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terça-feira, 6 de setembro de 2022

UMA CIDADE CHAMADA METROPOLIS

“O mediador entre o cérebro e as mãos deve ser o coração”

       Não, não se trata da cidade defendida pelo Superman, apesar da mesma ter recebido o seu nome devido ao filme que é assunto deste artigo. Essa é apenas uma das várias obras que Metropolis, de 1927, inspirou e influenciou.
    Dirigido por Fritz Lang (1890-1976), cineasta austríaco, veterano da 1ª Guerra Mundial, e principal expoente da escola cinematográfica expressionista alemã, Metropolis é considerado um dos primeiros, senão o primeiro longa-metragem de ficção-científica distópica da história.
 Enquanto a classe operária trabalha incessantemente, durante 10 horas por dia, lidando com máquinas infernais, numa produção interrupta (numa clara alusão a linha de produção fordista), passando o restante do seu tempo na Cidade dos Trabalhadores, localizada nos subterrâneos da cidade futurista, (numa óbvia crítica ao abismo que existe entre os mais ricos e os mais pobres em muitas sociedades), a classe mais abastada, os habitantes da dita Metropolis, que dá nome ao filme, dividem o seu tempo com frivolidades, ou no Clube dos Filhos, onde praticam esportes, ou nos Jardins Eternos, uma espécie de parque das delícias carnais, onde belas e jovens mulheres são a principal atração, no que parece ser uma das primeiras críticas a objetificação da mulher e de seu papel na sociedade que se tem notícia, pelo menos na tela grande.
    A sua trama é baseada no romance de mesmo nome de Thea von Harbou (1888-1954), esposa de Lang na época, tendo sido publicado em fascículos na revista Illustriertes Blatt, de Frankenfurt, a partir de 1925, trazendo em suas páginas também fotos da produção do filme.
    O roteiro da película, assim como o livro, é de autoria de Von Harbou, cuja premissa básica é a boa e velha luta de classes ambientada no então distante ano de 2026.
  São nesses ambientes que o espectador é apresentado a Freder Fredersen (Gustav Fröhlich,1902–1987, um jornalista que incialmente, faria uma ponta de figurante, como um dos muitos operários, até chamar a atenção de Brigitte Helm,1906–1996, estrela do filme, que o recomendou a Lang para protagonizar a trama ao seu lado), o filho do Manda-Chuva de toda Metropolis, Joh Fredersen (Alfred Abel, 1879–1937).

    Aparentemente, Freder é um jovem feliz em sua ignorância, praticando atletismo com os seus amigos no Clube dos Filhos ou divertindo-se nos Jardins Eternos, mas um dia tudo muda, quando nesse último lugar, Maria (Brigitte Helm), numa visita não-autorizada, leva algumas crianças, filhas dos operários, para conhecer os seus irmãos da superfície.

    O encontro abala profundamente Freder não só porque ele começa a apaixonar-se por Maria, mas também por abrir os seus olhos para o mundo que existe além do dele. De tal forma que, tal qual na obra “O Príncipe e o Mendigo” (1881), de Mark Twain (1835-1910), Freder troca de lugar com o trabalhador Georgy, ou operário 11811 se preferir, para ver como realmente vivem os trabalhadores e reencontrar Maria.

    Ao mesmo tempo, Joh Fredersen preocupa-se com um misterioso pedaço de papel que, aparentemente, contém uma espécie de planta-baixa e foi encontrada junto de um dos operários que foi vitimado num grande acidente em meio as máquinas. Acidente esse que Freder presenciou, em sua busca por respostas, mesmo que seu pai de nada desconfie.

    Esse evento leva pai e filho a tomarem caminhos opostos, enquanto o primeiro vai em busca de respostas junto ao cientista louco Rotwang, que rapidamente desvenda o mistério da planta-baixa como um mapa das catacumbas abaixo da Cidade dos Operários, o segundo é levado direto até elas por colegas operários, chegando a uma antiga catedral, cuja idade remonta há mais de 2000 anos.

    Antes que as histórias dos membros da família Fredersen se cruzem, Rotwang mostra a Joh a sua última e grande invenção, pela qual sacrificou a sua mão direita: a androide que trará de volta à vida Hel, amada tanto do cientista quanto do capitalista, sendo que esse último teve a sorte de desposá-la e ter um filho com ela. Trata-se da mãe de Freder, que morreu dando-lhe à luz.

    Abalado com que foi lhe mostrado, Joh deixa-se conduzir, pelas catacumbas, por Rotwang, até chegarem a uma fenda pela qual podem enxergar o interior da catedral.

    Lá está Maria pregando sobre o grande mediador, uma espécie de messias que ajudará na conturbada relação entre operários e capitalistas. Para tanto, ela se utiliza da parábola da Torre de Babel, na qual os seus arquitetos não conseguiram passar a sua visão da construção para os operários, vindos de terras distantes.

  Em meio aos trabalhadores ali reunidos, escutando a pregação, está Freder que, finalmente, compreende que é dele o papel de mediador. É interessante esse aspecto na relação entre Freder e Maria, sendo que essa última serve como preceptora do messias que virá, numa interessante analogia tanto a Virgem Maria, mãe de Jesus, da qual obviamente a personagem tira o seu nome, como a João Batista, aquele que prepara o terreno, por assim dizer, para as pregações do Nazareno.

    De volta a Joh e Rotwang, enquanto o primeiro fica horrorizado com a possibilidade de uma revolução operária, o último percebe a presença de Freder no interior da catedral, após a multidão começar a dispersar-se e o jovem seguir até ao altar ao encontro de Maria.

     O cientista nada diz quanto a isso ao seu companheiro que, por sua vez tem suas próprias ideias: substituir Maria pela androide de Rotwang, de modo que ele possa comandar os rumos da suposta revolução, ficando clara a conexão anteriormente com João Batista, também um mártir, que tudo sacrifica por seu Messias.

    E assim a história prossegue, mas não esperem que o final aqui seja relatado. O principal objetivo dessas linhas é fazer com que vejam o filme e tirem as suas próprias conclusões a respeito.

    Ah, uma última coisa, qualquer semelhança da androide do filme Metropolis e C3-P0, da saga Star Wars, NÃO é mera coincidência.

           


 

Nota: o crédito das imagens dos bastidores do filme está na parte superior das mesmas, da conta do Instagram da qual as retirei:

Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Fritz_Lang

https://www.imdb.com/name/nm0000485/

https://www.imdb.com/title/tt0017136/

https://www.imdb.com/title/tt0017136/trivia/?ref_=tt_trv_trv

https://en.wikipedia.org/wiki/Thea_von_Harbou

https://en.wikipedia.org/wiki/Metropolis_(novel)

https://www.imdb.com/name/nm0375609/?ref_=tt_cl_t_1

https://www.imdb.com/name/nm0297054/?ref_=tt_cl_t_3

https://www.imdb.com/name/nm0002154/?ref_=tt_cl_t_2

https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Prince_and_the_Pauper

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mark_Twain

             

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