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domingo, 5 de fevereiro de 2023

ENTREVISTA COM PAULO ANTUNES

Estou aqui com Paulo Antunes que, além de professor universitário e amante da sétima arte, também é ator.

1.  Por que não começa nos falando um pouco sobre você, Paulo.

R: Grato pela oportunidade de participar desse blog. Sou lafaietense, professor universitário, escritor e ator. Aprecio muito viajar e assistir teatro e cinema. Na verdade, meu gasto com entretenimento é bem focado em arte, cultura. Sempre gostei de ler, escrever e atuar. E observar as pessoas, os fatos, as coisas... por isso também adoro fotografia. Por isso falo menos e ouço mais. Essa a forma que me garante mais tentar entender o mundo.

2.  Qual foi o seu primeiro contato com o cinema?

R: Meu contato com o cinema se deu nos cinemas de Lafaiete, desde muito cedo, quando pré-adolescente. Tínhamos aqui, no mínimo, 5 cinemas, sendo o maior e mais disputado o Cine Regina. Lá assisti a muitos filmes comerciais e de arte, além dos eróticos. Na época, a gente falsificava a data de nascimento nas carteirinhas de estudante, deixava o pouco de barba que tinha crescer para ludibriar o Juizado de Menores. Vivíamos sob um governo ditatorial que queria censurar tudo, mas que se esquecia de que quanto mais proibido, mais a gente gostava de fazer.

3.   E quando o cinema virou uma paixão?

R: A paixão pela Sétima Arte é desde sempre, como a pelo teatro e pelos os livros. Costumávamos já comprar ingressos no fim de semana anterior para o posterior. Uma forma de se conseguir lugar e não perder o filme da semana seguinte. O cinema virou paixão quando descobri os filmes exibidos fora do circuito comercial, os filmes de arte que também, ora e outra, passam na televisão. Me apaixonei pelos cineastas geniais da época: Bergman, Godard, Hitchcock, Fellini, Woody Allen, Truffaut, Kurosawa, Polanski, Walter Hugo Khoury, Glauber Rocha e outros, além de, é claro, Charles Chaplin, esse imortal que conseguiu espaço no Ocidente e no Oriente.  

4. Qual o seu filme favorito?

R: É difícil dizer que se tenha somente um filme favorito devido aos gêneros. Em qual gênero? Os filmes, assim como as peças teatrais e os livros, por se enquadrarem em espécies distintas, não há como se mensurar a preferência em relação a eles. Sei que me lembro com prazer dos filmes O Garoto, de Chaplin; Beleza American, de Sam Mendes; Eles Não Usam Black Tie, de Leon Hirszman etc. etc.

5. Existe alguma cena que te marcou muito? Não necessariamente relativa ao filme da questão anterior.

R: Tenho várias cenas marcantes em mente: em Eles Não Usa Black Tie, por exemplo, quando Fernanda Montenegro e outros atores participam de um enterro-passeata a favor de uma greve; Em Beleza Americana, a cena em que um personagem filma um saco plástico voando e vai narrando o que sente ao ver aquilo; em Nell, com Jodie Foster, as cenas em que ela, uma mulher “selvagem” se banha nua durante a noite num lago... Há muitas cenas que ultrapassam o ato da filmagem e viram poemas no nosso coração.

6. Qual o seu ator favorito? E por quê?

R: Também é difícil se falar de ator favorito devido às múltiplas possibilidades de tipos. Sempre amei Chaplin, Al Pacino, Robert de Niro, Jack Nicholson, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Rodrigo Santoro, Milhem Cortaz e outros muitos. Sempre me agradaram tais atores pela capacidade de exercerem o ofício com muita verdade, boa vontade, senso de responsabilidade e, óbvio, versatilidade.

7.  E atriz? Por quê?

R: Novamente a distinção atrapalha. Tenho adoração por Marília Pera, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Meryl Streep, Glenn Close, Sigourney Weaver, Judie Foster, Susan Sarandon etc. E aprecio essas atrizes pela versatilidade, a capacidade de encarnarem personagem bem distintos uns dos outros e delas próprias. Isso é fazer com amor e profissionalismo o ofício, a arte.

8.  Como percebeu que queria atuar?

R: Quando criança, veio à cidade um teatro itinerante chamado Grande Teatro Bibi. Era uma espécie de circo, só que apresentava peças teatrais. Eu já gostava de teatro, lia muito teatro e como eles tinham um grande repertório, assisti a muitas peças. Isso, para eu criança, era mais que doce, parque de diversão, pipoca: era algo me dizendo que eu havia me achado, que eu estava e sempre estive ali e, portanto, devia respirar, beber, cheirar, comer aquilo com toda força de minha dimensão biológica e emocional.

9.  E a sua relação com os palcos, como começou?

R: Comecei fazendo teatro na escola, no quintal de minha casa; sozinho, comigo próprio sendo ator e plateia, na penumbra de meu quarto me imaginando nesse ou aquele personagem que li, vi... Depois juntei o pessoal que percebi que gostava de teatro e fomos ganhar os palcos de Lafaiete e cidades circunvizinhas.

10. É verdade que você imita o Carlitos, de Chaplin? Como essa experiência começou?

R: Sempre gostei de imitar o personagem Carlitos, de Chaplin, afinal, ele embalou minha infância, adolescência, com seus filmes. Me identificava muito com ele, solitário, intenso, pacificador, mas, sobretudo, subversivo, deliciosamente subversivo. Adoro sair do quadrado, da bolha. Mas assumi mesmo o papel de mímico imitador de Chaplin durante uma apresentação numa gincana no Lafaiete Síder Clube. Foi um sucesso muito grande e tive de repetir a imitação em vários outros clubes, festas em escolas, aniversários... Depois de um tempo, passei a usar o personagem no carnaval e assim foi. Até hoje, quando me visto de Carlitos, ou Chaplin como a maioria diz, uso o mesmo terno surrado, o mesmo chapéu e a mesma bengala de mais de 30 anos atrás. Só o par de sapatos original perdi numa gincana em Piranga e a gravata num baile de carnaval. É muito legal, fico blindado quando me visto, volto no tempo, visto a vida com todas as suas cores, doces e sal. Deixo de ser eu próprio, sou mais intenso... e verdadeiro comigo próprio. Enfim, feliz.

 

 

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