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terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

PODRES DE RICOS


Eu esperava, ao assistir ao filme Podres de Ricos (Crazy Rich Asians, 2018, algo como Asiáticos Ricos e Loucos), deparar-me com uma comédia, no máximo uma comédia romântica com algumas pitadas de drama, mas não poderia estar mais enganado.

       Dirigido por Jon M. Chu e roteirizado por Peter Chiarelli e Adele Lim, com base no livro Asiáticos Podres de Ricos (também Crazy Rich Asians no original), de  Kevin Kwan, o enredo é um drama com pitadas de humor, cuja premissa é bem simples: Nick Young (Henry Golding) decide levar a namorada Rachel Chu (Constance Wu), uma professora de economia, mais especificamente da Teoria dos Jogos, da Universidade de Nova Iorque, para conhecer a sua família em Singapura, durante o casamento de um amigo do qual será padrinho.

Tudo estaria bem se não fosse por um detalhe: Nick esqueceu de mencionar, para a namorada, que a sua família é... bem, podre de rica. Daí vem, obviamente, o conflito da trama, a boa e velha diferença de classes sociais. No entanto, a situação não é a mesma que no ocidente, pois a cultura asiática é muito mais tradicionalista que a nossa, pondo a família e os seus interesses, acima da felicidade individual.

Não deixa de ser um clichê, o do asiático honrado, trabalhador e dedicado aos seus, mas pelo visto é uma situação que ainda impera massivamente entre as famílias chinesas, cuja geração atual vem tentando quebrar.

É difícil não exprimir um julgamento de valor sobre o que se passa no filme, mas é pertinente lembrar que todos nós, que o assistimos, mesmo os descendentes de asiáticos, possuímos um viés ocidental de visão de mundo, como a própria mãe de Rachel, Kerry (Tan Kheng Hua), explica para a filha, antes da mesma partir para Singapura: você pode ser chinesa, mas tanto no coração quanto no seu cérebro, a sua mentalidade é ocidental.

Tal aviso não quer dizer que uma cultura é certa ou melhor que a outra, mas uma mera lembrança de que quando se viaja para locais até então desconhecidos, o viajante que deve adaptar-se à cultura da região e não o contrário.

 


Fontes:

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Crazy_Rich_Asians

 

sábado, 11 de fevereiro de 2023

UMA DOCE CHUVA...

            A música tem uma relação íntima com a sétima arte, pois enquanto esta última dá vida as histórias contadas na tela grande, a primeira tem a capacidade de despertar as mais profundas emoções em qualquer ser humano.

           É algo instantâneo, que vem do fundo do peito e faz a gente sorrir ou chorar junto do personagem cuja trama acompanhamos. Afinal, quiséramos nós ter uma trilha sonora para embalar nossas vidas. Assim, tudo ficaria mais fácil nos momentos difíceis.

            No entanto, não é uma tarefa fácil casar uma cena com uma melodia. O timing tem de ser perfeito e a música realmente corresponder as emoções e sensações que o personagem vivencia. O músico recentemente falecido Burt Bacharach (1928-2023) conseguia fazê-lo com perfeição, não só tendo composto canções como I Say a Little Prayer (Eu faço uma Pequena Oração, numa tradução literal), imortalizada na voz de Aretha Franklin, como também músicas para trilhas sonoras, sendo a mais marcante delas, na minha humilde opinião, Raindrops Keep Fallin' on My Head (Gotas de Chuva continuam caindo na minha Cabeça), composta em parceria com o letrista Hal David (1921- 2012).

            Tal música ganhou o Oscar de Melhor Canção Original para ambos, fazendo parte do filme Butch Cassidy, de 1969, dirigido por      George Roy Hill (1921-2002), estrelando Paul Newman (1925-2008) no papel título e Robert Redford como Sundance Kid e a belíssima Katharine Ross como Etta Place. Além de ser um dos melhores faroestes que eu já vi, também conta uma das mais belas e emblemáticas cenas de todo o cinema, justamente embalada por Raindrops. É quando Butch e Etta andam de despreocupadamente de bicicleta, apesar dos problemas em que estão metidos até o pescoço, e ainda assim conseguem arrumar mais confusão. Vale a pena assistir. Não deixem de conferir o vídeo abaixo.

  



 

Fontes:

 https://www.omelete.com.br/musica/burt-bacharach-importante-compositor-do-pop-morre-aos-94-anos

https://pt.wikipedia.org/wiki/Burt_Bacharach

https://pt.wikipedia.org/wiki/Raindrops_Keep_Fallin%27_on_My_Head

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hal_David

https://pt.wikipedia.org/wiki/George_Roy_Hill

https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Newman

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

FUGA DO PASSADO

      Às vezes, as pessoas até tentam, mas não conseguem escapar de seus passados, que voltam para assombrá-las e cobrar o seu preço. É o caso de ‘Fuga do Passado’ (Out of the Past), filme de 1947, dirigido por Jacques Tourneur (1904-1977) e escrito por Daniel Mainwaring (1902-1977), com base no romance Build My Gallows High, de 1946 (algo como ‘Construam minha Forca Alto’), que o roteirista escreveu sobre o pseudônimo de Geoffrey Homes.

      Trata-se de uma trama contada no clássico estilo noir: rodada em preto e branco, com detetives de chapéus e sobretudos, além, é claro, de uma femme fatale da melhor espécie.

        A ação começa com Joe (Paul Valentine, 1919-2006) chegando a pequena cidade de Bridgeport, atrás de um tal de Jeff Bailey (Robert Mitchum,1917-1997), aparentemente um pacato dono de posto de gasolina que havia saído para pescar com a sua namorada Ann (Virginia Huston, 1925-1981).

     Então, quando Joe finalmente encontra Jeff, no posto de gasolina, descobrimos que ele era um detetive particular com negócios inacabados com um tal de Whit (Kirk Douglas, 1916-2020). Joe intima Jeff a encontrar com o seu antigo cliente, em uma propriedade às margens do Lago Tahoe, no dia seguinte, de modo que tais assuntos pendentes possam ser encerrados.

         Sem outra alternativa, Jeff acata a ordem, indo até o local junto de Ann, na data combinada. Durante a viagem de carro, Jeff aproveita para esclarecer as coisas para a sua namorada: o seu sobrenome não é Bailey, como fez todos acreditarem, mas Markham, e uma vez ele havia sido contratado por Whit para encontrar a sua garota, Kathie (Jane Greer, 1924-2001), que havia desaparecido depois de atirar em seu amante (que obviamente sobreviveu para poder contratar Jeff) e surrupiar a quantia de quarenta mil dólares.

     O interessante é que a principal motivação de Whit não é recuperar a sua grana ou se vingar, mas ter Kathie de volta, pois a atração que sente por ela é maior que qualquer desejo de desforra que pudesse nutrir contra a mesma.

       Tudo parecia acertado e muito simples de resolver, afinal, o quão difícil poderia ser, para Jeff, achar uma garota fujona e levá-la de volta ao seu “bem-feitor”? Mas o detetive comete o erro de se apaixonar e fugir com Kathie.

      E é com essa sensação de não saber o que vai acontecer em seguida que o espectador assiste Jeff despedir-se de Ann, que vai embora no carro do namorado, no portão da casa nas margens do Lago Tahoe.

     Daí para frente a ação e as reviravoltas se acumulam uma após a outra, deixando quem assiste vidrado para saber quem vai vencer o jogo de gato e rato que se segue, uma ótima pedida para quem é fã de filmes noir ou de suspenses em geral.


Nota: é necessário ativar as legendas do vídeo, pois não achei o trailer dublado. 

Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Out_of_the_Past

https://en.wikipedia.org/wiki/Jacques_Tourneur

https://en.wikipedia.org/wiki/Daniel_Mainwaring

https://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Valentine

https://en.wikipedia.org/wiki/Virginia_Huston

https://en.wikipedia.org/wiki/Kirk_Douglas

https://en.wikipedia.org/wiki/Jane_Greer

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

LICORICE PIZZA

       Licorice Pizza (cuja tradução literal do título seria Pizza de Alcaçuz, mas é também uma gíria norte-americana para discos de vinil), dirigido e roteirizado por Paul Thomas Anderson, é um filme complexo. Aliás, controverso talvez fosse uma palavra melhor para se referir ao mesmo, pois a sua premissa básica é a de um romance, ainda que inicialmente platônico, entre Gary Valentine (Cooper Hoffman), um garoto de 15 anos e Alana Kane (Alana Haim), uma mulher de 25 anos, uma questão não só polêmica na atualidade, como também em 1973, época em que se passa o enredo, já que alguns anos antes, em 1968, ocorreu um caso real, na França, com uma temática parecida: Gabrielle Russier*, uma professora, de 30 anos, foi levada ao suicídio, devido à pressão da sociedade francesa da época, por ter se envolvido com um aluno com metade de sua idade.

          Voltando a trama do filme, essa começa no dia da fotografia na escola que Gary frequenta, cuja empresa responsável pelos retratos é aquela em que Alana trabalha. Ao conhecê-la, enquanto a moça oferecia espelhos e pentes para que os alunos pudessem se arrumar antes de serem fotografados, Gary não perde tempo em convidá-la para sair, apesar da diferença de idade entre ambos.

            Ele a chama para ir a um restaurante em que geralmente vai para jantar e, por alguma estranha razão, Alana resolve comparecer. Assim tem início a estranha simbiose que é a amizade dos dois, que passa por desafios como a venda de colchões d’água, um dos muitos esquemas de Gary para ganhar dinheiro fácil, mas que é frustrada pela crise do petróleo de 1973, já que os ditos produtos são fabricados com base nesse insumo; as crises de ciúmes do garoto, por ver homens mais velhos flertarem com Alana, sem poder fazer nada, ainda que seus sentimentos sejam aparentemente correspondidos pela moça, mesmo que não consumados.

        A verdade é que a história se arrasta, com pequenos acontecimentos que parecem não levar a lugar algum, enquanto tenta resolver o bom e velho eles vão ou não ficar juntos, ao melhor estilo Ross e Rachel, do seriado Friends. Não é que o filme seja ruim, as atuações são agradáveis e consistentes e o elenco é bastante carismático, principalmente os intérpretes de Gary e Alana. A fotografia é muito bem-feita, mas o maior problema é o roteiro, que demora a decolar, que só quando chega ao seu ápice dá mostras da intenção de Anderson ao escrevê-lo, ainda que o roteirista não tenha tido coragem de contar a história que queria desde o início. 


 

Fontes:

 https://portalpopline.com.br/licorice-pizza-explicacao-titulo-filme/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Licorice_Pizza

 *A Imortal Gatito, reportagem de Mavis Gallant, originalmente publicada em 1971, mas presente no livro ‘Os Piores Casos da Revista New Yorker’

 

 

 

domingo, 5 de fevereiro de 2023

ENTREVISTA COM PAULO ANTUNES

Estou aqui com Paulo Antunes que, além de professor universitário e amante da sétima arte, também é ator.

1.  Por que não começa nos falando um pouco sobre você, Paulo.

R: Grato pela oportunidade de participar desse blog. Sou lafaietense, professor universitário, escritor e ator. Aprecio muito viajar e assistir teatro e cinema. Na verdade, meu gasto com entretenimento é bem focado em arte, cultura. Sempre gostei de ler, escrever e atuar. E observar as pessoas, os fatos, as coisas... por isso também adoro fotografia. Por isso falo menos e ouço mais. Essa a forma que me garante mais tentar entender o mundo.

2.  Qual foi o seu primeiro contato com o cinema?

R: Meu contato com o cinema se deu nos cinemas de Lafaiete, desde muito cedo, quando pré-adolescente. Tínhamos aqui, no mínimo, 5 cinemas, sendo o maior e mais disputado o Cine Regina. Lá assisti a muitos filmes comerciais e de arte, além dos eróticos. Na época, a gente falsificava a data de nascimento nas carteirinhas de estudante, deixava o pouco de barba que tinha crescer para ludibriar o Juizado de Menores. Vivíamos sob um governo ditatorial que queria censurar tudo, mas que se esquecia de que quanto mais proibido, mais a gente gostava de fazer.

3.   E quando o cinema virou uma paixão?

R: A paixão pela Sétima Arte é desde sempre, como a pelo teatro e pelos os livros. Costumávamos já comprar ingressos no fim de semana anterior para o posterior. Uma forma de se conseguir lugar e não perder o filme da semana seguinte. O cinema virou paixão quando descobri os filmes exibidos fora do circuito comercial, os filmes de arte que também, ora e outra, passam na televisão. Me apaixonei pelos cineastas geniais da época: Bergman, Godard, Hitchcock, Fellini, Woody Allen, Truffaut, Kurosawa, Polanski, Walter Hugo Khoury, Glauber Rocha e outros, além de, é claro, Charles Chaplin, esse imortal que conseguiu espaço no Ocidente e no Oriente.  

4. Qual o seu filme favorito?

R: É difícil dizer que se tenha somente um filme favorito devido aos gêneros. Em qual gênero? Os filmes, assim como as peças teatrais e os livros, por se enquadrarem em espécies distintas, não há como se mensurar a preferência em relação a eles. Sei que me lembro com prazer dos filmes O Garoto, de Chaplin; Beleza American, de Sam Mendes; Eles Não Usam Black Tie, de Leon Hirszman etc. etc.

5. Existe alguma cena que te marcou muito? Não necessariamente relativa ao filme da questão anterior.

R: Tenho várias cenas marcantes em mente: em Eles Não Usa Black Tie, por exemplo, quando Fernanda Montenegro e outros atores participam de um enterro-passeata a favor de uma greve; Em Beleza Americana, a cena em que um personagem filma um saco plástico voando e vai narrando o que sente ao ver aquilo; em Nell, com Jodie Foster, as cenas em que ela, uma mulher “selvagem” se banha nua durante a noite num lago... Há muitas cenas que ultrapassam o ato da filmagem e viram poemas no nosso coração.

6. Qual o seu ator favorito? E por quê?

R: Também é difícil se falar de ator favorito devido às múltiplas possibilidades de tipos. Sempre amei Chaplin, Al Pacino, Robert de Niro, Jack Nicholson, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Rodrigo Santoro, Milhem Cortaz e outros muitos. Sempre me agradaram tais atores pela capacidade de exercerem o ofício com muita verdade, boa vontade, senso de responsabilidade e, óbvio, versatilidade.

7.  E atriz? Por quê?

R: Novamente a distinção atrapalha. Tenho adoração por Marília Pera, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Meryl Streep, Glenn Close, Sigourney Weaver, Judie Foster, Susan Sarandon etc. E aprecio essas atrizes pela versatilidade, a capacidade de encarnarem personagem bem distintos uns dos outros e delas próprias. Isso é fazer com amor e profissionalismo o ofício, a arte.

8.  Como percebeu que queria atuar?

R: Quando criança, veio à cidade um teatro itinerante chamado Grande Teatro Bibi. Era uma espécie de circo, só que apresentava peças teatrais. Eu já gostava de teatro, lia muito teatro e como eles tinham um grande repertório, assisti a muitas peças. Isso, para eu criança, era mais que doce, parque de diversão, pipoca: era algo me dizendo que eu havia me achado, que eu estava e sempre estive ali e, portanto, devia respirar, beber, cheirar, comer aquilo com toda força de minha dimensão biológica e emocional.

9.  E a sua relação com os palcos, como começou?

R: Comecei fazendo teatro na escola, no quintal de minha casa; sozinho, comigo próprio sendo ator e plateia, na penumbra de meu quarto me imaginando nesse ou aquele personagem que li, vi... Depois juntei o pessoal que percebi que gostava de teatro e fomos ganhar os palcos de Lafaiete e cidades circunvizinhas.

10. É verdade que você imita o Carlitos, de Chaplin? Como essa experiência começou?

R: Sempre gostei de imitar o personagem Carlitos, de Chaplin, afinal, ele embalou minha infância, adolescência, com seus filmes. Me identificava muito com ele, solitário, intenso, pacificador, mas, sobretudo, subversivo, deliciosamente subversivo. Adoro sair do quadrado, da bolha. Mas assumi mesmo o papel de mímico imitador de Chaplin durante uma apresentação numa gincana no Lafaiete Síder Clube. Foi um sucesso muito grande e tive de repetir a imitação em vários outros clubes, festas em escolas, aniversários... Depois de um tempo, passei a usar o personagem no carnaval e assim foi. Até hoje, quando me visto de Carlitos, ou Chaplin como a maioria diz, uso o mesmo terno surrado, o mesmo chapéu e a mesma bengala de mais de 30 anos atrás. Só o par de sapatos original perdi numa gincana em Piranga e a gravata num baile de carnaval. É muito legal, fico blindado quando me visto, volto no tempo, visto a vida com todas as suas cores, doces e sal. Deixo de ser eu próprio, sou mais intenso... e verdadeiro comigo próprio. Enfim, feliz.

 

 

sábado, 4 de fevereiro de 2023

FILHOS DO ÓDIO

               Este é um daqueles filmes difíceis de assistir, não só por se tratar de uma história real, mas também por envolver uma questão social tão delicada como o racismo, ainda mais na época e no lugar em que tudo se passa: o princípio dos anos 60, no sul dos Estados Unidos, momento em que a região era um caldeirão prestes a explodir, devido a luta pelos direitos civis e o fim da segregação racial.

     É nesse contexto que conhecemos Bob Zellner (Lucas Till, o novo MacGyver do seriado recém cancelado de mesmo nome), o personagem principal do filme Filhos do Ódio (Son of the South, Filho do Sul, numa tradução literal, 2020), dirigido e roteirizado por Barry Alexander Brown.

            Zellner vem de uma família sulista tradicional e tem um passado complicado: o seu avô paterno é parte da Ku Klux Klan. No entanto, o rapaz não acredita nessa bobajada toda e começa a se meter em problemas ao fazer um trabalho da faculdade sobre diferenças raciais. Ele descobre que, para realizar a tarefa, não poderia nem ao menos falar com pessoas negras sobre o assunto.

 É claro que ele desobedece a ordem e começa a expandir os seus horizontes, questionando o seu passado, o que lhe foi parcialmente ensinado pela sociedade a sua volta e o seu papel em tudo aquilo: deveria não fazer nada, mesmo que a causa fosse correta e justa, ou entrar numa luta que não era sua, deixando de lado a segurança proporcionada pelo seu tom de pele claro e todos os privilégios que vinham com ele, como, por exemplo, uma vida pacata ao lado de sua noiva Carol Ann (Lucy Hale)?

            Tantos anos depois, a escolha parece clara: lutar pelo que era certo, mas ao assistir a trama, vemos o preço que qualquer pessoa, fosse negra ou branca, pagava por assumir a causa dos direitos civis como sua. Indivíduos eram surrados, duramente espancados e linchados até a morte em movimentos pacíficos e não-violentos, fossem passeatas, viagens de ônibus do grupo Freedom Riders (algo como Viajantes da Liberdade) ou por atos como quebrar a política de segregação racial, como Rosa Parks fez, que aliás, está presente no filme interpretada por Sharonne Lanier.

            Assim, ao aderir, por completo, ao movimento dos direitos civis, Zellner fez a sua escolha e aceitou as consequências que vieram com ela. Ele pode ter perdido muito, mas a sua crença, a sua ideologia de uma sociedade melhor ainda lhe é mais preciosa.

            Por fim, vale ressaltar que a história aqui não é planfetária, uma apologia ao ‘salvador branco’, mas uma mensagem mais profunda: para que o mal prevaleça, basta que os bons homens não façam nada, como diz a frase aparentemente atribuída a Edmund Burke.

 


Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt2235372/?ref_=nv_sr_srsg_0

https://www.imdb.com/name/nm1395771/?ref_=tt_cl_t_1

https://en.wikipedia.org/wiki/Edmund_Burke#%22When_good_men_do_nothing%22

 

 

 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

BOA NOITE, MAMÃE

           É muito difícil inovar quando se trata de filmes de terror e suspense, mas, de uma forma para lá de estranha, ‘Boa Noite, Mamãe’ (Goodnight, Mommy; 2022), remake de um filme austríaco de horror de 2014, consegue.

        Dirigido por Matt Sobel, com base no roteiro de Kyle Warren, a trama gira em torno dos gêmeos Elias (Cameron Crovetti) e Lukas (Nicholas Crovetti) que são deixados pelo pai (Peter Hermann) na casa de campo da mãe (Naomi Watts), após terem passado um tempo afastados de sua progenitora.

No entanto, ela está diferente, pois, além de usar uma máscara cirúrgica que envolve todo o seu rosto, devido a um procedimento estético que realizou, também está mais arredia e bruta com os garotos, levando-os a conclusão “lógica” que de que se trata de uma impostora.

Aqui, o enredo poderia optar por uma das duas soluções: a mãe é realmente uma impostora ou tudo não passa de fruto da imaginação dos garotos. De certa forma, tal escolha acaba acontecendo e o espectador consegue prever exatamente o final antes de assisti-lo, pelo menos foi o que aconteceu comigo.

O irônico é que, apesar de todas as pistas espalhadas pela película, de modo a fazer o espectador adivinhar o seu desfecho, a trama é tão bem conduzida que se fica preso a ela, à espera de como vai se dar a grande revelação. E é essa a inovação que mencionei no princípio do texto: não uma grande reviravolta que vai deixar todos que assistirem em choque, mas como os personagens vão reagir a ela.  

E tudo só funciona pelas tremendas atuações de Naomi Watts e dos gêmeos Crovetti.

 


Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Goodnight_Mommy

https://www.imdb.com/title/tt9000184/

https://en.wikipedia.org/wiki/Goodnight_Mommy_(2022_film)

 

 

ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

  Luciano Carrierri  é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei ...