Este é um daqueles filmes difíceis de assistir, não só por se tratar de uma história real, mas também por envolver uma questão social tão delicada como o racismo, ainda mais na época e no lugar em que tudo se passa: o princípio dos anos 60, no sul dos Estados Unidos, momento em que a região era um caldeirão prestes a explodir, devido a luta pelos direitos civis e o fim da segregação racial.
Zellner
vem de uma família sulista tradicional e tem um passado complicado: o seu avô
paterno é parte da Ku Klux Klan. No entanto, o rapaz não acredita nessa
bobajada toda e começa a se meter em problemas ao fazer um trabalho da
faculdade sobre diferenças raciais. Ele descobre que, para realizar a tarefa,
não poderia nem ao menos falar com pessoas negras sobre o assunto.
É claro que ele desobedece a ordem e começa a
expandir os seus horizontes, questionando o seu passado, o que lhe foi
parcialmente ensinado pela sociedade a sua volta e o seu papel em tudo aquilo:
deveria não fazer nada, mesmo que a causa fosse correta e justa, ou entrar numa
luta que não era sua, deixando de lado a segurança proporcionada pelo seu tom
de pele claro e todos os privilégios que vinham com ele, como, por exemplo, uma
vida pacata ao lado de sua noiva Carol Ann (Lucy Hale)?
Tantos
anos depois, a escolha parece clara: lutar pelo que era certo, mas ao assistir
a trama, vemos o preço que qualquer pessoa, fosse negra ou branca, pagava por
assumir a causa dos direitos civis como sua. Indivíduos eram surrados,
duramente espancados e linchados até a morte em movimentos pacíficos e
não-violentos, fossem passeatas, viagens de ônibus do grupo Freedom Riders
(algo como Viajantes da Liberdade) ou por atos como quebrar a política de
segregação racial, como Rosa Parks fez, que aliás, está presente no filme
interpretada por Sharonne Lanier.
Assim,
ao aderir, por completo, ao movimento dos direitos civis, Zellner fez a sua
escolha e aceitou as consequências que vieram com ela. Ele pode ter perdido
muito, mas a sua crença, a sua ideologia de uma sociedade melhor ainda lhe é mais
preciosa.
Por
fim, vale ressaltar que a história aqui não é planfetária, uma apologia ao
‘salvador branco’, mas uma mensagem mais profunda: para que o mal prevaleça,
basta que os bons homens não façam nada, como diz a frase aparentemente
atribuída a Edmund Burke.
Fontes:
https://www.imdb.com/title/tt2235372/?ref_=nv_sr_srsg_0
https://www.imdb.com/name/nm1395771/?ref_=tt_cl_t_1
https://en.wikipedia.org/wiki/Edmund_Burke#%22When_good_men_do_nothing%22