Apesar
de baseado num clichê recorrente da literatura norte-americana, o do homem que
dorme por vários anos para acordar no futuro, cujos exemplos vão desde o conto
‘Rip Van Winkle’, do autor Washington Irving (1783-1859) às mais recentes
aventuras de Buck Rogers, herói dos livros pulps e das tiras em quadrinhos,criado por Philip
Francis Nowlan (1888-1940) no princípio do século XX, o filme Eternamente Jovem
(Forever Young,1992), dirigido por Steve Miner, com base num roteiro de J.J.
Abrams, e estrelado por Mel Gibson, é uma aventura cativante sobre amor e
perda, do que o ser humano é capaz para lidar com as suas emoções em relação a
ausência daqueles que se vão.
A
trama gira em torno do piloto de testes Daniel McCormick (Mel Gibson) que,
inconsolável com o acidente que deixou a sua namorada Helen (Isabel Glasser) em
um coma aparentemente irreversível, aceita participar de um experimento de
criogenia do seu amigo cientista Harry Finley (George Wendt) que o deixaria em
suspensão criogênica durante um ano.
Mas
algo dá errado e quando o piloto é acordado por Nat Cooper (Elijah Wood) e seu
amigo Félix (Robert Hy Gorman), mais de cinquenta anos se passaram. A partir
daí, Daniel tem que descobrir não só o que deu errado com o experimento, mas
também redescobrir o mundo, que não é mais o mesmo daquele que era em 1939, ano
em que se deu a experiência.
Assim,
ele parte em busca de respostas sobre o que aconteceu com as pessoas com quem
conviveu no passado, auxiliado por Nat, que acaba encontrando no piloto a
figura paterna que tanto faltava em sua vida.
É
um bom filme, cuja mensagem é de amor e esperança, mas, principalmente, de que
nunca se deve deixar para depois algo que se pode fazer agora, pois instantes
antes do acidente que deixou Helen em coma, McCormick pretendia pedi-la em
casamento, porém hesitou e tudo se perdeu.
Nota: o trailer que consegui legendado estava com a qualidade da imagem muito ruim, então também postei uma versão sem legendas.
Estou aqui com Anita Galvão, uma das
fundadoras do grupo CineClássico do Facebook, e vamos conversar uma pouco sobre
a sua paixão pelo cinema.
1.Oi,
Anita. Como vai?
R: Oi.
Estou bem e você?
2.Também.
Muito obrigado por perguntar. Para começar, por que não começa falando um pouco
sobre você?
R: Sou
advogada aposentada, viúva e com dois filhos adultos.
3.Qual
foi o seu primeiro contato com o cinema? Você se lembra?
R: Meu
primeiro contato foi assistindo Branca de Neve e os Sete Anões, no cinema, e
depois Bambi. Era muito pequena. Devia ter uns 3 ou 4 anos.
4.E o
interesse pela sétima arte quando, de fato, começou?
R: Na
época, os filmes demoravam de 3 a 4 anos para chegarem por aqui e passar no cinema.
Não existia vídeo, então, na TV passavam filmes clássicos maravilhosos que eu assistia
com o meu pai.
5.Como
surgiu o grupo CineClássico?
R: Sou
membro de vários grupos de cinema, no entanto, o foco deles era cinema atual e
os clássicos eram relegados ao segundo plano. Então, o Zeca, meu amigo, falou que
gostaria de montar um grupo sobre cinema clássico comigo. Assim, em junho de
2021, surgiu o CineClássico, porque eu só assisto a filmes velhos (risos).
6.E como
você se envolveu com ele?
R: Na
montagem do grupo convidei a Nouah, a Fran e a Madalena para serem moderadoras,
o que foi fundamental para a formação do grupo. Sem elas não seria o grupo que
é.
7.Qual a
área de atuação do grupo? E em quais mídias e redes sociais?
R: Só
permitimos posts sobre produções cinematográficas de 1910 até 1969. Estamos no
Facebook, Instagram e Titok com conteúdos diferentes em cada rede social.
8.É
verdade que até mesmo algumas celebridades internacionais fazem parte do grupo?
R: No
Facebook temos alguns artistas brasileiros e a Sharon Stone nos segue no
Instagram.
Para
terminar algumas perguntas sobre as suas preferências cinematográficas:
9.Qual o
seu filme favorito da era clássica do cinema? E por quê?
R: Tenho
vários filmes favoritos, mas amo todos do Billy Wilder. Em especial, Crepúsculo
dos Deuses e Quanto Mais Quente Melhor.
10.Existe
alguma cena que te marcou muito? Por que?
R: vi
no cinema E o Vento Levou com meus pais, a cena das pessoas mortas e feridas na
Guerra de Secessão me marcou muito. Tinha lido o livro que foi bem fiel.
A nova versão do filme Pinóquio, de 2022,
comandada por Robert Zemeckis, é alegre divertida, cheia de cor e vida.
Assim
como o desenho de 1940, a história aqui é praticamente a mesma, com apenas
alguns acréscimos de personagens, como Sofia (Lorraine Bracco), a gaivota,
Fabiana (Kyanne Lamaya), a marionetista deficiente, e Sabina (Jaquita Ta'le),
sua boneca bailarina.
Mas
não se preocupe que todos os personagens antigos ainda estão lá: um carismático
Gepetto, interpretado de maneira sensacional por Tom Hanks, a Fada Azul (Cynthia
Erivo), o Grilo Falante (Joseph Gordon-Levitt), João Honesto (Keegan-Michael
Key), o gato Fígaro e, é claro, Pinóquio (Benjamin Evan Ainsworth), ainda que a
computação gráfica desse último deixe um pouco a desejar, não sendo tão
realista quanto as dos demais personagens (realista para um boneco, digo).
E
por falar em Gepetto, a sua backstory é expandida nessa segunda versão. Aqui
ele é um viúvo que também perdeu o seu único filho, o que explica tanto a sua
solidão quanto a motivação de seu pedido a estrela cadente, posteriormente
atendido pela Fada Azul.
Os
cenários e os efeitos visuais são fantásticos e as músicas contagiantes, mas no
fim das contas o que vende o filme é a nostalgia, pelo menos para os adultos,
que veem as suas infâncias ganharem vida de uma forma totalmente nova.
Carlo
Collodi (1826-1890), o autor do conto de fadas que inspirou ambas as versões
disneynianas, não poderia estar mais orgulhoso de suas criações, se aqui
estivesse para ver a grandiosidade que alcançaram, apesar de algumas mudanças
no enredo devido ao que, agora, é politicamente correto.
Quem é Scarlett O’Hara (Vivien Leigh,
1913-1967)? Essa é a pergunta que o filme ‘E o Vento Levou...’, de 1939,
dirigido por Victor Fleming (1889-1949), com base no único romance escrito pela
jornalista Margaret Mitchell (1900-1949), durante um período de convalescência,
tenta responder.
Não
que seja um mistério. O roteiro,
adaptado por Sidney Howard (1891-1939), logo nos mostra a garota fútil, mimada
e arrogante que Scarlett é, o tipo de personagem que todo mundo adora odiar. A
grande questão é quem ela vai se tornar.
Logo
no início do filme, a adolescente tem as suas ilusões românticas acerca do
vizinho Ashley Wilkes (Leslie Howard, 1893-1943) destroçadas, ao saber do
noivado do mesmo com sua prima Melanie Hamilton (Olivia de Havilland,
1916-2020).
Ainda muito ingênua e
acreditando que tudo não passa de um engano, que o mundo continua aos seus pés,
Scarlett resolve tomar uma atitude, um primeiro indício de que ela não é como
as outras damas de sua geração, possuindo alguma garra e fibra para lutar pelo
que quer (ou pelo menos imagina querer).
Então, durante o
churrasco de comemoração do noivado em Twelve Oaks (Doze Carvalhos), a fazenda
dos Wilkes, Scarlett espera todas as damas terem se retirado para descansar e
encurrala Ashley na biblioteca da casa principal, declarando a ele o seu amor,
deixando todo o seu orgulho de lado, e dizendo que ele deve se casar com ela.
O Sr. Wilkes, apesar de
tentado, a recusa, muito devido a sua honra e palavra de um cavalheiro do Sul,
abandonando uma furiosa Scarlett na biblioteca, que não perde tempo ao arremessar
um vaso contra uma parede, demonstrando toda a sua frustração.
Aí que percebemos que a
dupla não estava sozinha durante a confissão da moça, pois Rhett Butler (Clark
Gable, 1901-1960) faz notar a sua presença, levantando-se do sofá no qual
estava deitado no cômodo.
Ele alfineta Scarlett
por conta de seu comportamento tolo, que poderia pôr a reputação dela a perder.
E assim começa um relacionamento de gato e rato, pois ao mesmo tempo que Rhett
ama e deseja a moça, ajudando-a como pode, também não pode deixar de
espezinhá-la, de modo a atiçá-la, não só a confessar os seus sentimentos por
ele, mas também a expandir os seus horizontes e perceber que o mundo não gira
em torno de seu próprio umbigo. Não que Scarlett deixe barato, tendo sempre
pronta uma resposta na ponta da língua ou uma provocação para Rhett.
Mas nem tudo são flores
na concretização de tal romance. Vários osbstáculos se entrepõem a felicidade
de ambos, como a eclosão da Guerra Civil Americana, o incêndio de Atlanta e
muitas outras situações, que não vou relatar para não estragar a surpresa de
quem for assistir ao filme.
Só adianto isso: o
filme é tão bom que levou para casa as estatuetas de Melhor Filme, Melhor
Diretor (para Fleming), Melhor Atriz (para Vivien Leigh), Melhor Atriz Coadjuvante
para Hattie McDaniel (1893-1952) por sua interpretação da escrava Mammy, a
mucama de Sacarlett, sendo a primeira pessoa negra a alcançar tal feito, Melhor
Roteiro (para Sidney Howard, ainda que postumamente), Melhor Fotografia e
Direção de Arte, como não poderia deixar de ser com os seus cenários
deslumbrantes, bastante detalhados e coloridos, o que creio ter sido uma grande
novidade para época.
Nota: filme disponível no HBO Max para assinantes ou no Youtube para compra
Este filme, de 1952, não é como os outros
faroestes. Para começar, foi dirigido por Fritz Lang (1890-1976), cineasta
expoente do expressionismo alemão no cinema da década de 20. E como se não
bastasse, rompe com alguns dos padrões do gênero.
Posso
ser suspeito para falar, pois adoro faroestes, mas ‘O Diabo feito Mulher’ (Rancho
Notorious, algo como Rancho Notório em português) inova na forma de contar a
sua história. Pelo menos, para um bangue-bangue, pois o mesmo recurso narrativo
já havia sido empregado, em Cidadão Kane, mais de uma década antes.
Deixe-me
explicar melhor, o filme, que funciona como uma balada, como aquelas que os
caubóis costumam cantar em volta das fogueiras em tais tramas, conta a história
de Vern Haskell (Arthur Kennedy, 1914-1990), um caubói em busca de vingança
pelo assassinato de sua noiva, Betty Forbes (Gloria Henry, 1923-2021), morta durante
o assalto que ocorreu no armazém do pai dela.
Dois
homens estavam envolvidos no crime, Kinch (Lloyd Gough, 1907-1984) e Whitey (John
Doucette, 1921-1994), mas o primeiro mata o segundo, pois este último
discordava dele por ter matado a garota. De toda forma que, quando Vern o
encontra moribundo, após continuar seguindo com a busca pelos bandidos, mesmo
sem contar mais com o apoio dos homens da lei e dos outros cidadãos da
cidadezinha no Wyoming, que desistiram devido ao perigo, consegue arrancar de
Whitey ‘Chuck-a-Luck’ (uma gíria para roleta, creio eu) como as suas últimas
palavras, antes que o mesmo partisse definitivamente para o inferno.
Assim,
Vern segue com suas investigações sobre o mítico lugar, até que,
inesperadamente, durante uma conversa numa barbearia, o caubói ouve de outro
cliente, antes que mesmo o atacasse, a indagação de o que ele queria com Altar
Crane. Um confuso Vern vence o confronto, mas não tem a menor ideia de quem é
Altar Crane, até que um dos habitantes do local lhe esclarece tratar-se de Altar
Keane (Marlene Dietrich,1901-1992), uma famosa cantora de saloons, com um
passado cheio de histórias misteriosas que Haskell busca escutar de várias
pessoas e em vários lugares, até que enfim uma pista o leva até Frenchy
Fairmont (Mel Ferrer, 1917-2008), o companheiro e amante de Keane.
O
único problema é que Fairmont está preso e Vern tem de causar uma confusão num
saloon, para que possa ser preso também e obter mais informações de Frenchy. Daí
para frente a trama segue cheia de ação e intriga, até um desfecho que, imagino
eu, não poderia ser diferente.
Ao me preparar para escrever estas linhas,
deparei-me com uma declaração de Lorna Luft, uma das filhas de Judy Garland,
afirmando que sua mãe não era uma figura trágica.
Concordo
plenamente. Trágico é o que fizerem com ela, pelo menos é o que eu não pude
deixar de perceber ao assistir ao filme Judy: Muito Além do Arco-Íris.
Dirigido
por Rupert Goold e estrelando Renée Zellweger como Garland, a trama mescla os
momentos do início da carreira de Judy (aqui interpretada por Darci Shaw) com
os acontecimentos de sua última turnê em Londres, seis meses antes de sua
morte.
É
um filme denso, que mostra com total crueza e realismo os bastidores da fama, o
que era ser uma jovem estrela nos anos trinta e os efeitos que isso causou a
Garland.
O
tipo de abuso psicológico pelo qual ela passou ao longo de sua adolescência,
para se firmar como estrela, ecoaram até o seu trágico e precoce fim, aos 47
anos, devido a uma overdose acidental.
Toda
a pressão para permanecer magra e bonita, os comprimidos que passou a tomar
para tanto e para dormir, devido a ansiedade que a acometia ao tentar atender
os altos padrões que os estúdios esperavam dela, transformaram-na numa adulta
que se sentia patética quando não estava sob os holofotes ou sob o efeito de
álcool e narcóticos.
O
pior de tudo é que ela amava e odiava os palcos, pois ao mesmo tempo que atuar
e cantar eram seus maiores dons e paixões, também tornaram-se os seus maiores
medos, pela simples ideia de não conseguir entregar o seu melhor, o que era
“esperado” dela.
Todas
essas nuances podem ser percebidas na atuação de Zellweger, que conseguiu
transmitir com perfeição a sensação de estar perdida e não saber quem era, tal
qual Garland aparentava se sentir, por ter passado tanto tempo projetando a
imagem que os estúdios gostariam que ela passasse.
Não
é para menos que Renée Zellweger consagrou-se como a grande vencedora do Oscar
de Melhor Atriz, em 2020, por sua participação neste filme.
Escrito por Robert Louis Stevenson (1850-1894),
o ‘Médico e o Monstro’ (The Strange case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde/ O Estranho
Caso do Dr. Jekyll e do Sr.Hyde, 1886) é um clássico da literatura mundial, no
qual o pacato Dr. Henry Jekyll desenvolve uma fórmula que o permite despertar
um lado mais sombrio de sua personalidade, transformando até mesmo sua
aparência e, portanto, assumindo a alcunha do Sr. Eward Hyde.
É
uma das primeiras obras a abordar, de certa forma, o conceito de dupla
personalidade, além de ter inspirado inúmeros outros personagens, como o
Incrível Hulk, e trabalhos literários, como o que serviu de premissa para este
filme, no caso o romance Mary Reilly, de Valerie Martin, no qual a história do
pobre Dr. Jekyll é retratada através dos olhos de sua criada que dá título à
obra. Pode causar certa estranheza ao leitor, mas várias obras famosas já foram
recontadas em outros romances que não de seus autores originais, podendo-se
citar exemplos como clássicos tais quais Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
(1775-1817), e diversos pastichos sobre casos de Sherlock Holmes, que não foram
concebidos pelo seu criador Arthur Conan Doyle (1859-1930).
Enfim,
a película, dirigida por Stephen Frears, não contem uma ideia totalmente
original, mas é boa devido a sua execução, principalmente pelas atuações de
Julia Roberts, como Mary Reilly, e John Malkovich, exercendo aqui a dupla
função de interpretar tanto Jekyll quanto Hyde. Aliás, é o triângulo amoroso
formado por Mary e as duas personalidades de seu patrão que gera tensão na
trama, fazendo-a funcionar.
Por
um lado, temos o gentil doutor que desperta o carinho de Mary por se preocupar
com ela, inquerindo sobre as cicatrizes que a moça, literalmente, carrega de
seu passado, devido a convivência com o seu pai abusivo, o Sr. Reilly (Michael
Gambon e, antes que alguém se pergunte porque o ator lhe parece tão familiar,
sim, trata-se do segundo intérprete do Professor Dumbledore na saga Harry
Potter), algo com que ninguém pareceu se importar, fazendo com que ela se sinta
tratada como um ser humano pela primeira vez e não apenas como alguém que
existe apenas para servir. Por outro, temos o horrendo Sr. Hyde, capaz das maiores
atrocidades, mas que ainda assim desperta a libido de Mary, seus desejos
sexuais mais profundos, algo que, na época em que a trama se passa, o final do
século XIX, não era normal exteriorizar, ainda mais tratando-se de uma mulher.
Outro
ponto forte da trama é a breve, porém marcante interpretação de Glenn Close
como a caricata Sra. Farraday, uma cafetina a qual tanto o Doutor Jekyll quanto
o Sr. Hyde recorrem a seus serviços.
Por
fim, o design de produção é muito agradável aos olhos e vai parecer bastante
familiar para muitas pessoas, pois se trata do trabalho de Stuart Craig, o
responsável pelo design de produção de todos os filmes da franquia Potter. Que
coincidência, não?
Nota: infelizmente, não encontrei o trailer dublado ou legendado.