De cara, achei ter me deparado com mais um
filme baseado num clichê e não estava enganado. Royalteen (2022) parte da mesma
fórmula básica de ‘Um Príncipe em Minha Vida’ (aquele filme lá de 2004 com
Julia Stiles): garota se apaixona por um príncipe e tem de aprender a lidar com
as peculiaridades de se envolver com a realeza.
Mas
diferente da película de 2004, em Royalteen não é o rapaz que tem de lidar com
um segredo, escondendo a sua origem nobre, mas sim a garota. E não é qualquer
segredo que Lena (Ines Høysæter Asserson) tenta encobrir. Aliás, são mais de
um, apesar que um deles não deixa de ser previsível logo nos primeiros momentos
do filme. No entanto, é o que torna a sua personagem crível, aprendendo a lidar
com o que ela se tornou e o que ela era. É um arco profundo de amadurecimento.
Kalle (Mathias Storhøi), o príncipe
em questão, também têm as suas nuances bem aprofundadas, principalmente sobre o
conflito sobre quem ele é, a imagem que aparenta e o que esperam dele.
Fora
isso, não esperem muito mais desse filme norueguês. É divertido, mas os
personagens secundários são rasos e pouco trabalhados, só estando lá para
servir de contexto ao romance principal. A única exceção é o caso da Princesa Margrethe
(Elli Rhiannon Müller Osborne) que é o tipo de personagem que o público adora
odiar.
E não deixem de seguir o Instagram do The End: @theendbycastan
Este é o trailer do novo filme do diretor Steven Spielberg, The Fabelmans, cujo enredo semi-biográfico é baseado na vida do próprio diretor, narrando a vida de um garoto aspirante a cineasta durante a sua juventude no Arizona dos anos 50 e princípio dos anos 60. Parece ser um grande filme. O que vocês acharam?
Não sei como começar estas linhas, sem dizer
que foi este filme, Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s,1961, algo como
“Café da Manhã na Tiffany’s”, numa tradução literal para o português, sendo Tiffany’s uma famosa
loja de departamentos,) que me fez apaixonar-me por Audrey Hepburn (1929-1993).
Uma paixão platônica, é
claro, mas não só motivada pela beleza de Audrey, mas também pela profundidade
de sua interpretação de Holly Golightly, a acompanhante de luxo (termo polido
para prostituta) que sonha em se casar com um ricaço e se tornar uma grande
atriz e é a personagem principal do filme.
Mas como uma personagem
com uma moral, no mínimo, dúbia poderia fazer um adolescente sonhador de
dezesseis anos como eu, à época, apaixonar-se por ela? A explicação é simples:
apesar de ambiciosa, Holly é humanizada, somos levados a conhecer seus anseios
e inseguranças na trama dirigida por Blake Edwards (1922-2010).
Baseado num conto de
Truman Capote (1924-1984), o notável autor do best-seller ‘À Sangue Frio’, o
enredo nos conduz ao passado trágico de Holly quando ele volta a bater,de surpresa, a sua
porta. O seu único esteio é o escritor Paul (George Peppard, 1928-1994),que há pouco se
mudara para o edifício onde mora Golightly, que passa a chamá-lo afetuosamente de
Fred, por lembrá-la de seu irmão de mesmo nome,
Como qualquer homem,
Fred, ou melhor, Paul se vê caindo de amores por Holly, que reluta em aceitar
tal amor não só por suas ambições, mas devido a cicatrizes mais profundas, que
carrega na alma, por conta de seu passado conturbado.
Também é extremamente
válido mencionar a canção Moon River, composta por Henry Mancini (1924-1994) e
tema do filme, cuja letra é tão cativante quanto a melodia é bela e ressoa na alma
de qualquer um que a escutar.
O único grande ‘porém’
da película é a interpretação de Mickey Rooney (1920-2014) como o Sr. Yunioshi
que, nos tempos do politicamente correto, é para lá de inaceitável, apesar de
engraçada, pois consiste não só num caso de estereotipação, como também de
“asianface”, no caso, um ator branco atuar caracterizado como um oriental.
Essa é a sequência de abertura do filme, com uma versão instrumental da canção Moon River
Não tenho palavras
para descrever este filme. E isso não é uma coisa boa. ‘O Nascimento de uma
Nação’, baseado no romance ‘The Clansman: An Historical Romance of the Ku Klux
Klan’ (Os Homens da Clã: Um Romance Histórico da Ku Klux Klan, numa tradução
livre do inglês), de Thomas Dixon Jr. (1864–1946) e dirigido por D.W. Griffith
(1875–1948), é uma película de embrulhar o estômago, para dizer o mínimo. Para
se ter ideia, nunca tive tanta vergonha de ser branco quanto ao assistir esse
filme (não que tenha me orgulhado disso alguma vez...)
A trama gira em torno de duas
famílias, os Stoneman, do Norte, e os Cameron, do Sul, e como ambas lidam com
acontecimentos como a Guerra Civil Americana, o assassinato de Lincoln e a
Reconstrução do Sul no cenário pós-guerra.
O
grande problema é que tudo não passa de uma falácia melodramática que tenta
vender a Ku Klux Klan como um grupo heroico e não um bando de racistas,
ignorantes e sanguinários que de fato era.
Como
se isso não bastasse, o enredo também tenta fazer o espectador engolir que a
população negra do Sul, praticamente composta por ex-escravos, de alguma forma,
dominou os ‘pobres sulistas brancos’, impedindo-os de votar, quando se sabe
que, na verdade, foi o contrário que aconteceu, com a implantação da segregação
racial, através das leis Jim Crow.
A
cereja do bolo é o uso descarado (e, diga-se de passagem, malfeito) da do
blackface, técnica que consistia em simplesmente pintar atores brancos de preto
para fazê-los se passar por negros diante das câmeras... é até difícil imaginar
o porquê, já que economicamente não faz sentido algum. Além do fato que os
salários dos atores brancos deveriam ser muito superiores aos dos poucos atores
e atrizes negros (se é que havia algum) daquela época, também havia os custos
adicionais com maquiagem... assim, só consigo explicar uma bobagem dessas de
duas maneiras: puro racismo ou a imensa dificuldade encontrar atores ou atrizes
negros que se dispusessem a participar de tal presepada.
Assistir
esse filme até o final é um desafio e somente vale a pena para entender o quão
ignorante e preconceituoso pode ser o ser humano e utilizar essa lição para que
atrocidades como tais não se repitam.
Para quem quiser conferir, disponho o filme inteiro na íntegra acima, o único porém é que o filme não é legendado em português.
“Curtindo a Vida Adoidado” (Ferris Bueller’s
Day Off, no original, em inglês, cuja tradução livre é ‘O Dia de Folga de
Ferris Bueller’, daí o título do artigo) é um clássico filme da Sessão da Tarde.
Quem nunca o assistiu por lá pelo menos uma vez? Eu já. Aliás, o meu primeiro
contato com o mesmo se deu através de uma de tais exibições. Creio também ter
sido o primeiro trabalho do finado diretor John Hughes (1950-2009) que assisti
na vida, ainda que não soubesse se tratar de uma obra dele.
A
trama do filme, de 1986, é bastante simples, porém cativante: Ferris (Matthew
Broderick), o garoto mais popular da escola, que consegue escapar impune de
qualquer problema com sua engenhosidade, decide matar aula e tirar um dia de
folga. Afinal, o que poderia dar errado para ele?
No
entanto, o garoto não pretende partir sozinho em tal aventura, convencendo, com
algum custo, o seu melhor amigo, o deprimido Cameron (Alan Ruck) a ir com ele e
ainda por cima levar a Ferrari de seu tirano pai com eles.
A
partir daí, a loucura e a inconsequência correm soltas, desde buscar Sloane (Mia Sara), a
namorada de Ferris, mais cedo da escola, através de um ardil em que os garotos
conseguem se passar pelo pai dela no telefone e, até mesmo, impersoná-lo, na
cara dura, ainda que a distância, na frente do colégio, a uma visita ao Museu
de Arte de Chicago, no qual Cameron ‘se perde’ na pintura “Uma Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte”, de George Seurat (1859-1891), que aliás, tornou-se a minha pintura favorita, da
qual até mesmo possuo uma réplica, pintada por minha falecida avó paterna, no
meu quarto, e a invasão de Ferris a uma parada, na qual ele dubla a versão da
música Twist and Shout dos Beatles, levando uma multidão a loucura, no que se
tornou uma cena antológica.
Vale
a pena conferir, pois, no final do dia, todos somos um pouco como Cameron,
ainda que, em nossos íntimos, quiséssemos ser mais audaciosos como Ferris e
encarar a vida sem medo.
“O mediador entre o cérebro e as mãos
deve ser o coração”
Não, não se trata da cidade defendida pelo
Superman, apesar da mesma ter recebido o seu nome devido ao filme que é assunto
deste artigo. Essa é apenas uma das várias obras que Metropolis, de 1927,
inspirou e influenciou.
Dirigido
por Fritz Lang (1890-1976), cineasta austríaco, veterano da 1ª Guerra Mundial,
e principal expoente da escola cinematográfica expressionista alemã, Metropolis
é considerado um dos primeiros, senão o primeiro longa-metragem de
ficção-científica distópica da história.
Enquanto
a classe operária trabalha incessantemente, durante 10 horas por dia, lidando
com máquinas infernais, numa produção interrupta (numa clara alusão a linha de
produção fordista), passando o restante do seu tempo na Cidade dos
Trabalhadores, localizada nos subterrâneos da cidade futurista, (numa óbvia
crítica ao abismo que existe entre os mais ricos e os mais pobres em muitas
sociedades), a classe mais abastada, os habitantes da dita Metropolis, que dá
nome ao filme, dividem o seu tempo com frivolidades, ou no Clube dos Filhos,
onde praticam esportes, ou nos Jardins Eternos, uma espécie de parque das
delícias carnais, onde belas e jovens mulheres são a principal atração, no que
parece ser uma das primeiras críticas a objetificação da mulher e de seu papel
na sociedade que se tem notícia, pelo menos na tela grande.
A
sua trama é baseada no romance de mesmo nome de Thea von Harbou (1888-1954),
esposa de Lang na época, tendo sido publicado em fascículos na revista
Illustriertes Blatt, de Frankenfurt, a partir de 1925, trazendo em suas páginas
também fotos da produção do filme.
O
roteiro da película, assim como o livro, é de autoria de Von Harbou, cuja
premissa básica é a boa e velha luta de classes ambientada no então distante
ano de 2026.
São
nesses ambientes que o espectador é apresentado a Freder Fredersen (Gustav Fröhlich,1902–1987, um
jornalista que incialmente, faria uma ponta de figurante, como um dos muitos
operários, até chamar a atenção de Brigitte Helm,1906–1996, estrela do filme,
que o recomendou a Lang para protagonizar a trama ao seu lado), o filho do Manda-Chuva
de toda Metropolis, Joh Fredersen (Alfred Abel, 1879–1937).
Aparentemente,
Freder é um jovem feliz em sua ignorância, praticando atletismo com os seus
amigos no Clube dos Filhos ou divertindo-se nos Jardins Eternos, mas um dia
tudo muda, quando nesse último lugar, Maria (Brigitte Helm), numa visita
não-autorizada, leva algumas crianças, filhas dos operários, para conhecer os
seus irmãos da superfície.
O
encontro abala profundamente Freder não só porque ele começa a apaixonar-se por
Maria, mas também por abrir os seus olhos para o mundo que existe além do dele.
De tal forma que, tal qual na obra “O Príncipe e o Mendigo” (1881), de Mark
Twain (1835-1910), Freder troca de lugar com o trabalhador Georgy, ou operário
11811 se preferir, para ver como realmente vivem os trabalhadores e reencontrar
Maria.
Ao
mesmo tempo, Joh Fredersen preocupa-se com um misterioso pedaço de papel que,
aparentemente, contém uma espécie de planta-baixa e foi encontrada junto de um
dos operários que foi vitimado num grande acidente em meio as máquinas.
Acidente esse que Freder presenciou, em sua busca por respostas, mesmo que seu
pai de nada desconfie.
Esse
evento leva pai e filho a tomarem caminhos opostos, enquanto o primeiro vai em
busca de respostas junto ao cientista louco Rotwang, que rapidamente desvenda o
mistério da planta-baixa como um mapa das catacumbas abaixo da Cidade dos
Operários, o segundo é levado direto até elas por colegas operários, chegando a
uma antiga catedral, cuja idade remonta há mais de 2000 anos.
Antes
que as histórias dos membros da família Fredersen se cruzem, Rotwang mostra a
Joh a sua última e grande invenção, pela qual sacrificou a sua mão direita: a
androide que trará de volta à vida Hel, amada tanto do cientista quanto do
capitalista, sendo que esse último teve a sorte de desposá-la e ter um filho
com ela. Trata-se da mãe de Freder, que morreu dando-lhe à luz.
Abalado
com que foi lhe mostrado, Joh deixa-se conduzir, pelas catacumbas, por Rotwang,
até chegarem a uma fenda pela qual podem enxergar o interior da catedral.
Lá
está Maria pregando sobre o grande mediador, uma espécie de messias que ajudará
na conturbada relação entre operários e capitalistas. Para tanto, ela se
utiliza da parábola da Torre de Babel, na qual os seus arquitetos não
conseguiram passar a sua visão da construção para os operários, vindos de
terras distantes.
Em
meio aos trabalhadores ali reunidos, escutando a pregação, está Freder que,
finalmente, compreende que é dele o papel de mediador. É interessante esse
aspecto na relação entre Freder e Maria, sendo que essa última serve como
preceptora do messias que virá, numa interessante analogia tanto a Virgem
Maria, mãe de Jesus, da qual obviamente a personagem tira o seu nome, como a
João Batista, aquele que prepara o terreno, por assim dizer, para as pregações
do Nazareno.
De
volta a Joh e Rotwang, enquanto o primeiro fica horrorizado com a possibilidade
de uma revolução operária, o último percebe a presença de Freder no interior da
catedral, após a multidão começar a dispersar-se e o jovem seguir até ao altar
ao encontro de Maria.
O cientista nada diz
quanto a isso ao seu companheiro que, por sua vez tem suas próprias ideias:
substituir Maria pela androide de Rotwang, de modo que ele possa comandar os
rumos da suposta revolução, ficando clara a conexão anteriormente com João
Batista, também um mártir, que tudo sacrifica por seu Messias.
E assim a história
prossegue, mas não esperem que o final aqui seja relatado. O principal objetivo
dessas linhas é fazer com que vejam o filme e tirem as suas próprias conclusões
a respeito.
Ah, uma última coisa,
qualquer semelhança da androide do filme Metropolis e C3-P0, da saga Star Wars,
NÃO é mera coincidência.
Nota: o crédito das imagens dos bastidores do filme está na parte superior das mesmas, da conta do Instagram da qual as retirei:
Na vida, às vezes, nos
pegamos a pensar como seriam nossas existências se tivéssemos tomado escolhas
diferentes no passado. Essa é a premissa básica deste filme da Netflix, no qual
somos apresentados a Natalie (Lili Reinhart) que ao estudar com o amigo Gabe
(Danny Ramirez), na biblioteca da faculdade, acaba fazendo sexo com ele no
alojamento estudantil.
Algum tempo se passa e, na festa de formatura de sua fraternidade,
Natalie passa mal e é acudida, no banheiro, por sua melhor amiga, Cara (Aisha
Dee), que traz consigo medicamentos para enjoo e dois testes de gravidez.
A partir do resultado do teste de gravidez, a história divide-se em
duas: em uma Natalie não está grávida e segue com o seu plano de mudar-se para
Los Angeles, com Cara, para seguir uma carreira na animação de filmes. Na
outra, ela realmente engravida e decide ter a criança, com o total apoio de
Gabe, mas acaba não indo para Los Angeles. E assim a trama é conduzida,
mostrando o desenrolar da vida de Natalie em cada uma dessas bifurcações da
realidade.
A história é interessante, mas as transições entre realidades são um
tanto abruptas e não há como deixar de ter uma realidade preferida que, no meu
caso, foi a do bebê, principalmente, por conta de uma cena em que Tina (Andrea
Savage), a mãe de Natalie, algumas semanas após o parto da neta, explica para
filha que ter um filho é também ficar de luto por si mesma por algum tempo, pela
pessoa que era, pois nunca mais ela deixará de ser mãe, apesar de amar a
criança com todas suas forças. Eu, em minha ignorância masculina, nunca tinha
visto uma definição tão clara e tocante do que é a depressão pós-parto e como
ela pode afetar uma mulher.
Apesar de acompanhar a jornada de Natalie ser gratificante,
principalmente por cenas como a descrita acima, o filme tem lá as suas falhas.
O conceito é bom, mas conduzido muito rapidamente, dando a impressão de
estarmos assistindo dois filmes ao mesmo tempo. Nesse ponto, talvez a trama funcionasse
melhor como uma série.
Por fim, algumas atitudes de Natalie, ou falta delas, não deixam de ser
frustrantes, principalmente no quesito de seus relacionamentos amorosos. No
entanto, o filme não deixa de ser divertido por conta disso. Enfim, assistam e
tirem as suas próprias conclusões.