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sábado, 4 de fevereiro de 2023

FILHOS DO ÓDIO

               Este é um daqueles filmes difíceis de assistir, não só por se tratar de uma história real, mas também por envolver uma questão social tão delicada como o racismo, ainda mais na época e no lugar em que tudo se passa: o princípio dos anos 60, no sul dos Estados Unidos, momento em que a região era um caldeirão prestes a explodir, devido a luta pelos direitos civis e o fim da segregação racial.

     É nesse contexto que conhecemos Bob Zellner (Lucas Till, o novo MacGyver do seriado recém cancelado de mesmo nome), o personagem principal do filme Filhos do Ódio (Son of the South, Filho do Sul, numa tradução literal, 2020), dirigido e roteirizado por Barry Alexander Brown.

            Zellner vem de uma família sulista tradicional e tem um passado complicado: o seu avô paterno é parte da Ku Klux Klan. No entanto, o rapaz não acredita nessa bobajada toda e começa a se meter em problemas ao fazer um trabalho da faculdade sobre diferenças raciais. Ele descobre que, para realizar a tarefa, não poderia nem ao menos falar com pessoas negras sobre o assunto.

 É claro que ele desobedece a ordem e começa a expandir os seus horizontes, questionando o seu passado, o que lhe foi parcialmente ensinado pela sociedade a sua volta e o seu papel em tudo aquilo: deveria não fazer nada, mesmo que a causa fosse correta e justa, ou entrar numa luta que não era sua, deixando de lado a segurança proporcionada pelo seu tom de pele claro e todos os privilégios que vinham com ele, como, por exemplo, uma vida pacata ao lado de sua noiva Carol Ann (Lucy Hale)?

            Tantos anos depois, a escolha parece clara: lutar pelo que era certo, mas ao assistir a trama, vemos o preço que qualquer pessoa, fosse negra ou branca, pagava por assumir a causa dos direitos civis como sua. Indivíduos eram surrados, duramente espancados e linchados até a morte em movimentos pacíficos e não-violentos, fossem passeatas, viagens de ônibus do grupo Freedom Riders (algo como Viajantes da Liberdade) ou por atos como quebrar a política de segregação racial, como Rosa Parks fez, que aliás, está presente no filme interpretada por Sharonne Lanier.

            Assim, ao aderir, por completo, ao movimento dos direitos civis, Zellner fez a sua escolha e aceitou as consequências que vieram com ela. Ele pode ter perdido muito, mas a sua crença, a sua ideologia de uma sociedade melhor ainda lhe é mais preciosa.

            Por fim, vale ressaltar que a história aqui não é planfetária, uma apologia ao ‘salvador branco’, mas uma mensagem mais profunda: para que o mal prevaleça, basta que os bons homens não façam nada, como diz a frase aparentemente atribuída a Edmund Burke.

 


Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt2235372/?ref_=nv_sr_srsg_0

https://www.imdb.com/name/nm1395771/?ref_=tt_cl_t_1

https://en.wikipedia.org/wiki/Edmund_Burke#%22When_good_men_do_nothing%22

 

 

 

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