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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

AFINADO NO AMOR

               Ei, alguém lembra de quando as comédias do Adam Sandler eram boas? Nem eu. Brincadeiras à parte, são raríssimas as exceções em que alguma película estrelada por tal ator seja boa, a não ser aquelas, por exemplo, em que ele contracena com Drew Barrymore.

           É o caso de ‘Afinado no Amor’ (The Wedding Singer, ‘O Cantor de Casamentos’, 1998), dirigido por Frank Coraci e roteirizado por Tim Herlihy). E não é a atuação de Sandler, uma versão caricata de si mesmo, como em todos os seus filmes de comédia, que ajuda em alguma coisa.

             O que torna tudo agradável e até mesmo bom é a junção da interpretação de Drew Barrymore, disparadamente a melhor atriz do elenco, com um roteiro razoável, o suficiente para acabar com algumas horas de tédio.

            O enredo gira em torno de Robbie (Adam Sandler), um cantor de casamentos que é abandonado no altar durante o seu, que acaba se apaixonando por Julia (Drew Barrymore), uma garçonete do bufê que atende aos mesmos casamentos em que Robbie canta (o que Sandler definitivamente não sabe fazer).

            O único problema é Glenn (Matthew Glave), o arrogante noivo de Julia que trabalha em Wall Street. Mas como em toda comédia romântica que se preze, tal obstáculo será superado até o final do filme, o que não deve ser surpresa para ninguém.

            Se você está se sentindo nostálgico, afinal a trama se desenrola em 1985, um pouco entediado ou precisando relaxar, é uma boa dica para espairecer. Só não espere uma experiência transformadora ou algum acréscimo a sua cultura.

 


Nota: é preciso ativar as legendas do trailer. 

Fontes:

 https://www.imdb.com/title/tt0120888/

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

ENTREVISTA COM O FILÓSOFO E ESCRITOR MARCELO PEREIRA RODRIGUES

 O filósofo, escritor, palestrante, agente literário, editor da Revista Conhece-te há mais de duas décadas e articulista d´O Barrete, de Portugal, Marcelo Pereira Rodrigues, 48 anos, é uma personalidade criativa e inquieta. Vivendo de literatura no Brasil há mais de duas décadas, viu o seu trabalho chegar a diversos países tais Portugal, Espanha, Sérvia, México, Estados Unidos, Costa Rica, Guatemala, Índia, Bangladesh, Paquistão, Uzbequistão, Peru e se fôssemos listar aqui, a enumeração seria longa.

Uma de suas facetas é a de ser cinéfilo. Nesta entrevista onde conta muito de sua vitoriosa carreira, encontramos oportunidade para conversarmos sobre cinema. Embora refute a pecha de cinéfilo, escreveu cerca de duzentas resenhas e análises de películas para uma publicação em Portugal. Brincando, afirma que quase foi preso pela polícia aos 14 anos após ter assistido a um filme pornográfico. Sua paixão pela Sétima Arte se estende ao infinito, ainda mais agora que oferece seus roteiros a produtores mundo afora. Com desenvoltura e leveza, elenca os seus filmes favoritos, atores e atrizes e suspeita que teve um argumento plagiado em um filme que venceu o Oscar.

Curiosos? Leiam a entrevista na íntegra...

 

IC – Olá Marcelo. Como vai?

MPR – Olá Igor. Vou bem, obrigado por perguntar.

 

IC – Por que não começa nos falando um pouco sobre você?

MPR – Boa a sessão de psicanálise. Na verdade, não gosto muito de falar de mim. Ao longo dos tempos, consegui plataformas que expõem os meus trabalhos e fico satisfeito desta forma. Como sou escritor em tempo integral, possuo trabalhos como editor da Revista Conhece-te; como articulista de uma revista em Portugal, O Barrete; escrevo os livros e está tudo contido no meu site oficial; além disso faço os meus agenciamentos literários e dou palestras. Enfim, graças a este caudaloso trabalho me transformei em um Edson falando do Pelé. Se eu não fosse eu, admiraria muito o Marcelo Pereira Rodrigues. Mas como eu sou eu, fico encabulado de dizer quem eu sou. Esta parte confusa e existencial se deve à minha formação, Filosofia.

 

IC – O que o levou a cursar Filosofia?

MPR – Certamente por inaptidão a outras profissões tidas como importantes e que dão dinheiro. Sempre passei ao largo de status e direcionamentos de outros, nunca fui Maria vai com as outras. Já lia Filosofia bem antes de ingressar na UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rey) no longínquo ano de 1998. Cursar significa um caminho e o percorri com muitos estudos e investigações. Quando saí formado da instituição tinha uma base sólida e continuei estudando alguns clássicos, especializando-me em Friedrich Nietzsche e Jean-Paul Sartre, mas tudo numa busca pessoal interessante. Até hoje a disciplina me acompanha e herdei dela a forma de ver o mundo, mais contemplativo e sem pressa para aderir a modismos e ideologias partidárias tolas. Aliás, não adiro a nada, a não ser o sagrado compromisso de pensar com a minha própria cabeça.

 

IC – Como surgiu a Revista Conhece-te, da qual você é editor?

MPR – Surgiu meio que por acaso. Antes mesmo de ter me formado, ministrei um curso livre de Filosofia ao qual intitulei “Conhece-te a ti mesmo” (o slogan do templo de Delfos e ao qual Sócrates se aferrava). Bom, nestas turmas de 10, 12 alunos, começamos a discutir temas da nossa contemporaneidade à luz da Filosofia e surgiu em mim a ideia de publicar um informativo. Desta forma veio a público a 1ª edição deste periódico, uma folha apenas, frente e verso, com o pomposo nome de Informativo do Curso Livre de Filosofia Conhece-te a ti mesmo. Isso em março de 2001. No mês seguinte, apareceu a 2ª edição e mal sabia eu que 22 anos após, persistiríamos com 265 edições mensais impressas ininterruptas. Obviamente que ao longo dos tempos melhoramos bastante, fomos reduzindo o nome da publicação até chegarmos a este formato Revista Conhece-te. Engraçado que os cursos terminaram e a publicação continuou. Hoje a Revista Conhece-te é lida por gente do Brasil inteiro e chegou até ao exterior. Uma história de sucesso que pode ser consultada em www.revistaconhecete.com.br 

 

IC – O que o levou a se tornar escritor?

MPR – Sempre gostei muito de ler, desde criança. Nas aulas de Português, adorava o momento em que as professoras mandavam fazer Redação. O que poderia ser martírio para muitos, para mim era deleite. Desde criança gostava de compor histórias e confesso que era um baita mentiroso. Inventava situações e me encantava observar como adultos caiam nas minhas mentiras. Mas eram mentiras leves, bobas, fantasiosas. Quando estava na faculdade, não tinha em mente me tornar professor nem seguir carreira acadêmica. Encontrei na escrita vazão para a minha criatividade. Comecei a perceber em mim um estilo de escrever irônico e debochado, não que eu fizesse força. Tive algumas escaramuças na UFSJ por conta de minhas ideias publicadas em um mural chamado “Dus Campi Libre Novedad”. Tomei gosto pela coisa. Quando comecei a publicar a Revista Conhece-te e a colaborar para jornais do Brasil inteiro, percebi que tinha talento para a profissão. Meus textos provocativos passavam ao largo da indiferença, amealhando elogios e insultos. Sou indiferente a essas recepções ao meu trabalho. Daí a reunir crônicas e lançar os meus dois primeiros livros, “Muito Humano Demais” e “Nós” foi um pulo. Aliás, neste ano de 2023 faz 20 anos da publicação de “Nós”. Daí estreei no romance e a coisa engrenou. 15 livros depois e bastante repercussão no Brasil e no exterior fazem-me sentir bastante orgulho desta verdadeira saga, que pode ser consultada em www.marcelopereirarodrigues.com.br 

 

IC – Como foi o processo de publicação do seu primeiro livro?

MPR – O processo foi horroroso, traumático. Contou com uma confecção amadora, com tiragem de 500 (quinhentos) exemplares feitos em uma gráfica. A diagramação foi horrorosa, a correção ortográfica abaixo da crítica. Desgostei deste trabalho por um bom tempo. Até que em 2015 recebi uma proposta de uma boa editora do Rio de Janeiro para uma 2ª edição e aí a produção foi bem mais profissional. Aproveito esta sua pergunta para indicar a jovens escritores o auxílio de um profissional qualificado para produzir o seu respectivo livro. Atualmente sou sócio de uma agência literária que visa auxiliar a estes autores. É um desperdício jogarmos árvores no chão para produzirmos porcarias, não acha? Pelo menos esta minha primeira má experiência me serviu de lição: afaste-se de incompetentes e amadores e busque os melhores profissionais. É o que sempre indico a quem se aventura a escrever um livro.

 

IC – Como se deu o seu primeiro contato com o cinema?

MPR – O primeiro contato com o cinema foi assistindo a um filme pornográfico num cine que funcionava na Rua Marechal Floriano, no Clube Dom Pedro, em Conselheiro Lafaiete. Tinha 14 anos e os hormônios estavam soltando pelos poros. Conhecidos mais velhos fizeram ver ao homem da bilheteria que eu tinha 18 anos. No dia seguinte fiquei com medo de a polícia me prender, pois os meus vizinhos me alertaram que um policial estava atrás de mim. Pode isso?! Ainda bem que esmerei bastante o meu gosto. Frequentava o cinema na Rua Tavares de Melo anos depois e lembro-me de filmes que assisti ali, como “Eternamente Jovem”, “Perdas e Danos”, “Independency Day”, “Mulher Solteira Procura... alugar um apartamento pode ser fatal”, “O Retorno de um Estranho” (com Richard Gere), “Os Imperdoáveis” e outros. 

 

IC – Qual o papel do cinema na sua obra, no seu trabalho e na sua vida?

MPR – Como sou escritor de novelas, romances e ficções, acaba que fica muito próximo de um roteiro para filmes. Nestes últimos tempos tenho me aventurado a oferecer estes meus escritos a produtores do audiovisual. Tive um direito autoral comprado e estou no aguardo de ver no que vai dar. Assim, como não dissocio uma coisa de outra, trabalho-vida-obra, o cinema é fundamental, a válvula de escape que me faz viajar a outros mundos, assim como a arte nos permite, através da leitura de um excelente livro; visitarmos exposições em museus e ir a grandes shows musicais tais Guns N´Roses, Metallica e Kiss. Voltando ao cinema, é difícil uma semana onde não assista pelo menos a quatro filmes, a Sétima Arte não passa ao largo de minha percepção.

 

IC – Como a Sétima Arte se relaciona à Filosofia?

MPR – Do meu ponto de vista, através do aspecto multidisciplinar. Acredito que o bom filósofo e escritor deva ser uma verdadeira esponja para coisas boas: cinema, artes plásticas, música, teatro, pinturas, esculturas etc. Sou plástico na forma de me conduzir no mundo. Esse espectro cultural é fundamental para aplicarmos a filosofia e o juízo crítico em todas as áreas da nossa vida.   

 

IC – Qual o seu ator preferido? Por que?

MPR – Impossível responder a esta pergunta, pelo viés da singularidade. Irei me estender na pluralidade. Sabe estes atores que se doam para o trabalho e que parecem perderem a conexão com o mundo real? Amo esta entrega e admiro demais Daniel Day-Lewis, Heath Leager (falecido, enquanto terminou o seu papel como Coringa no filme “Batman, O Cavaleiro das Trevas”), Philip Seymour Hoffman (também falecido) e os lendários Jack Nicholson (do qual li até uma biografia), Clint Eastwood, Tom Hanks (formidável!), Christian Bale (outro que se doa ao ofício, emagrecendo ou engordando horrores), Joaquin Phoenix, Ricardo Darín (argentino), Morgan Freeman, Al Pacino, Leonardo DiCaprio, Michael Keaton, Daniel Craig, Woody Harrelson, Edward Norton (genial!) e Sylvester Stallone (só ele para ser tão bom e canastrão ao mesmo tempo). Sei que ao findar esta lista deixarei de fora outros excelentes.

 

IC – E atriz? Por que?

MPR – Talvez as feministas não irão gostar muito do que eu vou responder, mas admiro a beleza de verdadeiras divas tais Scarlett Johansson, Hillary Swank, Jodie Foster e outras. Nas interpretações admiro a Scarlett que consegue até a ousadia de ficar menos bela do que é, mas, analisando um pouco mais a fundo, percebo que mesmo Hollywood acaba dando mais protagonismo aos homens, não tenho dados específicos, trata-se de uma percepção. Brincaram que a Meryl Streep sempre é indicada ao Oscar de Melhor Atriz e não vence, azar do Oscar! Ela atua muito bem.

 

IC – Qual o seu filme favorito?

MPR – Mais uma vez, serei plural. Assisti com minha mãe e minha tia ao clássico “Doutor Jivago” e aquilo me marcou, mesmo que eu não entendesse patavina com os meus 10 anos. Mas fiquei petrificado ao assistir a “King Kong”, naquela versão de 1976, com a linda Jessica Lange. Na minha seleção entraria facilmente “Cinema Paradiso”, “A Vida É Bela”, “O Poderoso Chefão”, “O Povo Contra Larry Flint”, “Os Imperdoáveis” (com Clint Eastwood), “Titanic”, “Melhor É Impossível”, “Django” (do Quentin Tarantino), “Batman O Cavaleiro das Trevas”, “Meia-Noite em Paris”, “O Último Tango em Paris”, “1492 A Conquista do Paraíso” (o épico de Ridley Scott sobre a descoberta da América”, “O Lobo de Wall Street”, “Táxi Driver”, “Amadeus”, “Medianera” (argentino), “Parasita” (sul-coreano), “Sete Anos no Tibet”, todos os “Rambo” (sendo o II, “A Missão” o melhor) todos do Hitchcock e Woody Allen e se ficar aqui enumerando esta entrevista não acaba nunca. Quanto às nacionalidades, fora Hollywood onde os caras sabem fazer cinema, destacaria os argentinos, espanhóis, franceses, dinamarqueses e noruegueses.

 

IC – E você tem uma cena especial que lhe marcou? Não necessariamente ligada ao filme da questão anterior.

MPR – Tenho uma que está ligada ao meu trabalho e é bastante curiosa. Está contida numa entrevista que concedi ao programa “Iluminuras” da TV Justiça. Estava no cinema assistindo a “Birdman ou (A Inesperada Virtude Da Ignorância)” e uma cena lá me chamou a atenção. Quando o protagonista, interpretado pelo Michael Keaton fica preso de cueca do lado de fora do teatro e isso se transforma em um escândalo pela mídia sensacionalista e pela revolução que começou a acontecer naquele ano, 2014, quando uma pessoa com um smartphone podia gravar tudo e a privacidade acabava indo para o beleléu. Aquilo me marcou e depois senti (e verifiquei) que já havia escrito uma passagem no meu romance “Corda Sobre O Abismo”, lançado no ano anterior, que falava mais ou menos a mesma coisa. Essa similaridade de roteiros me deixou bastante feliz. Longe de mim aventar plágio do diretor, mas quando soube que o filme venceu o Oscar fiquei mais feliz ainda. No ano de 2015, quando “Corda Sobre O Abismo” foi publicado em Portugal, com uma tradução para o português de lá, inseri uma notinha esclarecendo a similaridade entre a minha ideia e o roteiro do filme. Brinquei atribuindo um subtítulo a esta versão portuguesa e assim o livro passou a se chamar “Corda Sobre O Abismo O Elogio Da Desesperança”. Dificilmente esta cena deixará de ser a minha especial, no dia em que encontrar o diretor de “Birdman”, Alejandro González Iñárritu, irei cobrar dele a minha comissão.          

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

PODRES DE RICOS


Eu esperava, ao assistir ao filme Podres de Ricos (Crazy Rich Asians, 2018, algo como Asiáticos Ricos e Loucos), deparar-me com uma comédia, no máximo uma comédia romântica com algumas pitadas de drama, mas não poderia estar mais enganado.

       Dirigido por Jon M. Chu e roteirizado por Peter Chiarelli e Adele Lim, com base no livro Asiáticos Podres de Ricos (também Crazy Rich Asians no original), de  Kevin Kwan, o enredo é um drama com pitadas de humor, cuja premissa é bem simples: Nick Young (Henry Golding) decide levar a namorada Rachel Chu (Constance Wu), uma professora de economia, mais especificamente da Teoria dos Jogos, da Universidade de Nova Iorque, para conhecer a sua família em Singapura, durante o casamento de um amigo do qual será padrinho.

Tudo estaria bem se não fosse por um detalhe: Nick esqueceu de mencionar, para a namorada, que a sua família é... bem, podre de rica. Daí vem, obviamente, o conflito da trama, a boa e velha diferença de classes sociais. No entanto, a situação não é a mesma que no ocidente, pois a cultura asiática é muito mais tradicionalista que a nossa, pondo a família e os seus interesses, acima da felicidade individual.

Não deixa de ser um clichê, o do asiático honrado, trabalhador e dedicado aos seus, mas pelo visto é uma situação que ainda impera massivamente entre as famílias chinesas, cuja geração atual vem tentando quebrar.

É difícil não exprimir um julgamento de valor sobre o que se passa no filme, mas é pertinente lembrar que todos nós, que o assistimos, mesmo os descendentes de asiáticos, possuímos um viés ocidental de visão de mundo, como a própria mãe de Rachel, Kerry (Tan Kheng Hua), explica para a filha, antes da mesma partir para Singapura: você pode ser chinesa, mas tanto no coração quanto no seu cérebro, a sua mentalidade é ocidental.

Tal aviso não quer dizer que uma cultura é certa ou melhor que a outra, mas uma mera lembrança de que quando se viaja para locais até então desconhecidos, o viajante que deve adaptar-se à cultura da região e não o contrário.

 


Fontes:

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Crazy_Rich_Asians

 

sábado, 11 de fevereiro de 2023

UMA DOCE CHUVA...

            A música tem uma relação íntima com a sétima arte, pois enquanto esta última dá vida as histórias contadas na tela grande, a primeira tem a capacidade de despertar as mais profundas emoções em qualquer ser humano.

           É algo instantâneo, que vem do fundo do peito e faz a gente sorrir ou chorar junto do personagem cuja trama acompanhamos. Afinal, quiséramos nós ter uma trilha sonora para embalar nossas vidas. Assim, tudo ficaria mais fácil nos momentos difíceis.

            No entanto, não é uma tarefa fácil casar uma cena com uma melodia. O timing tem de ser perfeito e a música realmente corresponder as emoções e sensações que o personagem vivencia. O músico recentemente falecido Burt Bacharach (1928-2023) conseguia fazê-lo com perfeição, não só tendo composto canções como I Say a Little Prayer (Eu faço uma Pequena Oração, numa tradução literal), imortalizada na voz de Aretha Franklin, como também músicas para trilhas sonoras, sendo a mais marcante delas, na minha humilde opinião, Raindrops Keep Fallin' on My Head (Gotas de Chuva continuam caindo na minha Cabeça), composta em parceria com o letrista Hal David (1921- 2012).

            Tal música ganhou o Oscar de Melhor Canção Original para ambos, fazendo parte do filme Butch Cassidy, de 1969, dirigido por      George Roy Hill (1921-2002), estrelando Paul Newman (1925-2008) no papel título e Robert Redford como Sundance Kid e a belíssima Katharine Ross como Etta Place. Além de ser um dos melhores faroestes que eu já vi, também conta uma das mais belas e emblemáticas cenas de todo o cinema, justamente embalada por Raindrops. É quando Butch e Etta andam de despreocupadamente de bicicleta, apesar dos problemas em que estão metidos até o pescoço, e ainda assim conseguem arrumar mais confusão. Vale a pena assistir. Não deixem de conferir o vídeo abaixo.

  



 

Fontes:

 https://www.omelete.com.br/musica/burt-bacharach-importante-compositor-do-pop-morre-aos-94-anos

https://pt.wikipedia.org/wiki/Burt_Bacharach

https://pt.wikipedia.org/wiki/Raindrops_Keep_Fallin%27_on_My_Head

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hal_David

https://pt.wikipedia.org/wiki/George_Roy_Hill

https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Newman

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

FUGA DO PASSADO

      Às vezes, as pessoas até tentam, mas não conseguem escapar de seus passados, que voltam para assombrá-las e cobrar o seu preço. É o caso de ‘Fuga do Passado’ (Out of the Past), filme de 1947, dirigido por Jacques Tourneur (1904-1977) e escrito por Daniel Mainwaring (1902-1977), com base no romance Build My Gallows High, de 1946 (algo como ‘Construam minha Forca Alto’), que o roteirista escreveu sobre o pseudônimo de Geoffrey Homes.

      Trata-se de uma trama contada no clássico estilo noir: rodada em preto e branco, com detetives de chapéus e sobretudos, além, é claro, de uma femme fatale da melhor espécie.

        A ação começa com Joe (Paul Valentine, 1919-2006) chegando a pequena cidade de Bridgeport, atrás de um tal de Jeff Bailey (Robert Mitchum,1917-1997), aparentemente um pacato dono de posto de gasolina que havia saído para pescar com a sua namorada Ann (Virginia Huston, 1925-1981).

     Então, quando Joe finalmente encontra Jeff, no posto de gasolina, descobrimos que ele era um detetive particular com negócios inacabados com um tal de Whit (Kirk Douglas, 1916-2020). Joe intima Jeff a encontrar com o seu antigo cliente, em uma propriedade às margens do Lago Tahoe, no dia seguinte, de modo que tais assuntos pendentes possam ser encerrados.

         Sem outra alternativa, Jeff acata a ordem, indo até o local junto de Ann, na data combinada. Durante a viagem de carro, Jeff aproveita para esclarecer as coisas para a sua namorada: o seu sobrenome não é Bailey, como fez todos acreditarem, mas Markham, e uma vez ele havia sido contratado por Whit para encontrar a sua garota, Kathie (Jane Greer, 1924-2001), que havia desaparecido depois de atirar em seu amante (que obviamente sobreviveu para poder contratar Jeff) e surrupiar a quantia de quarenta mil dólares.

     O interessante é que a principal motivação de Whit não é recuperar a sua grana ou se vingar, mas ter Kathie de volta, pois a atração que sente por ela é maior que qualquer desejo de desforra que pudesse nutrir contra a mesma.

       Tudo parecia acertado e muito simples de resolver, afinal, o quão difícil poderia ser, para Jeff, achar uma garota fujona e levá-la de volta ao seu “bem-feitor”? Mas o detetive comete o erro de se apaixonar e fugir com Kathie.

      E é com essa sensação de não saber o que vai acontecer em seguida que o espectador assiste Jeff despedir-se de Ann, que vai embora no carro do namorado, no portão da casa nas margens do Lago Tahoe.

     Daí para frente a ação e as reviravoltas se acumulam uma após a outra, deixando quem assiste vidrado para saber quem vai vencer o jogo de gato e rato que se segue, uma ótima pedida para quem é fã de filmes noir ou de suspenses em geral.


Nota: é necessário ativar as legendas do vídeo, pois não achei o trailer dublado. 

Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Out_of_the_Past

https://en.wikipedia.org/wiki/Jacques_Tourneur

https://en.wikipedia.org/wiki/Daniel_Mainwaring

https://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Valentine

https://en.wikipedia.org/wiki/Virginia_Huston

https://en.wikipedia.org/wiki/Kirk_Douglas

https://en.wikipedia.org/wiki/Jane_Greer

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

LICORICE PIZZA

       Licorice Pizza (cuja tradução literal do título seria Pizza de Alcaçuz, mas é também uma gíria norte-americana para discos de vinil), dirigido e roteirizado por Paul Thomas Anderson, é um filme complexo. Aliás, controverso talvez fosse uma palavra melhor para se referir ao mesmo, pois a sua premissa básica é a de um romance, ainda que inicialmente platônico, entre Gary Valentine (Cooper Hoffman), um garoto de 15 anos e Alana Kane (Alana Haim), uma mulher de 25 anos, uma questão não só polêmica na atualidade, como também em 1973, época em que se passa o enredo, já que alguns anos antes, em 1968, ocorreu um caso real, na França, com uma temática parecida: Gabrielle Russier*, uma professora, de 30 anos, foi levada ao suicídio, devido à pressão da sociedade francesa da época, por ter se envolvido com um aluno com metade de sua idade.

          Voltando a trama do filme, essa começa no dia da fotografia na escola que Gary frequenta, cuja empresa responsável pelos retratos é aquela em que Alana trabalha. Ao conhecê-la, enquanto a moça oferecia espelhos e pentes para que os alunos pudessem se arrumar antes de serem fotografados, Gary não perde tempo em convidá-la para sair, apesar da diferença de idade entre ambos.

            Ele a chama para ir a um restaurante em que geralmente vai para jantar e, por alguma estranha razão, Alana resolve comparecer. Assim tem início a estranha simbiose que é a amizade dos dois, que passa por desafios como a venda de colchões d’água, um dos muitos esquemas de Gary para ganhar dinheiro fácil, mas que é frustrada pela crise do petróleo de 1973, já que os ditos produtos são fabricados com base nesse insumo; as crises de ciúmes do garoto, por ver homens mais velhos flertarem com Alana, sem poder fazer nada, ainda que seus sentimentos sejam aparentemente correspondidos pela moça, mesmo que não consumados.

        A verdade é que a história se arrasta, com pequenos acontecimentos que parecem não levar a lugar algum, enquanto tenta resolver o bom e velho eles vão ou não ficar juntos, ao melhor estilo Ross e Rachel, do seriado Friends. Não é que o filme seja ruim, as atuações são agradáveis e consistentes e o elenco é bastante carismático, principalmente os intérpretes de Gary e Alana. A fotografia é muito bem-feita, mas o maior problema é o roteiro, que demora a decolar, que só quando chega ao seu ápice dá mostras da intenção de Anderson ao escrevê-lo, ainda que o roteirista não tenha tido coragem de contar a história que queria desde o início. 


 

Fontes:

 https://portalpopline.com.br/licorice-pizza-explicacao-titulo-filme/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Licorice_Pizza

 *A Imortal Gatito, reportagem de Mavis Gallant, originalmente publicada em 1971, mas presente no livro ‘Os Piores Casos da Revista New Yorker’

 

 

 

domingo, 5 de fevereiro de 2023

ENTREVISTA COM PAULO ANTUNES

Estou aqui com Paulo Antunes que, além de professor universitário e amante da sétima arte, também é ator.

1.  Por que não começa nos falando um pouco sobre você, Paulo.

R: Grato pela oportunidade de participar desse blog. Sou lafaietense, professor universitário, escritor e ator. Aprecio muito viajar e assistir teatro e cinema. Na verdade, meu gasto com entretenimento é bem focado em arte, cultura. Sempre gostei de ler, escrever e atuar. E observar as pessoas, os fatos, as coisas... por isso também adoro fotografia. Por isso falo menos e ouço mais. Essa a forma que me garante mais tentar entender o mundo.

2.  Qual foi o seu primeiro contato com o cinema?

R: Meu contato com o cinema se deu nos cinemas de Lafaiete, desde muito cedo, quando pré-adolescente. Tínhamos aqui, no mínimo, 5 cinemas, sendo o maior e mais disputado o Cine Regina. Lá assisti a muitos filmes comerciais e de arte, além dos eróticos. Na época, a gente falsificava a data de nascimento nas carteirinhas de estudante, deixava o pouco de barba que tinha crescer para ludibriar o Juizado de Menores. Vivíamos sob um governo ditatorial que queria censurar tudo, mas que se esquecia de que quanto mais proibido, mais a gente gostava de fazer.

3.   E quando o cinema virou uma paixão?

R: A paixão pela Sétima Arte é desde sempre, como a pelo teatro e pelos os livros. Costumávamos já comprar ingressos no fim de semana anterior para o posterior. Uma forma de se conseguir lugar e não perder o filme da semana seguinte. O cinema virou paixão quando descobri os filmes exibidos fora do circuito comercial, os filmes de arte que também, ora e outra, passam na televisão. Me apaixonei pelos cineastas geniais da época: Bergman, Godard, Hitchcock, Fellini, Woody Allen, Truffaut, Kurosawa, Polanski, Walter Hugo Khoury, Glauber Rocha e outros, além de, é claro, Charles Chaplin, esse imortal que conseguiu espaço no Ocidente e no Oriente.  

4. Qual o seu filme favorito?

R: É difícil dizer que se tenha somente um filme favorito devido aos gêneros. Em qual gênero? Os filmes, assim como as peças teatrais e os livros, por se enquadrarem em espécies distintas, não há como se mensurar a preferência em relação a eles. Sei que me lembro com prazer dos filmes O Garoto, de Chaplin; Beleza American, de Sam Mendes; Eles Não Usam Black Tie, de Leon Hirszman etc. etc.

5. Existe alguma cena que te marcou muito? Não necessariamente relativa ao filme da questão anterior.

R: Tenho várias cenas marcantes em mente: em Eles Não Usa Black Tie, por exemplo, quando Fernanda Montenegro e outros atores participam de um enterro-passeata a favor de uma greve; Em Beleza Americana, a cena em que um personagem filma um saco plástico voando e vai narrando o que sente ao ver aquilo; em Nell, com Jodie Foster, as cenas em que ela, uma mulher “selvagem” se banha nua durante a noite num lago... Há muitas cenas que ultrapassam o ato da filmagem e viram poemas no nosso coração.

6. Qual o seu ator favorito? E por quê?

R: Também é difícil se falar de ator favorito devido às múltiplas possibilidades de tipos. Sempre amei Chaplin, Al Pacino, Robert de Niro, Jack Nicholson, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Rodrigo Santoro, Milhem Cortaz e outros muitos. Sempre me agradaram tais atores pela capacidade de exercerem o ofício com muita verdade, boa vontade, senso de responsabilidade e, óbvio, versatilidade.

7.  E atriz? Por quê?

R: Novamente a distinção atrapalha. Tenho adoração por Marília Pera, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Meryl Streep, Glenn Close, Sigourney Weaver, Judie Foster, Susan Sarandon etc. E aprecio essas atrizes pela versatilidade, a capacidade de encarnarem personagem bem distintos uns dos outros e delas próprias. Isso é fazer com amor e profissionalismo o ofício, a arte.

8.  Como percebeu que queria atuar?

R: Quando criança, veio à cidade um teatro itinerante chamado Grande Teatro Bibi. Era uma espécie de circo, só que apresentava peças teatrais. Eu já gostava de teatro, lia muito teatro e como eles tinham um grande repertório, assisti a muitas peças. Isso, para eu criança, era mais que doce, parque de diversão, pipoca: era algo me dizendo que eu havia me achado, que eu estava e sempre estive ali e, portanto, devia respirar, beber, cheirar, comer aquilo com toda força de minha dimensão biológica e emocional.

9.  E a sua relação com os palcos, como começou?

R: Comecei fazendo teatro na escola, no quintal de minha casa; sozinho, comigo próprio sendo ator e plateia, na penumbra de meu quarto me imaginando nesse ou aquele personagem que li, vi... Depois juntei o pessoal que percebi que gostava de teatro e fomos ganhar os palcos de Lafaiete e cidades circunvizinhas.

10. É verdade que você imita o Carlitos, de Chaplin? Como essa experiência começou?

R: Sempre gostei de imitar o personagem Carlitos, de Chaplin, afinal, ele embalou minha infância, adolescência, com seus filmes. Me identificava muito com ele, solitário, intenso, pacificador, mas, sobretudo, subversivo, deliciosamente subversivo. Adoro sair do quadrado, da bolha. Mas assumi mesmo o papel de mímico imitador de Chaplin durante uma apresentação numa gincana no Lafaiete Síder Clube. Foi um sucesso muito grande e tive de repetir a imitação em vários outros clubes, festas em escolas, aniversários... Depois de um tempo, passei a usar o personagem no carnaval e assim foi. Até hoje, quando me visto de Carlitos, ou Chaplin como a maioria diz, uso o mesmo terno surrado, o mesmo chapéu e a mesma bengala de mais de 30 anos atrás. Só o par de sapatos original perdi numa gincana em Piranga e a gravata num baile de carnaval. É muito legal, fico blindado quando me visto, volto no tempo, visto a vida com todas as suas cores, doces e sal. Deixo de ser eu próprio, sou mais intenso... e verdadeiro comigo próprio. Enfim, feliz.

 

 

ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

  Luciano Carrierri  é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei ...