O filósofo, escritor, palestrante, agente literário, editor da Revista Conhece-te há mais de duas décadas e articulista d´O Barrete, de Portugal, Marcelo Pereira Rodrigues, 48 anos, é uma personalidade criativa e inquieta. Vivendo de literatura no Brasil há mais de duas décadas, viu o seu trabalho chegar a diversos países tais Portugal, Espanha, Sérvia, México, Estados Unidos, Costa Rica, Guatemala, Índia, Bangladesh, Paquistão, Uzbequistão, Peru e se fôssemos listar aqui, a enumeração seria longa.
Uma de suas facetas é a de ser cinéfilo. Nesta
entrevista onde conta muito de sua vitoriosa carreira, encontramos oportunidade
para conversarmos sobre cinema. Embora refute a pecha de cinéfilo, escreveu
cerca de duzentas resenhas e análises de películas para uma publicação em
Portugal. Brincando, afirma que quase foi preso pela polícia aos 14 anos após
ter assistido a um filme pornográfico. Sua paixão pela Sétima Arte se estende
ao infinito, ainda mais agora que oferece seus roteiros a produtores mundo
afora. Com desenvoltura e leveza, elenca os seus filmes favoritos, atores e
atrizes e suspeita que teve um argumento plagiado em um filme que venceu o
Oscar.
Curiosos? Leiam a entrevista na íntegra...
IC – Olá Marcelo. Como vai?
MPR – Olá Igor. Vou bem, obrigado por
perguntar.
IC – Por que não começa nos falando um pouco
sobre você?
MPR – Boa a sessão de psicanálise. Na verdade,
não gosto muito de falar de mim. Ao longo dos tempos, consegui plataformas que
expõem os meus trabalhos e fico satisfeito desta forma. Como sou escritor em
tempo integral, possuo trabalhos como editor da Revista Conhece-te; como
articulista de uma revista em Portugal, O Barrete; escrevo os livros e está
tudo contido no meu site oficial; além disso faço os meus agenciamentos
literários e dou palestras. Enfim, graças a este caudaloso trabalho me
transformei em um Edson falando do Pelé. Se eu não fosse eu, admiraria muito o
Marcelo Pereira Rodrigues. Mas como eu sou eu, fico encabulado de dizer quem eu
sou. Esta parte confusa e existencial se deve à minha formação, Filosofia.
IC – O que o levou a cursar Filosofia?
IC – Como surgiu a Revista Conhece-te, da qual
você é editor?
IC – O que o levou a se tornar escritor?
MPR – Sempre gostei muito de ler, desde
criança. Nas aulas de Português, adorava o momento em que as professoras
mandavam fazer Redação. O que poderia ser martírio para muitos, para mim era
deleite. Desde criança gostava de compor histórias e confesso que era um baita
mentiroso. Inventava situações e me encantava observar como adultos caiam nas
minhas mentiras. Mas eram mentiras leves, bobas, fantasiosas. Quando estava na
faculdade, não tinha em mente me tornar professor nem seguir carreira
acadêmica. Encontrei na escrita vazão para a minha criatividade. Comecei a
perceber em mim um estilo de escrever irônico e debochado, não que eu fizesse
força. Tive algumas escaramuças na UFSJ por conta de minhas ideias publicadas
em um mural chamado “Dus Campi Libre Novedad”. Tomei gosto pela coisa. Quando
comecei a publicar a Revista Conhece-te e a colaborar para jornais do Brasil
inteiro, percebi que tinha talento para a profissão. Meus textos provocativos
passavam ao largo da indiferença, amealhando elogios e insultos. Sou
indiferente a essas recepções ao meu trabalho. Daí a reunir crônicas e lançar
os meus dois primeiros livros, “Muito Humano Demais” e “Nós” foi um pulo.
Aliás, neste ano de 2023 faz 20 anos da publicação de “Nós”. Daí estreei no
romance e a coisa engrenou. 15 livros depois e bastante repercussão no Brasil e
no exterior fazem-me sentir bastante orgulho desta verdadeira saga, que pode
ser consultada em www.marcelopereirarodrigues.com.br
IC – Como foi o processo de publicação do seu
primeiro livro?
MPR – O processo foi horroroso, traumático.
Contou com uma confecção amadora, com tiragem de 500 (quinhentos) exemplares
feitos em uma gráfica. A diagramação foi horrorosa, a correção ortográfica
abaixo da crítica. Desgostei deste trabalho por um bom tempo. Até que em 2015
recebi uma proposta de uma boa editora do Rio de Janeiro para uma 2ª edição e
aí a produção foi bem mais profissional. Aproveito esta sua pergunta para
indicar a jovens escritores o auxílio de um profissional qualificado para
produzir o seu respectivo livro. Atualmente sou sócio de uma agência literária
que visa auxiliar a estes autores. É um desperdício jogarmos árvores no chão
para produzirmos porcarias, não acha? Pelo menos esta minha primeira má
experiência me serviu de lição: afaste-se de incompetentes e amadores e busque
os melhores profissionais. É o que sempre indico a quem se aventura a escrever
um livro.
IC – Como se deu o seu primeiro contato com o
cinema?
MPR – O primeiro contato com o cinema foi
assistindo a um filme pornográfico num cine que funcionava na Rua Marechal
Floriano, no Clube Dom Pedro, em Conselheiro Lafaiete. Tinha 14 anos e os
hormônios estavam soltando pelos poros. Conhecidos mais velhos fizeram ver ao
homem da bilheteria que eu tinha 18 anos. No dia seguinte fiquei com medo de a
polícia me prender, pois os meus vizinhos me alertaram que um policial estava
atrás de mim. Pode isso?! Ainda bem que esmerei bastante o meu gosto.
Frequentava o cinema na Rua Tavares de Melo anos depois e lembro-me de filmes
que assisti ali, como “Eternamente Jovem”, “Perdas e Danos”, “Independency
Day”, “Mulher Solteira Procura... alugar um apartamento pode ser fatal”, “O
Retorno de um Estranho” (com Richard Gere), “Os Imperdoáveis” e outros.
IC – Qual o papel do cinema na sua obra, no seu
trabalho e na sua vida?
MPR – Como sou escritor de novelas, romances e
ficções, acaba que fica muito próximo de um roteiro para filmes. Nestes últimos
tempos tenho me aventurado a oferecer estes meus escritos a produtores do
audiovisual. Tive um direito autoral comprado e estou no aguardo de ver no que
vai dar. Assim, como não dissocio uma coisa de outra, trabalho-vida-obra, o
cinema é fundamental, a válvula de escape que me faz viajar a outros mundos,
assim como a arte nos permite, através da leitura de um excelente livro;
visitarmos exposições em museus e ir a grandes shows musicais tais Guns
N´Roses, Metallica e Kiss. Voltando ao cinema, é difícil uma semana onde não
assista pelo menos a quatro filmes, a Sétima Arte não passa ao largo de minha
percepção.
IC – Como a Sétima Arte se relaciona à
Filosofia?
MPR – Do meu ponto de vista, através do aspecto
multidisciplinar. Acredito que o bom filósofo e escritor deva ser uma
verdadeira esponja para coisas boas: cinema, artes plásticas, música, teatro,
pinturas, esculturas etc. Sou plástico na forma de me conduzir no mundo. Esse
espectro cultural é fundamental para aplicarmos a filosofia e o juízo crítico
em todas as áreas da nossa vida.
IC – Qual o seu ator preferido? Por que?
MPR – Impossível responder a esta pergunta,
pelo viés da singularidade. Irei me estender na pluralidade. Sabe estes atores
que se doam para o trabalho e que parecem perderem a conexão com o mundo real?
Amo esta entrega e admiro demais Daniel Day-Lewis, Heath Leager (falecido,
enquanto terminou o seu papel como Coringa no filme “Batman, O Cavaleiro das
Trevas”), Philip Seymour Hoffman (também falecido) e os lendários Jack
Nicholson (do qual li até uma biografia), Clint Eastwood, Tom Hanks
(formidável!), Christian Bale (outro que se doa ao ofício, emagrecendo ou engordando
horrores), Joaquin Phoenix, Ricardo Darín (argentino), Morgan Freeman, Al
Pacino, Leonardo DiCaprio, Michael Keaton, Daniel Craig, Woody Harrelson,
Edward Norton (genial!) e Sylvester Stallone (só ele para ser tão bom e
canastrão ao mesmo tempo). Sei que ao findar esta lista deixarei de fora outros
excelentes.
IC – E atriz? Por que?
MPR – Talvez as feministas não irão gostar
muito do que eu vou responder, mas admiro a beleza de verdadeiras divas tais
Scarlett Johansson, Hillary Swank, Jodie Foster e outras. Nas interpretações
admiro a Scarlett que consegue até a ousadia de ficar menos bela do que é, mas,
analisando um pouco mais a fundo, percebo que mesmo Hollywood acaba dando mais
protagonismo aos homens, não tenho dados específicos, trata-se de uma percepção.
Brincaram que a Meryl Streep sempre é indicada ao Oscar de Melhor Atriz e não
vence, azar do Oscar! Ela atua muito bem.
IC – Qual o seu filme favorito?
MPR – Mais uma vez, serei plural. Assisti com
minha mãe e minha tia ao clássico “Doutor Jivago” e aquilo me marcou, mesmo que
eu não entendesse patavina com os meus 10 anos. Mas fiquei petrificado ao
assistir a “King Kong”, naquela versão de 1976, com a linda Jessica Lange. Na
minha seleção entraria facilmente “Cinema Paradiso”, “A Vida É Bela”, “O
Poderoso Chefão”, “O Povo Contra Larry Flint”, “Os Imperdoáveis” (com Clint
Eastwood), “Titanic”, “Melhor É Impossível”, “Django” (do Quentin Tarantino),
“Batman O Cavaleiro das Trevas”, “Meia-Noite em Paris”, “O Último Tango em
Paris”, “1492 A Conquista do Paraíso” (o épico de Ridley Scott sobre a
descoberta da América”, “O Lobo de Wall Street”, “Táxi Driver”, “Amadeus”,
“Medianera” (argentino), “Parasita” (sul-coreano), “Sete Anos no Tibet”, todos
os “Rambo” (sendo o II, “A Missão” o melhor) todos do Hitchcock e Woody Allen e
se ficar aqui enumerando esta entrevista não acaba nunca. Quanto às
nacionalidades, fora Hollywood onde os caras sabem fazer cinema, destacaria os
argentinos, espanhóis, franceses, dinamarqueses e noruegueses.
IC – E você tem uma cena especial que lhe
marcou? Não necessariamente ligada ao filme da questão anterior.
MPR – Tenho uma que está ligada ao meu trabalho
e é bastante curiosa. Está contida numa entrevista que concedi ao programa
“Iluminuras” da TV Justiça. Estava no cinema assistindo a “Birdman ou (A
Inesperada Virtude Da Ignorância)” e uma cena lá me chamou a atenção. Quando o
protagonista, interpretado pelo Michael Keaton fica preso de cueca do lado de
fora do teatro e isso se transforma em um escândalo pela mídia sensacionalista
e pela revolução que começou a acontecer naquele ano, 2014, quando uma pessoa
com um smartphone podia gravar tudo e a privacidade acabava indo para o
beleléu. Aquilo me marcou e depois senti (e verifiquei) que já havia escrito
uma passagem no meu romance “Corda Sobre O Abismo”, lançado no ano anterior,
que falava mais ou menos a mesma coisa. Essa similaridade de roteiros me deixou
bastante feliz. Longe de mim aventar plágio do diretor, mas quando soube que o
filme venceu o Oscar fiquei mais feliz ainda. No ano de 2015, quando “Corda
Sobre O Abismo” foi publicado em Portugal, com uma tradução para o português de
lá, inseri uma notinha esclarecendo a similaridade entre a minha ideia e o
roteiro do filme. Brinquei atribuindo um subtítulo a esta versão portuguesa e
assim o livro passou a se chamar “Corda Sobre O Abismo O Elogio Da
Desesperança”. Dificilmente esta cena deixará de ser a minha especial, no dia
em que encontrar o diretor de “Birdman”, Alejandro González Iñárritu, irei
cobrar dele a minha comissão.