓRIA – A ORDEM DAS PALAVRAS


segunda-feira, 6 de março de 2023

FAÇA A SUA HISTÓRIA - O CASO SEINFELD - ARTIGO PILOTO

 Olá, gente! Esse é um novo projeto que estou pensando em desenvolver aqui, no The End:  uma série de artigos sobre como é criar/contar uma história. Dependo da aceitação, eu continuo! Então, se vocês gostarem deixem um comentário na postagem!

O CASO SEINFELD

O que faz uma boa história? Aliás, o que é uma história? Estamos rodeados por elas, vivemo-las diariamente, sem lhes dar muita atenção. Ainda assim, todos temos uma. É algo tão importante, na existência humana, que nos dedicamos a criar outras por pura diversão.

Entretanto, se você perguntar para diversas pessoas o que faz uma história ser boa, elas não vão saber responder com clareza. É óbvio que vão ter uma noção intuitiva, mas terão dificuldades de articular o conceito em palavras.

    Têm que ter princípio, meio e fim? De preferência, sim. No entanto, a técnica narrativa evoluiu tanto que temos tramas com finais abertos ou que se encerram justamente da forma que começaram. Um exemplo desse último tipo de enredo é a sitcom Seinfeld, que termina com os seus personagens tendo uma conversa idêntica a que tiveram no episódio piloto. Um dos personagens, George Constanza creio eu, até mesmo denota o fato.

A questão é que Seinfeld foi projetado como um seriado no qual os personagens não evoluiriam e não aprenderiam com seus erros, permanecendo os mesmos durante toda a duração do programa. Agora, muitos devem estar se perguntando qual a graça de assistir a um show assim, com nenhuma história (outra marca da sitcom, descrita por seus criadores, Jerry Seinfeld e Larry David, como sendo sobre o nada). 

Em primeiro lugar, trata-se de uma comédia, formato cujo principal objetivo é justamente despertar o riso. Em segundo lugar, mesmo que não seja possível ter uma identificação profunda com os personagens, algo que atrai espectadores como moscas ao mel para uma trama, somos inconscientemente atraídos por suas personalidades. Afinal, quem nunca sentiu vontade de dizer ou fazer o que quiser, sem se importar com as consequências?

É por isso que histórias como Seinfeld funcionam tão bem. São como válvulas de escape que podem ser utilizadas como forma de relaxar, por exemplo, após um dia exaustivo de trabalho.

Leia os demais artigos da série!

FAÇA A SUA HISTÓRIA - O MITO E O CLICHÊ

FAÇA A SUA HISTÓRIA - A ORDEM DAS PALAVRAS


ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

  Luciano Carrierri  é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei ...