Magnólia, filme de 1999, dirigido e escrito por
Paul Thomas Anderson, é como uma grande teia de aranha, cujos fios unem os
personagens e suas histórias.
O
enredo pode parecer, inicialmente, um tanto confuso, com tantos personagens
díspares: Frank T. Mckay (Tom Cruise), o instrutor de um seminário que ensina
homens a levarem as mulheres para a cama; o milionário moribundo Earl Partridge
(Jason Robards, 1922-2000); sua esposa Linda (Julienne Moore, que entrega a
melhor atuação do longa); o enfermeiro particular de Partridge, Phil Pharma (Philip
Seymour Hoffman, 1967-2014), o apresentador do programa de perguntas e
respostas ‘O que as Crianças Sabem?’, Jimmy Gator (Philip Baker Hall,
1931-2022); sua filha Claudia (Melora Waters), que por alguma razão está há
anos brigada com o pai; o bondoso e atrapalhado policial Jim Kurring (John C.
Reilly); e o antigo campeão do show apresentado por Gator, Donnie Smith (William
H. Macy), agora um adulto fracassado, cujos pais ficaram com todos os recursos
financeiros que ele ganhou no programa.
Mas
aos poucos as tramas vão se cruzando e o espectador passa entender melhor os
elos que unem os personagens, sejam esses para o bem ou para o mal. Tudo é
bastante complexo e as atuações do elenco são bastante convincentes, como no
caso já mencionado de Julienne Moore ou a performance de canastrão de Tom
Cruise, que deve ter vindo fácil para o astro, devido a autoconfiança que ele
esbanja na vida real, além de ter conseguido imprimir uma grande nuance
emocional num personagem tão cafajeste quanto Frank.
O
único problema é o filme é excessivamente longo e demora a engrenar a sua
trama.
Ei, alguém lembra de quando as comédias do Adam
Sandler eram boas? Nem eu. Brincadeiras à parte, são raríssimas as exceções em
que alguma película estrelada por tal ator seja boa, a não ser aquelas, por exemplo,
em que ele contracena com Drew Barrymore.
É
o caso de ‘Afinado no Amor’ (The Wedding Singer, ‘O Cantor de Casamentos’,
1998), dirigido por Frank Coraci e roteirizado por Tim Herlihy). E não é a atuação
de Sandler, uma versão caricata de si mesmo, como em todos os seus filmes de
comédia, que ajuda em alguma coisa.
O
que torna tudo agradável e até mesmo bom é a junção da interpretação de Drew
Barrymore, disparadamente a melhor atriz do elenco, com um roteiro razoável, o
suficiente para acabar com algumas horas de tédio.
O
enredo gira em torno de Robbie (Adam Sandler), um cantor de casamentos que é
abandonado no altar durante o seu, que acaba se apaixonando por Julia (Drew
Barrymore), uma garçonete do bufê que atende aos mesmos casamentos em que
Robbie canta (o que Sandler definitivamente não sabe fazer).
O
único problema é Glenn (Matthew Glave), o arrogante noivo de Julia que trabalha
em Wall Street. Mas como em toda comédia romântica que se preze, tal obstáculo
será superado até o final do filme, o que não deve ser surpresa para ninguém.
Se
você está se sentindo nostálgico, afinal a trama se desenrola em 1985, um pouco
entediado ou precisando relaxar, é uma boa dica para espairecer. Só não espere
uma experiência transformadora ou algum acréscimo a sua cultura.
Apesar
de baseado num clichê recorrente da literatura norte-americana, o do homem que
dorme por vários anos para acordar no futuro, cujos exemplos vão desde o conto
‘Rip Van Winkle’, do autor Washington Irving (1783-1859) às mais recentes
aventuras de Buck Rogers, herói dos livros pulps e das tiras em quadrinhos,criado por Philip
Francis Nowlan (1888-1940) no princípio do século XX, o filme Eternamente Jovem
(Forever Young,1992), dirigido por Steve Miner, com base num roteiro de J.J.
Abrams, e estrelado por Mel Gibson, é uma aventura cativante sobre amor e
perda, do que o ser humano é capaz para lidar com as suas emoções em relação a
ausência daqueles que se vão.
A
trama gira em torno do piloto de testes Daniel McCormick (Mel Gibson) que,
inconsolável com o acidente que deixou a sua namorada Helen (Isabel Glasser) em
um coma aparentemente irreversível, aceita participar de um experimento de
criogenia do seu amigo cientista Harry Finley (George Wendt) que o deixaria em
suspensão criogênica durante um ano.
Mas
algo dá errado e quando o piloto é acordado por Nat Cooper (Elijah Wood) e seu
amigo Félix (Robert Hy Gorman), mais de cinquenta anos se passaram. A partir
daí, Daniel tem que descobrir não só o que deu errado com o experimento, mas
também redescobrir o mundo, que não é mais o mesmo daquele que era em 1939, ano
em que se deu a experiência.
Assim,
ele parte em busca de respostas sobre o que aconteceu com as pessoas com quem
conviveu no passado, auxiliado por Nat, que acaba encontrando no piloto a
figura paterna que tanto faltava em sua vida.
É
um bom filme, cuja mensagem é de amor e esperança, mas, principalmente, de que
nunca se deve deixar para depois algo que se pode fazer agora, pois instantes
antes do acidente que deixou Helen em coma, McCormick pretendia pedi-la em
casamento, porém hesitou e tudo se perdeu.
Nota: o trailer que consegui legendado estava com a qualidade da imagem muito ruim, então também postei uma versão sem legendas.
Escrito por Robert Louis Stevenson (1850-1894),
o ‘Médico e o Monstro’ (The Strange case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde/ O Estranho
Caso do Dr. Jekyll e do Sr.Hyde, 1886) é um clássico da literatura mundial, no
qual o pacato Dr. Henry Jekyll desenvolve uma fórmula que o permite despertar
um lado mais sombrio de sua personalidade, transformando até mesmo sua
aparência e, portanto, assumindo a alcunha do Sr. Eward Hyde.
É
uma das primeiras obras a abordar, de certa forma, o conceito de dupla
personalidade, além de ter inspirado inúmeros outros personagens, como o
Incrível Hulk, e trabalhos literários, como o que serviu de premissa para este
filme, no caso o romance Mary Reilly, de Valerie Martin, no qual a história do
pobre Dr. Jekyll é retratada através dos olhos de sua criada que dá título à
obra. Pode causar certa estranheza ao leitor, mas várias obras famosas já foram
recontadas em outros romances que não de seus autores originais, podendo-se
citar exemplos como clássicos tais quais Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
(1775-1817), e diversos pastichos sobre casos de Sherlock Holmes, que não foram
concebidos pelo seu criador Arthur Conan Doyle (1859-1930).
Enfim,
a película, dirigida por Stephen Frears, não contem uma ideia totalmente
original, mas é boa devido a sua execução, principalmente pelas atuações de
Julia Roberts, como Mary Reilly, e John Malkovich, exercendo aqui a dupla
função de interpretar tanto Jekyll quanto Hyde. Aliás, é o triângulo amoroso
formado por Mary e as duas personalidades de seu patrão que gera tensão na
trama, fazendo-a funcionar.
Por
um lado, temos o gentil doutor que desperta o carinho de Mary por se preocupar
com ela, inquerindo sobre as cicatrizes que a moça, literalmente, carrega de
seu passado, devido a convivência com o seu pai abusivo, o Sr. Reilly (Michael
Gambon e, antes que alguém se pergunte porque o ator lhe parece tão familiar,
sim, trata-se do segundo intérprete do Professor Dumbledore na saga Harry
Potter), algo com que ninguém pareceu se importar, fazendo com que ela se sinta
tratada como um ser humano pela primeira vez e não apenas como alguém que
existe apenas para servir. Por outro, temos o horrendo Sr. Hyde, capaz das maiores
atrocidades, mas que ainda assim desperta a libido de Mary, seus desejos
sexuais mais profundos, algo que, na época em que a trama se passa, o final do
século XIX, não era normal exteriorizar, ainda mais tratando-se de uma mulher.
Outro
ponto forte da trama é a breve, porém marcante interpretação de Glenn Close
como a caricata Sra. Farraday, uma cafetina a qual tanto o Doutor Jekyll quanto
o Sr. Hyde recorrem a seus serviços.
Por
fim, o design de produção é muito agradável aos olhos e vai parecer bastante
familiar para muitas pessoas, pois se trata do trabalho de Stuart Craig, o
responsável pelo design de produção de todos os filmes da franquia Potter. Que
coincidência, não?
Nota: infelizmente, não encontrei o trailer dublado ou legendado.
Alguns filmes são como uma caixa de chocolates,
sempre que os assistimos, deparamo-nos com algo novo. É o caso de Forrest Gump
(1994), dirigido pelo incrível Robert Zemeckis, também responsável pela não
menos notável trilogia De Volta Para o Futuro.
Ganhador
de diversos prêmios, inclusive os Óscares da Academia de Melhores Filme,
Roteiro Adaptado, Diretor e Ator, o filme gira em torno do personagem título
(brilhantemente interpretado por Tom Hanks na fase adulta, diga-se de
passagem), um sujeito comum, que apesar de suas dificuldades intelectuais, é
criado com todo amor e carinho por sua mãe (Sally Field), que faz das tripas
coração para sustentar o seu rebento, desde transformar sua casa em um
pensionato a até mesmo vender o seu corpo para garantir que o seu filho pudesse
frequentar a escola local.
Forrest
até poderia ter uma vida solitária devido a sua deficiência intelectual e o seu
problema nas pernas, que o forçou a usar um aparelho ortopédico, mas o seu bom
coração e ingenuidade o tornam o amigo perfeito para Jenny (Robin Wright na
fase adulta), uma garota abusada pelo pai, que o menino conhece no ônibus para
a escola.
Assim,
conforme Forrest cresce, a sua vida entrelaça-se com a história americana da
segunda metade do século XX, seja conhecendo um jovem Elvis Presley, a quem
inspira os movimentos dos quadris, ou participando da Guerra do Vietnã, junto
de seus amigos Bubba (Mykelti Williamson), um especialista em camarões, e o Tenente
Dan Taylor (Gary Sinise), e até mesmo tendo participação ativa no escândalo
Watergate, realizando o telefonema que desencadearia a investigação.
Mais
do que isso, Forrest Gump é um filme sobre a vida e como ela é leve como uma
pluma, sempre nos levando a lugares inesperados.
* em memória da minha querida avó paterna Neise (28 de Agosto de 1943 - 13 de Outubro de 2021), que sempre acreditou em mim e me estimulou a perseguir os meus sonhos. Obrigado, vó. De onde a Sra. estiver, fique com o meu carinho.
Falar do filme Casa dos Espíritos (1993) é
também falar de Isabel Allende, autora do romance que inspirou a trama, assim
como de sua terra Natal, o Chile.
Nascida
em 1942, Allende cresceu em meio a um período de transição sociopolítica da
sociedade chilena, notavelmente patriarcal à época. Até mesmo pode vivenciar os
bastidores do golpe militar, de 1973, que instalou a ditadura do general
Pinochet (1915-2006), já que era prima, por parte de pai, do presidente do país
andino à altura do golpe, Salvador Allende (1908-1973).
Com
essas informações em mente, fica mais fácil compreender o enredo do filme que
trata da saga da família Trueba ao longo de várias décadas, culminando no
fatídico golpe de 1973 e suas consequências para tal clã.
Tudo
começa com Blanca (Winona Ryder) retornando a Três Marias, fazenda de seu pai,
Esteban Trueba (Jeremy Irons), junto do mesmo e da pequena Alba (Sasha Hanau),
sua filha.
Lá, Blanca começa a ler
os diários de sua mãe, Clara (Meryl Streep) e começa a ter um melhor
entendimento da dinâmica de sua família. Ela descobre que, Clara, ainda
criança, dava sinais de possuir fortes poderes espirituais, chegando a
aconselhar várias pessoas com os seus pressentimentos.
Tudo muda, porém,
quando ela prevê a morte acidental de alguém de sua família e tal vítima acaba
sendo a sua irmã mais velha Rosa (Teri Polo), até então noiva de Estaban, que
acaba ingerindo uma dose fatal de veneno no lugar do pai, Severo del Valle (Armin
Mueller-Stahl), que havia começado a se envolver com a política local e feito
alguns inimigos.
Assim, sentindo-se
culpada, Clara não diz uma palavra por anos, até que Esteban retorna a sua vida
e acaba se casando com a irmã mais nova de sua finada noiva, levando-a para morar
em Três Marias com ele e sua irmã Ferula (Glenn Close).
Os problemas começam a
surgir daí. Esteban ressente-se da interferência da irmã em sua vida marital,
sem nem ao menos imaginar que foi a própria Clara, num gesto de puro altruísmo,
que convidou a cunhada para viver com eles, pois aos seus olhos ela tornara-se
também sua irmã, ainda que pelo casamento.
Só que Esteban não
consegue entender isso e muitas outras coisas, como a passagem do tempo e
quebra de paradigmas do mundo conservador e patriarcal em que foi criado e
insiste em levar adiante, de certa forma, através de sua filha Blanca.
É um belo filme, com
muitos outros acontecimentos desenrolando-se a partir daí. A única crítica que
posso fazer, se é que posso me atrever a tanto, é que a película, dirigida Bille
August, não seria feita, na atualidade, com elenco que possui, apesar de contar
com medalhões como Meryl Streep, Jeromy Irons, Winona Ryder e um Antônio
Banderas em início de carreira, devido à falta de diversidade e representação
étnica do povo latino.
Esta postagem é um pouco diferente das demais. A ideia aqui é dar voz aos leitores do blog para que os mesmos possam compartilhar as histórias de filmes que os marcaram. Seja pela trama, uma cena marcante, pelo momento que estavam passando em suas vidas pessoais, ou alguma acontecimento curioso ou engraçado que ocorreu enquanto assistiam ao filme. Se você, caro leitor, tem alguma história desse tipo e queira compartilha-la, é só enviar um e-mail para the.end.castan@gmail.com . Não precisa ser algo muito longo ou detalhado, pode ser somente um ou dois parágrafos, que eu completo com o resumo da trama e as demais informações técnicas, como elenco, diretor, roteirista, ano de lançamento etc.
*baseado no relato de João Paulo Martins
Castanheira
ALERTA DE SPOILERS!
A
Lista de Schindler (1993) é um filme poderoso, porém trágico na mesma medida. É
um misto do que é e do que poderia ter sido.
Gravado
em preto e branco, numa época em que a filmagem a cores há muito estava
difundida, a película é um reflexo dos tempos sombrios que retrata.
Baseada
na história real de Oskar Schindler (1908-1974), a trama o retrata como “um
oportunista interessado no lucro, inicialmente, mas que acabou por mostrar uma
iniciativa e dedicação extraordinárias com o objetivo de salvar as vidas dos
seus empregados judeus”1, “empregando-os nas suas fábricas de
esmaltes e munições, localizadas nas atuais Polônia e República Checa,
respectivamente”2.
Tal
atitude ajudou a salvar 1200 vidas do Holocausto, ainda que Schindler fosse um
membro do partido nazista.
Sobre
o filme, o nosso leitor convidado, João Paulo, tem muito a dizer:
“É
um filme que sempre me foi recomendado, mas a vida toda eu adiei o assistir por
não interessar muito por filmes de guerra, já que não gostei do "O resgate
do soldado Ryan". Então comecei a assistir "A Lista de
Schindler" com uma expectativa bem baixa. Pensando bem, acho que as minhas
expectativas impactaram muito na minha experiência. E aconteceu de ela melhorar
essa em questão, pois não tinha nenhuma. O filme é o primeiro Oscar do
Spielberg e resolvi dar uma chance a ele. É um filme duríssimo, só para quem
tem estômago e meu interesse pela história da segunda guerra estava em franco
crescimento na época. Quando os judeus estavam sendo levados para os guetos no
início da guerra, Schindler já acumulava contratações de escravos e em
particular o contador, era um que vinha ganhando sua simpatia. A cada conquista
Schindler, que era um beberrão, propunha um brinde, mas o contador nunca
aceitava, pois ele não bebia. Até que um dia ele aceitou, pois sabia que aquela
seria a última oportunidade que ele teria de aceitar. No dia seguinte ele seria
levado a um campo de concentração.
Já
no campo de concentração, a cena que mais me emocionou, foi na metade final do
filme. Quando um médico analisava os judeus correndo em círculos, pelados, em
um campo. Todos já sabiam do que se tratava. Quem ia para direita eram os não
saudáveis e desnutridos. Candidatos à câmara de gás, e os da esquerda estavam
ainda aptos para trabalhar. Era uma resignação generalizada da própria
dignidade. Não havia qualquer esboço de esperança em ninguém. As mulheres, num
último esforço desesperado, furavam os próprios dedos para colorir as bochechas
de sangue e aparentarem estar mais saudáveis.
Quando, em um instante,
dois caminhões, lotados de crianças passa há alguns poucos metros do campo.
Toda aquela apatia e submissão desapareceu no momento em que os pais daquelas
crianças perceberam que eles estavam sendo levados para fora do campo de
concentração. Foi instantâneo, todos abdicaram de tudo e qualquer coisa, e
correram como uma manada em direção aos caminhões. Gritando desesperadamente,
um grito horroroso de desespero.
A cena do final do
filme também é bem tocante. Quando Schindler se desculpa por não ter vendido
mais bens dele, como o carro e o anel, para poder salvar mais judeus. E mesmo
assim é ovacionado por aqueles que estavam com ele, e foram salvos. Schindler
se ajoelha aos prantos e abraça um dos judeus se desculpando por não ter sido
mais desprendido. ” – conclui João Paulo.