Head

sexta-feira, 31 de março de 2023

ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

 Luciano Carrierri é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei um pouco com ele sobre essa paixão e como a narrativa é importante em tais jogos.

  1. Olá, Luciano. Como vai?

R: Tudo tranquilo Igor, e com você?

  1.  Tudo bem também! Então, vamos começar o nosso bate-papo. Qual foi o seu primeiro contato com os jogos de tabuleiro? Ele se deu na infância?

R: O primeiro contato, no Brasil, é sempre com os jogos mais comuns: WAR, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, etc. No meu caso, não foi diferente, quando criança jogava esses jogos, mas já percebia que tinha algo errado ali, as partidas não acabavam, os jogos eram muito dependentes de sorte e com pouca estratégia, portanto, bem frustrantes. Depois, descobri o Scrabble, Combate, Imagem e Ação, Detetive, Scotland Yard e as coisas melhoraram um pouco.

  1. Você joga tais jogos continuamente desde a infância ou retomou o hábito já adulto?

R: Tive que parar, por causa de uma treta que aconteceu no meu grupo de amigos, numa partida de Imagem e Ação. Fiquei mais de 10 anos sem jogar.

  1. Caso tenha voltado a jogar depois de adulto, o que motivou essa decisão? Como voltou ao tabuleiro, por assim dizer?

R: Ouvi um Nerdcast uma vez sobre jogos de tabuleiro, onde falaram sobre Zombicide e outros jogos, fiquei interessado. Fui tentar comprá-los, mas eram muito caros. Passou um tempo, a ideia foi amadurecendo e resolvi pedir um de aniversário. Fui na Leitura do BH Shopping e comprei um 7 Wonders, levado pela quantidade de prêmios que o jogo havia ganhado (esses prêmios vêm escritos na caixa). Levei o jogo para umas férias em família, passei 3 dias lendo o manual com muita atenção e chamei todo mundo para jogar. O pessoal quase perdeu a paciência com a explicação das regras, mas quando começou a partida, cabeças explodiram e jogamos três partidas seguidas.

  1. Quais foram os primeiros jogos desse seu triunfal retorno ao tabuleiro?

R: O primeiro, como já dito, foi o 7 Wonders, um draft de cartas fantástico. Depois veio o Zombicide, um jogo de matar zumbis, cheio de miniaturas, muito divertido, que faz um sucesso imenso até hoje. Por último, nessa primeira fase da volta, o The Godfather (O Poderoso Chefão), cuja a mecânica é alocação de trabalhadores, portanto um pouco mais estratégico, que serviu como transição para jogos mais pesados.

  1. Por ser uma atividade em grupo, como você encontrou uma turma que partilhava de interesses similares?

R: Existe um site que se chama Ludopedia, onde você consegue cadastrar jogos (sua coleção), partidas e outras várias funções, inclusive grupos. Nesta última, vi que dava para procurar por cidades. Achei 3 grupos em Conselheiro Lafaiete e entrei em contato. Um deles, por coincidência, era no meu bairro, e me respondeu que eles jogavam todo final de semana, aí deu pra começar a jogar bastante.

  1. Creio que deva ser um ambiente propício para desenvolver novas amizades. Como se deu isso para você?

R: Sim, apesar dos jogos de tabuleiro modernos serem um hobby muito de nicho, conseguimos reunir num grupo de WhatsApp quase 50 pessoas em minha cidade, Lafaiete. Todos muito amigos, receptivos e bastante dedicados. E essas amizades já foram para além do hobby.

  1. Quais as principais diferenças dos jogos de tabuleiro para os vídeos-games? O que leva os primeiros, às vezes, serem mais atraentes para a turma do tabuleiro?

R: Eu costumo dizer que os videogames são um entretenimento passivo, onde tudo é jogado para você na tela. Já os jogos de tabuleiro têm uma experiência ativa, social e, principalmente, tátil, que eu considero muito mais interessante e mentalmente estimulante. O pessoal dos tabuleiros prefere os videogames para experiências solo (jogando sozinhos). Quando há possibilidade de uma experiência mais social, vamos para o tabuleiro. Eu, facilmente abro mão do videogame, por uma partida de tabuleiro.

  1. Qual o papel das histórias, das narrativas, no mundo dos jogos de tabuleiro?

R: As narrativas são mais ligadas ao RPG, que nos jogos de tabuleiro são trazidas por jogos de um estilo chamado Ameritrash, que transpõem muito bem essa experiência.

  1. Quais são os principais tipos de jogos de tabuleiro e suas características?

R: São muitos, não dá para transcrever todos aqui, porque, para você ter uma ideia, existem livros inteiros classificando esses estilos. Mas, muito resumidamente, podemos colocar aqui party games, também chamados de jogos festivos ou de jogar com muitas pessoas, bons para trazer pessoas para o hobby; ameritrashes jogos mais temáticos, bonitos e com miniaturas, que, como eu já disse, são mais ligados à uma narrativa; card games, aqui se inserem todos os jogos de cartas; e os euro games jogos mais estratégicos e pouco dependente de sorte.

  1. Como a narrativa afeta cada um desses gêneros?

R: A narrativa afeta, na maioria das vezes, os ameritrashes. Esses jogos, geralmente, se desenvolvem em um mapa modular (tabuleiros que podem ser montados em várias combinações diferentes), onde as miniaturas vão andando e procurando itens, seja para melhorar o próprio personagem, seja para cumprir um objetivo de missão. Essa missão geralmente está ligada a um objetivo maior, estabelecido na campanha. Para fazer um paralelo, imagine um filme de aventura, como ”Senhor dos Anéis” ou um filme de suspense, como ”Alien, o 8º Passageiro”. Como é difícil resumir, uma dica é assistir vídeos no YouTube. Procurem por Mansions of Madness, Senhor dos Anéis: Jornadas na Terra Média e Nemesis. Em todas as buscas inclua as palavras “board game”.

  1. Qual o seu jogo de tabuleiro favorito?

R: Brass, um jogo econômico, bom para quebrar bastante a cabeça.

  1. Você poderia compartilhar uma memória de um momento engraçado, divertido ou interessante que transcorreu durante uma partida de algum jogo?

R: Momentos engraçados são difíceis de contar porque só tem graça para quem estava na hora, mas uma boa lembrança é a reunião de todo grupo em cinco mesas, na minha casa, para jogarmos o dia inteiro e ao final comermos pizza, feita no forno à lenha.

  1. Por fim, que conselho você daria para quem quer começar a jogar?

      R: Procure vídeos que indiquem jogos para começar a coleção. Defina o perfil de jogador com quem irá jogar. Por exemplo: pessoas com paciência para ouvir regras ou não; pessoas que já gostam de jogos de tabuleiro, etc. Comece por jogos mais leves, mas que, ao mesmo tempo, sejam interessantes, como os vencedores do prêmio Spiel des Jares. Procure por grupos de jogos na sua cidade, que sejam compatíveis com o tipo de jogo que você goste. Não trapaceie nas partidas, isso acabará com a sua experiência e com a dos outros e, naturalmente, os demais jogadores te excluirão do grupo sem você perceber.

 

sexta-feira, 24 de março de 2023

FAÇA A SUA HISTÓRIA – A ORDEM DAS PALAVRAS


Como contar uma boa história? Existem diversos formatos e mídias para se empregar em uma trama, mas não há como escapar do principal instrumento de toda narrativa: a palavra. Ela é o veículo principal de toda a comunicação, talvez se trate da maior invenção humana, pois através dela é possível transmitir conhecimento.

    No entanto, tal ferramenta não tem o reconhecimento que merece. Quase não nos lembramos dela. Usamos as palavras sem pensar muito em seu significado enquanto instrumento, sem ponderar a respeito de seu peso e, por que não, de seu poder. Ao dizer uma frase não apenas articulamos uma ideia ou um conceito, mas conseguimos exprimir nossas emoções e até mesmo persuadir o outro a agir da maneira como achamos mais conveniente.

Na narrativa, não é diferente. O contador de histórias, seja ele um escritor, roteirista, publicitário, ator etc., nada mais é do que um artesão cujo ofício nada mais é do que ordenar as palavras de uma forma que as mesmas não só façam sentido e transmitam a mensagem desejada, como também evoquem um sentimento, uma sensação em seu receptor.

Veja bem que é algo bastante subjetivo. Não se trata de uma emoção propriamente dita. Você pode ficar com raiva ou feliz com o que lê, mas tais sentimentos advêm do enredo propriamente dito, não da palavra. A sensação de uma construção frasal tem mais a ver com o sabor, com a textura que o leitor sente ao sorver o trabalho do artesão.

Tomemos como exemplo uma frase célebre da literatura:

 

“Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem. ”

 

    O trecho, acima reproduzido, é abertura de um dos capítulos do maravilhoso romance, de Jorge Amado, Capitães de Areia. O meu primeiro contato com a trama como se deu como uma leitura obrigatória para um vestibular que eu iria prestar, o qual, eu já nem sei mais... enfim, não foi preciso muito para fisgar a minha atenção. Já nesse ponto da obra, bem em seu início, eu já havia sido conquistado, porque Jorge Amado sabia o que estava fazendo. Não só tinha conhecimento de possuir uma grande história em suas mãos, como também soube contá-la, torna-la palatável para qualquer leitor!

terça-feira, 21 de março de 2023

BAR DOCE LAR

Durante o início dos anos 70, o jovem J.R. (Daniel Ranieri) volta com a Mãe (Lily Rabe) para a casa dos avós maternos, interpretados por Christopher Lloyd e Sondra James, devido a problemas financeiros. Lá também vive o tio Charlie (Ben Affleck), dono e bartender do bar The Dickens, cujo nome do estabelecimento é uma referência ao famoso romancista do século XIX Charles Dickens (1812-1870).

            O tio passa a ocupar o lugar de figura paterna na vida de J.R., ensinando-o lições e valores importantes com o propósito de torná-lo um adulto honesto e trabalhador, já que o pai biológico do garoto, um famoso radialista (Max Martini), não poderia se importar menos.

            Esta é a premissa de Bar Doce Bar (The Tender Bar, 2021, algo como O Bar Acolhedor ou Bar Afetuoso), dirigido por George Clooney, com base num roteiro de William Monahan que adapta o livro de memórias de mesmo nome de J.R. Moehringer.

            É um longa agradável, pois Clooney conseguiu obter boas atuações de seu elenco, principalmente de Ben Affleck, Lily Rabe e Christopher Lloyd. Tye Sheridan também entrega uma performance bastante convincente como um J.R. mais velho, no final da adolescência e início da idade adulta, principalmente durante a cena em que confronta o pai biológico de seu personagem.

            Não posso também deixar de me identificar com J.R, cuja maior ambição, vejam só, é se tornar um escritor. Não é uma tarefa fácil ou agradável o tempo todo. É necessária tremenda dedicação. A pessoa realmente tem de amar o que está fazendo.

            Se divago um pouco, é porque divido com o personagem a dúvida e insegurança quanto aquilo que se escreve, se é bom o suficiente, se tem a capacidade de tocar, de alguma forma, o leitor e assim fazer a diferença em sua vida.

 


 

Fontes:

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Dickens

https://www.imdb.com/title/tt3108894/

sábado, 18 de março de 2023

MAGNÓLIA

            Magnólia, filme de 1999, dirigido e escrito por Paul Thomas Anderson, é como uma grande teia de aranha, cujos fios unem os personagens e suas histórias.

            O enredo pode parecer, inicialmente, um tanto confuso, com tantos personagens díspares: Frank T. Mckay (Tom Cruise), o instrutor de um seminário que ensina homens a levarem as mulheres para a cama; o milionário moribundo Earl Partridge (Jason Robards, 1922-2000); sua esposa Linda (Julienne Moore, que entrega a melhor atuação do longa); o enfermeiro particular de Partridge, Phil Pharma (Philip Seymour Hoffman, 1967-2014), o apresentador do programa de perguntas e respostas ‘O que as Crianças Sabem?’, Jimmy Gator (Philip Baker Hall, 1931-2022); sua filha Claudia (Melora Waters), que por alguma razão está há anos brigada com o pai; o bondoso e atrapalhado policial Jim Kurring (John C. Reilly); e o antigo campeão do show apresentado por Gator, Donnie Smith (William H. Macy), agora um adulto fracassado, cujos pais ficaram com todos os recursos financeiros que ele ganhou no programa.

            Mas aos poucos as tramas vão se cruzando e o espectador passa entender melhor os elos que unem os personagens, sejam esses para o bem ou para o mal. Tudo é bastante complexo e as atuações do elenco são bastante convincentes, como no caso já mencionado de Julienne Moore ou a performance de canastrão de Tom Cruise, que deve ter vindo fácil para o astro, devido a autoconfiança que ele esbanja na vida real, além de ter conseguido imprimir uma grande nuance emocional num personagem tão cafajeste quanto Frank.

           O único problema é o filme é excessivamente longo e demora a engrenar a sua trama.


Nota: é preciso habilitar as legendas do trailer! 

Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt0175880/

https://www.imdb.com/title/tt0175880/fullcredits?ref_=tt_cl_sm

https://www.imdb.com/name/nm0001311/?ref_=ttfc_fc_cl_t20

https://www.imdb.com/name/nm0000450/?ref_=ttfc_fc_cl_t33

https://www.imdb.com/name/nm0001673/?ref_=ttfc_fc_cl_t34

 

 

terça-feira, 14 de março de 2023

FAÇA A SUA HISTÓRIA -O MITO E O CLICHÊ- O CASO DO SUPERMAN

        Ei, gente! Esse é o segundo artigo da série 'Faça a sua História'! Espero que gostem!

FAÇA  A SUA HISTÓRIA

-O MITO E O CLICHÊ-

O CASO DO SUPERMAN

         

Existe uma linha tênue entre o mito e o clichê. Enquanto o primeiro é uma história, ou melhor, um mote que já se tornou clássico e, por conta disso, é por todos lembrado, o segundo nada mais é que um mito diversas vezes repetido, a ponto de ter se desgastado.

Pegue-se o Superman por exemplo. O personagem é muito rico e carrega, em sua essência, ambos conceitos. A sua origem, como o último filho do planeta Kripton pode até parecer original, mas não é. Trata-se de uma releitura de uma história bíblica. Não acredita? Moisés, o libertador das tribos de Israel do Egito, foi abandonado, ainda bebê, por sua mãe, num cesto em um rio, tendo sido posteriormente encontrado pela filha do faraó. Familiar? Substitua um cesto por uma nave espacial, o rio pelo universo, e têm-se a origem do Superman.


Mas isso não a torna menos válida. As circunstâncias se assemelham, mas também muito diferem. A construção de um personagem, de uma história como um todo, nada mais é que uma colcha de retalhos. Ainda no caso do Super, pode-se identificar mais um aspecto de cunho religioso: os poderes do kriptoniano advém do Sol, assim como os do deus Apolo da mitologia grega. Novamente, percebe-se uma roupagem semelhante, mas os conceitos divergem drasticamente a partir do ponto em que se dá uma explicação científica para os poderes do Homem do Amanhã: suas células kriptonianas funcionam como uma bateria solar, que absorvem a radiação de nosso astro amarelo concedendo incríveis habilidades ao Sr. Kent, que de outra forma não as teria, pois o sol de seu planeta natal era vermelho.

Por falar em Clark Kent, outra vez depara-se com um conceito reaproveitado: a da persona pública atrapalhada e introvertida, em contraste com a sua audaciosa identidade heroica. Pouco menos de duas décadas antes, em 1919 (o lançamento do Superman foi em 1938), o personagem Zorro já exibia tal dualidade entre a sua versão encapuzada e sua pacata identidade civil como Don Diego de la Veja. Antes dele, o Pimpinela Escarlate, personagem criado pela Baronesa Orczy, já possuía a mesma característica, assim como incontáveis outros heróis.

Isso os torna menos interessantes ou originais? Obviamente que não. Como um último exemplo, pegue-se Lois Lane, o par romântico do Superman. Ela é o clichê de todo interesse amoroso da época e de muito antes disso: a donzela em perigo. Mas o seu papel nas histórias não se limita a isso: também possuía uma profissão: a de repórter, diferenciando-as das socialites que povoavam a época. Era o seu trabalho que a punha em perigo. Essa quebra de paradigma foi importante para que personagens protagonistas femininas surgissem, como a Mulher-Maravilha, em 1941.

Aproveite e leia também os demais artigos da série:

FAÇA A SUA HISTÓRIA – O CASO SEINFELD

FAÇA A SUA HISTÓRIA – A ORDEM DAS PALAVRAS


sexta-feira, 10 de março de 2023

LA BAMBA

         O meu primeiro contato com o filme ‘La Bamba’, escrito e dirigido por Luís Valdez, foi através da Sessão da Tarde, em meados dos anos 2000, quando ainda era um adolescente, mas por alguma razão não terminei de assisti-lo, talvez por tido outra coisa mais importante para fazer, o que foi uma pena, pois trata-se de uma película bastante divertida.

           Agora, mais de uma década depois,  pude finalmente assisti-lo por completo. É uma trama animada que conta a rápida ascensão a fama de Ritchie Valens (Lou Diamond Phillips). Para quem não sabe, Valens foi uma figura real, um dos pioneiros do rock, durante o final dos anos 50, junto a figuras como Buddy Holly e Eddie Cochran.

       Ritchie alcançou a fama muito cedo, mal tendo completado os seus dezessete anos de idade. Por conta disso, podemos presenciar a sua juventude, o apoio incondicional que recebeu de sua mãe, Connie (Rosanna DeSoto), em relação a sua carreira, o seu conturbado relacionamento com o seu irmão mais velho Bob (Esai Morales, de longe a melhor e mais profunda performance de todo filme) e o seu primeiro amor, Donna (Danielle von Zerneck), para quem o cantor chega a compor uma canção de mesmo nome.

            Em suma, ‘La Bamba’ é um filme sobre amadurecimento, do quão árduo é se tornar um adulto, ainda mais nas circunstâncias em que Valens teve de fazê-lo, mas o fez com muito bom humor e belas músicas, honrando as origens mexicanas de sua família, adaptando a canção popular latina, que dá nome ao filme, ao clássico do rock que hoje conhecemos.

 





Nota: não achei o trailer dublado, mas é só ativar as legendas em português nas configurações do vídeo.

Fontes:

 

https://www.imdb.com/title/tt0093378/

 

segunda-feira, 6 de março de 2023

FAÇA A SUA HISTÓRIA - O CASO SEINFELD - ARTIGO PILOTO

 Olá, gente! Esse é um novo projeto que estou pensando em desenvolver aqui, no The End:  uma série de artigos sobre como é criar/contar uma história. Dependo da aceitação, eu continuo! Então, se vocês gostarem deixem um comentário na postagem!

O CASO SEINFELD

O que faz uma boa história? Aliás, o que é uma história? Estamos rodeados por elas, vivemo-las diariamente, sem lhes dar muita atenção. Ainda assim, todos temos uma. É algo tão importante, na existência humana, que nos dedicamos a criar outras por pura diversão.

Entretanto, se você perguntar para diversas pessoas o que faz uma história ser boa, elas não vão saber responder com clareza. É óbvio que vão ter uma noção intuitiva, mas terão dificuldades de articular o conceito em palavras.

    Têm que ter princípio, meio e fim? De preferência, sim. No entanto, a técnica narrativa evoluiu tanto que temos tramas com finais abertos ou que se encerram justamente da forma que começaram. Um exemplo desse último tipo de enredo é a sitcom Seinfeld, que termina com os seus personagens tendo uma conversa idêntica a que tiveram no episódio piloto. Um dos personagens, George Constanza creio eu, até mesmo denota o fato.

A questão é que Seinfeld foi projetado como um seriado no qual os personagens não evoluiriam e não aprenderiam com seus erros, permanecendo os mesmos durante toda a duração do programa. Agora, muitos devem estar se perguntando qual a graça de assistir a um show assim, com nenhuma história (outra marca da sitcom, descrita por seus criadores, Jerry Seinfeld e Larry David, como sendo sobre o nada). 

Em primeiro lugar, trata-se de uma comédia, formato cujo principal objetivo é justamente despertar o riso. Em segundo lugar, mesmo que não seja possível ter uma identificação profunda com os personagens, algo que atrai espectadores como moscas ao mel para uma trama, somos inconscientemente atraídos por suas personalidades. Afinal, quem nunca sentiu vontade de dizer ou fazer o que quiser, sem se importar com as consequências?

É por isso que histórias como Seinfeld funcionam tão bem. São como válvulas de escape que podem ser utilizadas como forma de relaxar, por exemplo, após um dia exaustivo de trabalho.

Leia os demais artigos da série!

FAÇA A SUA HISTÓRIA - O MITO E O CLICHÊ

FAÇA A SUA HISTÓRIA - A ORDEM DAS PALAVRAS


quinta-feira, 2 de março de 2023

SEBERG CONTRA TODOS

       Existe uma tênue linha entre o certo e o errado e este filme, ‘Seberg Contra Todos’ (Seberg, 2019), dirigido por Benedict Andrews e roteirizado por Joe Shrapnel e Anna Waterhouse, com base na vida da atriz Jean Seberg (1938-1979), interpretada por Kristen Stewart, é sobre isso, como também sobre ideologias e o que acontece quando diferentes crenças entram em conflito.

          De um lado, temos Jean, alguém que quer fazer algo mais no mundo do que meramente atuar. Ela se importa, quer fazer do planeta um lugar melhor, encontrando a sua causa junto ao movimento negro e a luta pelos direitos civis, no final dos anos 60, em Los Angeles, apesar de ser uma mulher branca. 

            Do outro, temos o FBI, ainda na era Hoover (J. Edgar Hoover foi o primeiro diretor da agência durante o período de 1935 a 1972), aqui representado pelos agentes Jack Solomon (Jack O'Connell) e Carl Kowalski (Vince Vaughn), responsáveis pela campanha de difamação da atriz, expondo, por exemplo, o caso dela, que ainda estava casada com Romain Gary (Yvan Attal) na época, com o militante negro Hakim Jamal (Anthony Mackie).

            É um filme profundo, ainda mais pelas excelentes atuações de Kristen Stewart, que se reinventou durante a última década em Hollywood, e Vince Vaughn, que demonstrou toda a sua versatilidade de transitar entre gêneros tão díspares como o drama, caso deste filme, e a comédia, gênero no qual está mais acostumado a trabalhar.

            Mas o mais interessante de tudo é o contraste que se tem com a atualidade, na qual prevalece o tal “lugar de fala”, coisa que não deveria existir, pois qualquer cidadão, independentemente de seu gênero, etnia e sexualidade, tem o dever moral, se não de fazer, pelo menos de dizer algo quando se depara com alguma situação errada.  


Fontes: 

https://www.imdb.com/title/tt1780967/

https://pt.wikipedia.org/wiki/J._Edgar_Hoover




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

À PROVA DE FOGO

 

           Este filme, de 2008, dirigido por Alex Kendrick, narra a história do bombeiro Caleb Holt (Kirk Cameron) e de sua esposa Catherine (Erin Bethea), que passam por problemas conjugais.

            A situação é tão tensa que leva o pai de Caleb, John (Harris Malcom), a intervir, incitando-o filho a realizar o desafio do amor, um programa de quarenta passos, um por dia, para tentar salvar o casamento.

            A mensagem que a trama passa é bonita, cheia de esperança e da crença de segundas chances. No entanto, acho difícil que algo como o relatado no enredo acontecer de verdade, pois numa das primeiras cenas do filme, na qual Caleb discute com Catherine, ele a encurrala contra uma parede, gritando com a esposa de maneira para lá de grosseira, deixando-a totalmente acuada, no que, ao me ver, constitui uma forma de abuso psicológico e verbal, de modo a se enquadrar na Lei Maria da Penha, se a situação se passasse em terras brasileiras.

            No lugar de Catherine, qualquer um teria abandonado o barco ali mesmo, pois tratamentos como esse, por parte de um dos cônjuges, só tendem a escalar e para muito pior. Mas como se trata de um filme, a redenção está garantida.

     No geral, vale a pena assistir se você está com vontade de ver algo leve e com um final feliz.


 

Fontes:

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Fireproof_(filme)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

AFINADO NO AMOR

               Ei, alguém lembra de quando as comédias do Adam Sandler eram boas? Nem eu. Brincadeiras à parte, são raríssimas as exceções em que alguma película estrelada por tal ator seja boa, a não ser aquelas, por exemplo, em que ele contracena com Drew Barrymore.

           É o caso de ‘Afinado no Amor’ (The Wedding Singer, ‘O Cantor de Casamentos’, 1998), dirigido por Frank Coraci e roteirizado por Tim Herlihy). E não é a atuação de Sandler, uma versão caricata de si mesmo, como em todos os seus filmes de comédia, que ajuda em alguma coisa.

             O que torna tudo agradável e até mesmo bom é a junção da interpretação de Drew Barrymore, disparadamente a melhor atriz do elenco, com um roteiro razoável, o suficiente para acabar com algumas horas de tédio.

            O enredo gira em torno de Robbie (Adam Sandler), um cantor de casamentos que é abandonado no altar durante o seu, que acaba se apaixonando por Julia (Drew Barrymore), uma garçonete do bufê que atende aos mesmos casamentos em que Robbie canta (o que Sandler definitivamente não sabe fazer).

            O único problema é Glenn (Matthew Glave), o arrogante noivo de Julia que trabalha em Wall Street. Mas como em toda comédia romântica que se preze, tal obstáculo será superado até o final do filme, o que não deve ser surpresa para ninguém.

            Se você está se sentindo nostálgico, afinal a trama se desenrola em 1985, um pouco entediado ou precisando relaxar, é uma boa dica para espairecer. Só não espere uma experiência transformadora ou algum acréscimo a sua cultura.

 


Nota: é preciso ativar as legendas do trailer. 

Fontes:

 https://www.imdb.com/title/tt0120888/

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

ENTREVISTA COM O FILÓSOFO E ESCRITOR MARCELO PEREIRA RODRIGUES

 O filósofo, escritor, palestrante, agente literário, editor da Revista Conhece-te há mais de duas décadas e articulista d´O Barrete, de Portugal, Marcelo Pereira Rodrigues, 48 anos, é uma personalidade criativa e inquieta. Vivendo de literatura no Brasil há mais de duas décadas, viu o seu trabalho chegar a diversos países tais Portugal, Espanha, Sérvia, México, Estados Unidos, Costa Rica, Guatemala, Índia, Bangladesh, Paquistão, Uzbequistão, Peru e se fôssemos listar aqui, a enumeração seria longa.

Uma de suas facetas é a de ser cinéfilo. Nesta entrevista onde conta muito de sua vitoriosa carreira, encontramos oportunidade para conversarmos sobre cinema. Embora refute a pecha de cinéfilo, escreveu cerca de duzentas resenhas e análises de películas para uma publicação em Portugal. Brincando, afirma que quase foi preso pela polícia aos 14 anos após ter assistido a um filme pornográfico. Sua paixão pela Sétima Arte se estende ao infinito, ainda mais agora que oferece seus roteiros a produtores mundo afora. Com desenvoltura e leveza, elenca os seus filmes favoritos, atores e atrizes e suspeita que teve um argumento plagiado em um filme que venceu o Oscar.

Curiosos? Leiam a entrevista na íntegra...

 

IC – Olá Marcelo. Como vai?

MPR – Olá Igor. Vou bem, obrigado por perguntar.

 

IC – Por que não começa nos falando um pouco sobre você?

MPR – Boa a sessão de psicanálise. Na verdade, não gosto muito de falar de mim. Ao longo dos tempos, consegui plataformas que expõem os meus trabalhos e fico satisfeito desta forma. Como sou escritor em tempo integral, possuo trabalhos como editor da Revista Conhece-te; como articulista de uma revista em Portugal, O Barrete; escrevo os livros e está tudo contido no meu site oficial; além disso faço os meus agenciamentos literários e dou palestras. Enfim, graças a este caudaloso trabalho me transformei em um Edson falando do Pelé. Se eu não fosse eu, admiraria muito o Marcelo Pereira Rodrigues. Mas como eu sou eu, fico encabulado de dizer quem eu sou. Esta parte confusa e existencial se deve à minha formação, Filosofia.

 

IC – O que o levou a cursar Filosofia?

MPR – Certamente por inaptidão a outras profissões tidas como importantes e que dão dinheiro. Sempre passei ao largo de status e direcionamentos de outros, nunca fui Maria vai com as outras. Já lia Filosofia bem antes de ingressar na UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rey) no longínquo ano de 1998. Cursar significa um caminho e o percorri com muitos estudos e investigações. Quando saí formado da instituição tinha uma base sólida e continuei estudando alguns clássicos, especializando-me em Friedrich Nietzsche e Jean-Paul Sartre, mas tudo numa busca pessoal interessante. Até hoje a disciplina me acompanha e herdei dela a forma de ver o mundo, mais contemplativo e sem pressa para aderir a modismos e ideologias partidárias tolas. Aliás, não adiro a nada, a não ser o sagrado compromisso de pensar com a minha própria cabeça.

 

IC – Como surgiu a Revista Conhece-te, da qual você é editor?

MPR – Surgiu meio que por acaso. Antes mesmo de ter me formado, ministrei um curso livre de Filosofia ao qual intitulei “Conhece-te a ti mesmo” (o slogan do templo de Delfos e ao qual Sócrates se aferrava). Bom, nestas turmas de 10, 12 alunos, começamos a discutir temas da nossa contemporaneidade à luz da Filosofia e surgiu em mim a ideia de publicar um informativo. Desta forma veio a público a 1ª edição deste periódico, uma folha apenas, frente e verso, com o pomposo nome de Informativo do Curso Livre de Filosofia Conhece-te a ti mesmo. Isso em março de 2001. No mês seguinte, apareceu a 2ª edição e mal sabia eu que 22 anos após, persistiríamos com 265 edições mensais impressas ininterruptas. Obviamente que ao longo dos tempos melhoramos bastante, fomos reduzindo o nome da publicação até chegarmos a este formato Revista Conhece-te. Engraçado que os cursos terminaram e a publicação continuou. Hoje a Revista Conhece-te é lida por gente do Brasil inteiro e chegou até ao exterior. Uma história de sucesso que pode ser consultada em www.revistaconhecete.com.br 

 

IC – O que o levou a se tornar escritor?

MPR – Sempre gostei muito de ler, desde criança. Nas aulas de Português, adorava o momento em que as professoras mandavam fazer Redação. O que poderia ser martírio para muitos, para mim era deleite. Desde criança gostava de compor histórias e confesso que era um baita mentiroso. Inventava situações e me encantava observar como adultos caiam nas minhas mentiras. Mas eram mentiras leves, bobas, fantasiosas. Quando estava na faculdade, não tinha em mente me tornar professor nem seguir carreira acadêmica. Encontrei na escrita vazão para a minha criatividade. Comecei a perceber em mim um estilo de escrever irônico e debochado, não que eu fizesse força. Tive algumas escaramuças na UFSJ por conta de minhas ideias publicadas em um mural chamado “Dus Campi Libre Novedad”. Tomei gosto pela coisa. Quando comecei a publicar a Revista Conhece-te e a colaborar para jornais do Brasil inteiro, percebi que tinha talento para a profissão. Meus textos provocativos passavam ao largo da indiferença, amealhando elogios e insultos. Sou indiferente a essas recepções ao meu trabalho. Daí a reunir crônicas e lançar os meus dois primeiros livros, “Muito Humano Demais” e “Nós” foi um pulo. Aliás, neste ano de 2023 faz 20 anos da publicação de “Nós”. Daí estreei no romance e a coisa engrenou. 15 livros depois e bastante repercussão no Brasil e no exterior fazem-me sentir bastante orgulho desta verdadeira saga, que pode ser consultada em www.marcelopereirarodrigues.com.br 

 

IC – Como foi o processo de publicação do seu primeiro livro?

MPR – O processo foi horroroso, traumático. Contou com uma confecção amadora, com tiragem de 500 (quinhentos) exemplares feitos em uma gráfica. A diagramação foi horrorosa, a correção ortográfica abaixo da crítica. Desgostei deste trabalho por um bom tempo. Até que em 2015 recebi uma proposta de uma boa editora do Rio de Janeiro para uma 2ª edição e aí a produção foi bem mais profissional. Aproveito esta sua pergunta para indicar a jovens escritores o auxílio de um profissional qualificado para produzir o seu respectivo livro. Atualmente sou sócio de uma agência literária que visa auxiliar a estes autores. É um desperdício jogarmos árvores no chão para produzirmos porcarias, não acha? Pelo menos esta minha primeira má experiência me serviu de lição: afaste-se de incompetentes e amadores e busque os melhores profissionais. É o que sempre indico a quem se aventura a escrever um livro.

 

IC – Como se deu o seu primeiro contato com o cinema?

MPR – O primeiro contato com o cinema foi assistindo a um filme pornográfico num cine que funcionava na Rua Marechal Floriano, no Clube Dom Pedro, em Conselheiro Lafaiete. Tinha 14 anos e os hormônios estavam soltando pelos poros. Conhecidos mais velhos fizeram ver ao homem da bilheteria que eu tinha 18 anos. No dia seguinte fiquei com medo de a polícia me prender, pois os meus vizinhos me alertaram que um policial estava atrás de mim. Pode isso?! Ainda bem que esmerei bastante o meu gosto. Frequentava o cinema na Rua Tavares de Melo anos depois e lembro-me de filmes que assisti ali, como “Eternamente Jovem”, “Perdas e Danos”, “Independency Day”, “Mulher Solteira Procura... alugar um apartamento pode ser fatal”, “O Retorno de um Estranho” (com Richard Gere), “Os Imperdoáveis” e outros. 

 

IC – Qual o papel do cinema na sua obra, no seu trabalho e na sua vida?

MPR – Como sou escritor de novelas, romances e ficções, acaba que fica muito próximo de um roteiro para filmes. Nestes últimos tempos tenho me aventurado a oferecer estes meus escritos a produtores do audiovisual. Tive um direito autoral comprado e estou no aguardo de ver no que vai dar. Assim, como não dissocio uma coisa de outra, trabalho-vida-obra, o cinema é fundamental, a válvula de escape que me faz viajar a outros mundos, assim como a arte nos permite, através da leitura de um excelente livro; visitarmos exposições em museus e ir a grandes shows musicais tais Guns N´Roses, Metallica e Kiss. Voltando ao cinema, é difícil uma semana onde não assista pelo menos a quatro filmes, a Sétima Arte não passa ao largo de minha percepção.

 

IC – Como a Sétima Arte se relaciona à Filosofia?

MPR – Do meu ponto de vista, através do aspecto multidisciplinar. Acredito que o bom filósofo e escritor deva ser uma verdadeira esponja para coisas boas: cinema, artes plásticas, música, teatro, pinturas, esculturas etc. Sou plástico na forma de me conduzir no mundo. Esse espectro cultural é fundamental para aplicarmos a filosofia e o juízo crítico em todas as áreas da nossa vida.   

 

IC – Qual o seu ator preferido? Por que?

MPR – Impossível responder a esta pergunta, pelo viés da singularidade. Irei me estender na pluralidade. Sabe estes atores que se doam para o trabalho e que parecem perderem a conexão com o mundo real? Amo esta entrega e admiro demais Daniel Day-Lewis, Heath Leager (falecido, enquanto terminou o seu papel como Coringa no filme “Batman, O Cavaleiro das Trevas”), Philip Seymour Hoffman (também falecido) e os lendários Jack Nicholson (do qual li até uma biografia), Clint Eastwood, Tom Hanks (formidável!), Christian Bale (outro que se doa ao ofício, emagrecendo ou engordando horrores), Joaquin Phoenix, Ricardo Darín (argentino), Morgan Freeman, Al Pacino, Leonardo DiCaprio, Michael Keaton, Daniel Craig, Woody Harrelson, Edward Norton (genial!) e Sylvester Stallone (só ele para ser tão bom e canastrão ao mesmo tempo). Sei que ao findar esta lista deixarei de fora outros excelentes.

 

IC – E atriz? Por que?

MPR – Talvez as feministas não irão gostar muito do que eu vou responder, mas admiro a beleza de verdadeiras divas tais Scarlett Johansson, Hillary Swank, Jodie Foster e outras. Nas interpretações admiro a Scarlett que consegue até a ousadia de ficar menos bela do que é, mas, analisando um pouco mais a fundo, percebo que mesmo Hollywood acaba dando mais protagonismo aos homens, não tenho dados específicos, trata-se de uma percepção. Brincaram que a Meryl Streep sempre é indicada ao Oscar de Melhor Atriz e não vence, azar do Oscar! Ela atua muito bem.

 

IC – Qual o seu filme favorito?

MPR – Mais uma vez, serei plural. Assisti com minha mãe e minha tia ao clássico “Doutor Jivago” e aquilo me marcou, mesmo que eu não entendesse patavina com os meus 10 anos. Mas fiquei petrificado ao assistir a “King Kong”, naquela versão de 1976, com a linda Jessica Lange. Na minha seleção entraria facilmente “Cinema Paradiso”, “A Vida É Bela”, “O Poderoso Chefão”, “O Povo Contra Larry Flint”, “Os Imperdoáveis” (com Clint Eastwood), “Titanic”, “Melhor É Impossível”, “Django” (do Quentin Tarantino), “Batman O Cavaleiro das Trevas”, “Meia-Noite em Paris”, “O Último Tango em Paris”, “1492 A Conquista do Paraíso” (o épico de Ridley Scott sobre a descoberta da América”, “O Lobo de Wall Street”, “Táxi Driver”, “Amadeus”, “Medianera” (argentino), “Parasita” (sul-coreano), “Sete Anos no Tibet”, todos os “Rambo” (sendo o II, “A Missão” o melhor) todos do Hitchcock e Woody Allen e se ficar aqui enumerando esta entrevista não acaba nunca. Quanto às nacionalidades, fora Hollywood onde os caras sabem fazer cinema, destacaria os argentinos, espanhóis, franceses, dinamarqueses e noruegueses.

 

IC – E você tem uma cena especial que lhe marcou? Não necessariamente ligada ao filme da questão anterior.

MPR – Tenho uma que está ligada ao meu trabalho e é bastante curiosa. Está contida numa entrevista que concedi ao programa “Iluminuras” da TV Justiça. Estava no cinema assistindo a “Birdman ou (A Inesperada Virtude Da Ignorância)” e uma cena lá me chamou a atenção. Quando o protagonista, interpretado pelo Michael Keaton fica preso de cueca do lado de fora do teatro e isso se transforma em um escândalo pela mídia sensacionalista e pela revolução que começou a acontecer naquele ano, 2014, quando uma pessoa com um smartphone podia gravar tudo e a privacidade acabava indo para o beleléu. Aquilo me marcou e depois senti (e verifiquei) que já havia escrito uma passagem no meu romance “Corda Sobre O Abismo”, lançado no ano anterior, que falava mais ou menos a mesma coisa. Essa similaridade de roteiros me deixou bastante feliz. Longe de mim aventar plágio do diretor, mas quando soube que o filme venceu o Oscar fiquei mais feliz ainda. No ano de 2015, quando “Corda Sobre O Abismo” foi publicado em Portugal, com uma tradução para o português de lá, inseri uma notinha esclarecendo a similaridade entre a minha ideia e o roteiro do filme. Brinquei atribuindo um subtítulo a esta versão portuguesa e assim o livro passou a se chamar “Corda Sobre O Abismo O Elogio Da Desesperança”. Dificilmente esta cena deixará de ser a minha especial, no dia em que encontrar o diretor de “Birdman”, Alejandro González Iñárritu, irei cobrar dele a minha comissão.          

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

PODRES DE RICOS


Eu esperava, ao assistir ao filme Podres de Ricos (Crazy Rich Asians, 2018, algo como Asiáticos Ricos e Loucos), deparar-me com uma comédia, no máximo uma comédia romântica com algumas pitadas de drama, mas não poderia estar mais enganado.

       Dirigido por Jon M. Chu e roteirizado por Peter Chiarelli e Adele Lim, com base no livro Asiáticos Podres de Ricos (também Crazy Rich Asians no original), de  Kevin Kwan, o enredo é um drama com pitadas de humor, cuja premissa é bem simples: Nick Young (Henry Golding) decide levar a namorada Rachel Chu (Constance Wu), uma professora de economia, mais especificamente da Teoria dos Jogos, da Universidade de Nova Iorque, para conhecer a sua família em Singapura, durante o casamento de um amigo do qual será padrinho.

Tudo estaria bem se não fosse por um detalhe: Nick esqueceu de mencionar, para a namorada, que a sua família é... bem, podre de rica. Daí vem, obviamente, o conflito da trama, a boa e velha diferença de classes sociais. No entanto, a situação não é a mesma que no ocidente, pois a cultura asiática é muito mais tradicionalista que a nossa, pondo a família e os seus interesses, acima da felicidade individual.

Não deixa de ser um clichê, o do asiático honrado, trabalhador e dedicado aos seus, mas pelo visto é uma situação que ainda impera massivamente entre as famílias chinesas, cuja geração atual vem tentando quebrar.

É difícil não exprimir um julgamento de valor sobre o que se passa no filme, mas é pertinente lembrar que todos nós, que o assistimos, mesmo os descendentes de asiáticos, possuímos um viés ocidental de visão de mundo, como a própria mãe de Rachel, Kerry (Tan Kheng Hua), explica para a filha, antes da mesma partir para Singapura: você pode ser chinesa, mas tanto no coração quanto no seu cérebro, a sua mentalidade é ocidental.

Tal aviso não quer dizer que uma cultura é certa ou melhor que a outra, mas uma mera lembrança de que quando se viaja para locais até então desconhecidos, o viajante que deve adaptar-se à cultura da região e não o contrário.

 


Fontes:

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Crazy_Rich_Asians

 

sábado, 11 de fevereiro de 2023

UMA DOCE CHUVA...

            A música tem uma relação íntima com a sétima arte, pois enquanto esta última dá vida as histórias contadas na tela grande, a primeira tem a capacidade de despertar as mais profundas emoções em qualquer ser humano.

           É algo instantâneo, que vem do fundo do peito e faz a gente sorrir ou chorar junto do personagem cuja trama acompanhamos. Afinal, quiséramos nós ter uma trilha sonora para embalar nossas vidas. Assim, tudo ficaria mais fácil nos momentos difíceis.

            No entanto, não é uma tarefa fácil casar uma cena com uma melodia. O timing tem de ser perfeito e a música realmente corresponder as emoções e sensações que o personagem vivencia. O músico recentemente falecido Burt Bacharach (1928-2023) conseguia fazê-lo com perfeição, não só tendo composto canções como I Say a Little Prayer (Eu faço uma Pequena Oração, numa tradução literal), imortalizada na voz de Aretha Franklin, como também músicas para trilhas sonoras, sendo a mais marcante delas, na minha humilde opinião, Raindrops Keep Fallin' on My Head (Gotas de Chuva continuam caindo na minha Cabeça), composta em parceria com o letrista Hal David (1921- 2012).

            Tal música ganhou o Oscar de Melhor Canção Original para ambos, fazendo parte do filme Butch Cassidy, de 1969, dirigido por      George Roy Hill (1921-2002), estrelando Paul Newman (1925-2008) no papel título e Robert Redford como Sundance Kid e a belíssima Katharine Ross como Etta Place. Além de ser um dos melhores faroestes que eu já vi, também conta uma das mais belas e emblemáticas cenas de todo o cinema, justamente embalada por Raindrops. É quando Butch e Etta andam de despreocupadamente de bicicleta, apesar dos problemas em que estão metidos até o pescoço, e ainda assim conseguem arrumar mais confusão. Vale a pena assistir. Não deixem de conferir o vídeo abaixo.

  



 

Fontes:

 https://www.omelete.com.br/musica/burt-bacharach-importante-compositor-do-pop-morre-aos-94-anos

https://pt.wikipedia.org/wiki/Burt_Bacharach

https://pt.wikipedia.org/wiki/Raindrops_Keep_Fallin%27_on_My_Head

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hal_David

https://pt.wikipedia.org/wiki/George_Roy_Hill

https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Newman

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

FUGA DO PASSADO

      Às vezes, as pessoas até tentam, mas não conseguem escapar de seus passados, que voltam para assombrá-las e cobrar o seu preço. É o caso de ‘Fuga do Passado’ (Out of the Past), filme de 1947, dirigido por Jacques Tourneur (1904-1977) e escrito por Daniel Mainwaring (1902-1977), com base no romance Build My Gallows High, de 1946 (algo como ‘Construam minha Forca Alto’), que o roteirista escreveu sobre o pseudônimo de Geoffrey Homes.

      Trata-se de uma trama contada no clássico estilo noir: rodada em preto e branco, com detetives de chapéus e sobretudos, além, é claro, de uma femme fatale da melhor espécie.

        A ação começa com Joe (Paul Valentine, 1919-2006) chegando a pequena cidade de Bridgeport, atrás de um tal de Jeff Bailey (Robert Mitchum,1917-1997), aparentemente um pacato dono de posto de gasolina que havia saído para pescar com a sua namorada Ann (Virginia Huston, 1925-1981).

     Então, quando Joe finalmente encontra Jeff, no posto de gasolina, descobrimos que ele era um detetive particular com negócios inacabados com um tal de Whit (Kirk Douglas, 1916-2020). Joe intima Jeff a encontrar com o seu antigo cliente, em uma propriedade às margens do Lago Tahoe, no dia seguinte, de modo que tais assuntos pendentes possam ser encerrados.

         Sem outra alternativa, Jeff acata a ordem, indo até o local junto de Ann, na data combinada. Durante a viagem de carro, Jeff aproveita para esclarecer as coisas para a sua namorada: o seu sobrenome não é Bailey, como fez todos acreditarem, mas Markham, e uma vez ele havia sido contratado por Whit para encontrar a sua garota, Kathie (Jane Greer, 1924-2001), que havia desaparecido depois de atirar em seu amante (que obviamente sobreviveu para poder contratar Jeff) e surrupiar a quantia de quarenta mil dólares.

     O interessante é que a principal motivação de Whit não é recuperar a sua grana ou se vingar, mas ter Kathie de volta, pois a atração que sente por ela é maior que qualquer desejo de desforra que pudesse nutrir contra a mesma.

       Tudo parecia acertado e muito simples de resolver, afinal, o quão difícil poderia ser, para Jeff, achar uma garota fujona e levá-la de volta ao seu “bem-feitor”? Mas o detetive comete o erro de se apaixonar e fugir com Kathie.

      E é com essa sensação de não saber o que vai acontecer em seguida que o espectador assiste Jeff despedir-se de Ann, que vai embora no carro do namorado, no portão da casa nas margens do Lago Tahoe.

     Daí para frente a ação e as reviravoltas se acumulam uma após a outra, deixando quem assiste vidrado para saber quem vai vencer o jogo de gato e rato que se segue, uma ótima pedida para quem é fã de filmes noir ou de suspenses em geral.


Nota: é necessário ativar as legendas do vídeo, pois não achei o trailer dublado. 

Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Out_of_the_Past

https://en.wikipedia.org/wiki/Jacques_Tourneur

https://en.wikipedia.org/wiki/Daniel_Mainwaring

https://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Valentine

https://en.wikipedia.org/wiki/Virginia_Huston

https://en.wikipedia.org/wiki/Kirk_Douglas

https://en.wikipedia.org/wiki/Jane_Greer

ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

  Luciano Carrierri  é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei ...