Estou
aqui com Paulo Antunes que, além de professor universitário e amante da sétima arte,
também é ator.
1. Por
que não começa nos falando um pouco sobre você, Paulo.
R: Grato pela oportunidade de participar desse blog. Sou
lafaietense, professor universitário, escritor e ator. Aprecio muito viajar e
assistir teatro e cinema. Na verdade, meu gasto com entretenimento é bem focado
em arte, cultura. Sempre gostei de ler, escrever e atuar. E observar as
pessoas, os fatos, as coisas... por isso também adoro fotografia. Por isso falo
menos e ouço mais. Essa a forma que me garante mais tentar entender o mundo.
2. Qual
foi o seu primeiro contato com o cinema?
R: Meu contato com o cinema se deu nos cinemas de Lafaiete,
desde muito cedo, quando pré-adolescente. Tínhamos aqui, no mínimo, 5 cinemas,
sendo o maior e mais disputado o Cine Regina. Lá assisti a muitos filmes
comerciais e de arte, além dos eróticos. Na época, a gente falsificava a data
de nascimento nas carteirinhas de estudante, deixava o pouco de barba que tinha
crescer para ludibriar o Juizado de Menores. Vivíamos sob um governo ditatorial
que queria censurar tudo, mas que se esquecia de que quanto mais proibido, mais
a gente gostava de fazer.
3. E
quando o cinema virou uma paixão?
R: A paixão pela Sétima Arte é desde sempre, como a pelo
teatro e pelos os livros. Costumávamos já comprar ingressos no fim de semana
anterior para o posterior. Uma forma de se conseguir lugar e não perder o filme
da semana seguinte. O cinema virou paixão quando descobri os filmes exibidos
fora do circuito comercial, os filmes de arte que também, ora e outra, passam
na televisão. Me apaixonei pelos cineastas geniais da época: Bergman, Godard,
Hitchcock, Fellini, Woody Allen, Truffaut, Kurosawa, Polanski, Walter Hugo
Khoury, Glauber Rocha e outros, além de, é claro, Charles Chaplin, esse imortal
que conseguiu espaço no Ocidente e no Oriente.
4. Qual o
seu filme favorito?
R: É difícil dizer que se tenha somente um filme favorito
devido aos gêneros. Em qual gênero? Os filmes, assim como as peças teatrais e
os livros, por se enquadrarem em espécies distintas, não há como se mensurar a
preferência em relação a eles. Sei que me lembro com prazer dos filmes O
Garoto, de Chaplin; Beleza American, de Sam Mendes; Eles Não Usam Black Tie, de
Leon Hirszman etc. etc.
5. Existe
alguma cena que te marcou muito? Não necessariamente relativa ao filme da
questão anterior.
R: Tenho várias cenas marcantes em mente: em Eles Não Usa
Black Tie, por exemplo, quando Fernanda Montenegro e outros atores participam
de um enterro-passeata a favor de uma greve; Em Beleza Americana, a cena em que
um personagem filma um saco plástico voando e vai narrando o que sente ao ver
aquilo; em Nell, com Jodie Foster, as cenas em que ela, uma mulher “selvagem”
se banha nua durante a noite num lago... Há muitas cenas que ultrapassam o ato
da filmagem e viram poemas no nosso coração.
6. Qual o
seu ator favorito? E por quê?
R: Também é difícil se falar de ator favorito devido às
múltiplas possibilidades de tipos. Sempre amei Chaplin, Al Pacino, Robert de
Niro, Jack Nicholson, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Rodrigo Santoro, Milhem
Cortaz e outros muitos. Sempre me agradaram tais atores pela capacidade de
exercerem o ofício com muita verdade, boa vontade, senso de responsabilidade e,
óbvio, versatilidade.
7. E
atriz? Por quê?
R: Novamente a distinção atrapalha. Tenho adoração por
Marília Pera, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Meryl Streep, Glenn Close,
Sigourney Weaver, Judie Foster, Susan Sarandon etc. E aprecio essas atrizes
pela versatilidade, a capacidade de encarnarem personagem bem distintos uns dos
outros e delas próprias. Isso é fazer com amor e profissionalismo o ofício, a
arte.
8. Como
percebeu que queria atuar?
R: Quando criança, veio à cidade um teatro itinerante
chamado Grande Teatro Bibi. Era uma espécie de circo, só que apresentava peças
teatrais. Eu já gostava de teatro, lia muito teatro e como eles tinham um
grande repertório, assisti a muitas peças. Isso, para eu criança, era mais que
doce, parque de diversão, pipoca: era algo me dizendo que eu havia me achado,
que eu estava e sempre estive ali e, portanto, devia respirar, beber, cheirar,
comer aquilo com toda força de minha dimensão biológica e emocional.
9. E a
sua relação com os palcos, como começou?
R: Comecei fazendo teatro na escola, no quintal de minha
casa; sozinho, comigo próprio sendo ator e plateia, na penumbra de meu quarto
me imaginando nesse ou aquele personagem que li, vi... Depois juntei o pessoal
que percebi que gostava de teatro e fomos ganhar os palcos de Lafaiete e cidades
circunvizinhas.
10. É
verdade que você imita o Carlitos, de Chaplin? Como essa experiência começou?
R: Sempre gostei de imitar o personagem Carlitos, de
Chaplin, afinal, ele embalou minha infância, adolescência, com seus filmes. Me
identificava muito com ele, solitário, intenso, pacificador, mas, sobretudo,
subversivo, deliciosamente subversivo. Adoro sair do quadrado, da bolha. Mas
assumi mesmo o papel de mímico imitador de Chaplin durante uma apresentação
numa gincana no Lafaiete Síder Clube. Foi um sucesso muito grande e tive de
repetir a imitação em vários outros clubes, festas em escolas, aniversários...
Depois de um tempo, passei a usar o personagem no carnaval e assim foi. Até
hoje, quando me visto de Carlitos, ou Chaplin como a maioria diz, uso o mesmo
terno surrado, o mesmo chapéu e a mesma bengala de mais de 30 anos atrás. Só o
par de sapatos original perdi numa gincana em Piranga e a gravata num baile de
carnaval. É muito legal, fico blindado quando me visto, volto no tempo, visto a
vida com todas as suas cores, doces e sal. Deixo de ser eu próprio, sou mais
intenso... e verdadeiro comigo próprio. Enfim, feliz.