Não sei até que ponto o filme Blonde, da Netflix, de 2022, dirigido e adaptado por Andrew Dominik, com base no romance de mesmo nome de Joyce Carol Oates, é verdadeiro ou fruto de liberdade criativa. Muitas passagens são ligeiras distorções da realidade, como no caso da precoce morte de Charles Chaplin Jr. (Xavier Samuel), que só veio acontecer 6 anos após o falecimento de Marilyn Monroe (Ana de Armas), ou melhor, Norma Jeane, e não ao contrário, como indicado na película. Outras, como o abuso sexual (estupro) sofrido pela atriz, perpetrado pelo então Presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, são impossíveis de se confirmar.
Enfim,
a trama é um estudo da personalidade de Norma Jeane, começando com as dificuldades
que enfrentou em sua infância problemática, devido aos maus-tratos físicos e
emocionais que sofreu de sua própria mãe, Gladys (Juliane Nicholson) e a
ausência do pai, que nunca conheceu e cuja identidade só foi confirmada,
através de um exame de DNA, como sendo Charles Stanley Gifford, 60 anos após a
morte da estrela, agora em 2022. *
O
interessante são os motivos que levaram Norma a buscar o estrelato: o enorme
desejo de ser realmente amada e provar a si mesma que merecia esse carinho. Mas
nem tudo são flores em Hollywood. O enredo deixa claro que Marilyn Monroe nada
mais era do que outra personagem interpretada por Norma Jeane e que a grande dificuldade de
manter tal fachada, de ter de ser duas pessoas ao mesmo tempo, lhe era
insuportável, pois no fundo a estrela era somente uma garotinha assustada, que
buscava, em cada relacionamento amoroso que teve, o amor paterno que não chegou
a conhecer.
Tudo
é retratado pela técnica do fluxo de consciência, derivada da literatura, em
cujo uso o expoente foi o livro Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Somos levados
a sentir as emoções e pensamentos de Norma Jeane em momentos diversos de sua
vida, ainda que em ordem cronológica. Para as cenas em cores, estamos
assistindo a vida por trás das câmeras de Norma Jeane, a tranquilidade e
estabilidade familiar que ela tanto buscava, enquanto nas tomadas em preto e
branco, Marilyn assumia os holofotes, projetando a imagem do ícone ainda hoje
lembrado por todos.
Por
fim, a interpretação da belíssima Ana de Armas é espetacular a ponto de ficar
de olho, pois provavelmente abocanhará, além de inúmeras indicações, prêmios
como o Globo e Oscar da Academia na categoria de Melhor Atriz.
Fontes:
* https://veja.abril.com.br/cultura/pai-misterioso-de-marilyn-monroe-tem-identidade-revelada-em-novo-doc/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mrs_Dalloway
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