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sexta-feira, 31 de março de 2023

ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

 Luciano Carrierri é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei um pouco com ele sobre essa paixão e como a narrativa é importante em tais jogos.

  1. Olá, Luciano. Como vai?

R: Tudo tranquilo Igor, e com você?

  1.  Tudo bem também! Então, vamos começar o nosso bate-papo. Qual foi o seu primeiro contato com os jogos de tabuleiro? Ele se deu na infância?

R: O primeiro contato, no Brasil, é sempre com os jogos mais comuns: WAR, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, etc. No meu caso, não foi diferente, quando criança jogava esses jogos, mas já percebia que tinha algo errado ali, as partidas não acabavam, os jogos eram muito dependentes de sorte e com pouca estratégia, portanto, bem frustrantes. Depois, descobri o Scrabble, Combate, Imagem e Ação, Detetive, Scotland Yard e as coisas melhoraram um pouco.

  1. Você joga tais jogos continuamente desde a infância ou retomou o hábito já adulto?

R: Tive que parar, por causa de uma treta que aconteceu no meu grupo de amigos, numa partida de Imagem e Ação. Fiquei mais de 10 anos sem jogar.

  1. Caso tenha voltado a jogar depois de adulto, o que motivou essa decisão? Como voltou ao tabuleiro, por assim dizer?

R: Ouvi um Nerdcast uma vez sobre jogos de tabuleiro, onde falaram sobre Zombicide e outros jogos, fiquei interessado. Fui tentar comprá-los, mas eram muito caros. Passou um tempo, a ideia foi amadurecendo e resolvi pedir um de aniversário. Fui na Leitura do BH Shopping e comprei um 7 Wonders, levado pela quantidade de prêmios que o jogo havia ganhado (esses prêmios vêm escritos na caixa). Levei o jogo para umas férias em família, passei 3 dias lendo o manual com muita atenção e chamei todo mundo para jogar. O pessoal quase perdeu a paciência com a explicação das regras, mas quando começou a partida, cabeças explodiram e jogamos três partidas seguidas.

  1. Quais foram os primeiros jogos desse seu triunfal retorno ao tabuleiro?

R: O primeiro, como já dito, foi o 7 Wonders, um draft de cartas fantástico. Depois veio o Zombicide, um jogo de matar zumbis, cheio de miniaturas, muito divertido, que faz um sucesso imenso até hoje. Por último, nessa primeira fase da volta, o The Godfather (O Poderoso Chefão), cuja a mecânica é alocação de trabalhadores, portanto um pouco mais estratégico, que serviu como transição para jogos mais pesados.

  1. Por ser uma atividade em grupo, como você encontrou uma turma que partilhava de interesses similares?

R: Existe um site que se chama Ludopedia, onde você consegue cadastrar jogos (sua coleção), partidas e outras várias funções, inclusive grupos. Nesta última, vi que dava para procurar por cidades. Achei 3 grupos em Conselheiro Lafaiete e entrei em contato. Um deles, por coincidência, era no meu bairro, e me respondeu que eles jogavam todo final de semana, aí deu pra começar a jogar bastante.

  1. Creio que deva ser um ambiente propício para desenvolver novas amizades. Como se deu isso para você?

R: Sim, apesar dos jogos de tabuleiro modernos serem um hobby muito de nicho, conseguimos reunir num grupo de WhatsApp quase 50 pessoas em minha cidade, Lafaiete. Todos muito amigos, receptivos e bastante dedicados. E essas amizades já foram para além do hobby.

  1. Quais as principais diferenças dos jogos de tabuleiro para os vídeos-games? O que leva os primeiros, às vezes, serem mais atraentes para a turma do tabuleiro?

R: Eu costumo dizer que os videogames são um entretenimento passivo, onde tudo é jogado para você na tela. Já os jogos de tabuleiro têm uma experiência ativa, social e, principalmente, tátil, que eu considero muito mais interessante e mentalmente estimulante. O pessoal dos tabuleiros prefere os videogames para experiências solo (jogando sozinhos). Quando há possibilidade de uma experiência mais social, vamos para o tabuleiro. Eu, facilmente abro mão do videogame, por uma partida de tabuleiro.

  1. Qual o papel das histórias, das narrativas, no mundo dos jogos de tabuleiro?

R: As narrativas são mais ligadas ao RPG, que nos jogos de tabuleiro são trazidas por jogos de um estilo chamado Ameritrash, que transpõem muito bem essa experiência.

  1. Quais são os principais tipos de jogos de tabuleiro e suas características?

R: São muitos, não dá para transcrever todos aqui, porque, para você ter uma ideia, existem livros inteiros classificando esses estilos. Mas, muito resumidamente, podemos colocar aqui party games, também chamados de jogos festivos ou de jogar com muitas pessoas, bons para trazer pessoas para o hobby; ameritrashes jogos mais temáticos, bonitos e com miniaturas, que, como eu já disse, são mais ligados à uma narrativa; card games, aqui se inserem todos os jogos de cartas; e os euro games jogos mais estratégicos e pouco dependente de sorte.

  1. Como a narrativa afeta cada um desses gêneros?

R: A narrativa afeta, na maioria das vezes, os ameritrashes. Esses jogos, geralmente, se desenvolvem em um mapa modular (tabuleiros que podem ser montados em várias combinações diferentes), onde as miniaturas vão andando e procurando itens, seja para melhorar o próprio personagem, seja para cumprir um objetivo de missão. Essa missão geralmente está ligada a um objetivo maior, estabelecido na campanha. Para fazer um paralelo, imagine um filme de aventura, como ”Senhor dos Anéis” ou um filme de suspense, como ”Alien, o 8º Passageiro”. Como é difícil resumir, uma dica é assistir vídeos no YouTube. Procurem por Mansions of Madness, Senhor dos Anéis: Jornadas na Terra Média e Nemesis. Em todas as buscas inclua as palavras “board game”.

  1. Qual o seu jogo de tabuleiro favorito?

R: Brass, um jogo econômico, bom para quebrar bastante a cabeça.

  1. Você poderia compartilhar uma memória de um momento engraçado, divertido ou interessante que transcorreu durante uma partida de algum jogo?

R: Momentos engraçados são difíceis de contar porque só tem graça para quem estava na hora, mas uma boa lembrança é a reunião de todo grupo em cinco mesas, na minha casa, para jogarmos o dia inteiro e ao final comermos pizza, feita no forno à lenha.

  1. Por fim, que conselho você daria para quem quer começar a jogar?

      R: Procure vídeos que indiquem jogos para começar a coleção. Defina o perfil de jogador com quem irá jogar. Por exemplo: pessoas com paciência para ouvir regras ou não; pessoas que já gostam de jogos de tabuleiro, etc. Comece por jogos mais leves, mas que, ao mesmo tempo, sejam interessantes, como os vencedores do prêmio Spiel des Jares. Procure por grupos de jogos na sua cidade, que sejam compatíveis com o tipo de jogo que você goste. Não trapaceie nas partidas, isso acabará com a sua experiência e com a dos outros e, naturalmente, os demais jogadores te excluirão do grupo sem você perceber.

 

sexta-feira, 24 de março de 2023

FAÇA A SUA HISTÓRIA – A ORDEM DAS PALAVRAS


Como contar uma boa história? Existem diversos formatos e mídias para se empregar em uma trama, mas não há como escapar do principal instrumento de toda narrativa: a palavra. Ela é o veículo principal de toda a comunicação, talvez se trate da maior invenção humana, pois através dela é possível transmitir conhecimento.

    No entanto, tal ferramenta não tem o reconhecimento que merece. Quase não nos lembramos dela. Usamos as palavras sem pensar muito em seu significado enquanto instrumento, sem ponderar a respeito de seu peso e, por que não, de seu poder. Ao dizer uma frase não apenas articulamos uma ideia ou um conceito, mas conseguimos exprimir nossas emoções e até mesmo persuadir o outro a agir da maneira como achamos mais conveniente.

Na narrativa, não é diferente. O contador de histórias, seja ele um escritor, roteirista, publicitário, ator etc., nada mais é do que um artesão cujo ofício nada mais é do que ordenar as palavras de uma forma que as mesmas não só façam sentido e transmitam a mensagem desejada, como também evoquem um sentimento, uma sensação em seu receptor.

Veja bem que é algo bastante subjetivo. Não se trata de uma emoção propriamente dita. Você pode ficar com raiva ou feliz com o que lê, mas tais sentimentos advêm do enredo propriamente dito, não da palavra. A sensação de uma construção frasal tem mais a ver com o sabor, com a textura que o leitor sente ao sorver o trabalho do artesão.

Tomemos como exemplo uma frase célebre da literatura:

 

“Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem. ”

 

    O trecho, acima reproduzido, é abertura de um dos capítulos do maravilhoso romance, de Jorge Amado, Capitães de Areia. O meu primeiro contato com a trama como se deu como uma leitura obrigatória para um vestibular que eu iria prestar, o qual, eu já nem sei mais... enfim, não foi preciso muito para fisgar a minha atenção. Já nesse ponto da obra, bem em seu início, eu já havia sido conquistado, porque Jorge Amado sabia o que estava fazendo. Não só tinha conhecimento de possuir uma grande história em suas mãos, como também soube contá-la, torna-la palatável para qualquer leitor!

terça-feira, 21 de março de 2023

BAR DOCE LAR

Durante o início dos anos 70, o jovem J.R. (Daniel Ranieri) volta com a Mãe (Lily Rabe) para a casa dos avós maternos, interpretados por Christopher Lloyd e Sondra James, devido a problemas financeiros. Lá também vive o tio Charlie (Ben Affleck), dono e bartender do bar The Dickens, cujo nome do estabelecimento é uma referência ao famoso romancista do século XIX Charles Dickens (1812-1870).

            O tio passa a ocupar o lugar de figura paterna na vida de J.R., ensinando-o lições e valores importantes com o propósito de torná-lo um adulto honesto e trabalhador, já que o pai biológico do garoto, um famoso radialista (Max Martini), não poderia se importar menos.

            Esta é a premissa de Bar Doce Bar (The Tender Bar, 2021, algo como O Bar Acolhedor ou Bar Afetuoso), dirigido por George Clooney, com base num roteiro de William Monahan que adapta o livro de memórias de mesmo nome de J.R. Moehringer.

            É um longa agradável, pois Clooney conseguiu obter boas atuações de seu elenco, principalmente de Ben Affleck, Lily Rabe e Christopher Lloyd. Tye Sheridan também entrega uma performance bastante convincente como um J.R. mais velho, no final da adolescência e início da idade adulta, principalmente durante a cena em que confronta o pai biológico de seu personagem.

            Não posso também deixar de me identificar com J.R, cuja maior ambição, vejam só, é se tornar um escritor. Não é uma tarefa fácil ou agradável o tempo todo. É necessária tremenda dedicação. A pessoa realmente tem de amar o que está fazendo.

            Se divago um pouco, é porque divido com o personagem a dúvida e insegurança quanto aquilo que se escreve, se é bom o suficiente, se tem a capacidade de tocar, de alguma forma, o leitor e assim fazer a diferença em sua vida.

 


 

Fontes:

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Dickens

https://www.imdb.com/title/tt3108894/

sábado, 18 de março de 2023

MAGNÓLIA

            Magnólia, filme de 1999, dirigido e escrito por Paul Thomas Anderson, é como uma grande teia de aranha, cujos fios unem os personagens e suas histórias.

            O enredo pode parecer, inicialmente, um tanto confuso, com tantos personagens díspares: Frank T. Mckay (Tom Cruise), o instrutor de um seminário que ensina homens a levarem as mulheres para a cama; o milionário moribundo Earl Partridge (Jason Robards, 1922-2000); sua esposa Linda (Julienne Moore, que entrega a melhor atuação do longa); o enfermeiro particular de Partridge, Phil Pharma (Philip Seymour Hoffman, 1967-2014), o apresentador do programa de perguntas e respostas ‘O que as Crianças Sabem?’, Jimmy Gator (Philip Baker Hall, 1931-2022); sua filha Claudia (Melora Waters), que por alguma razão está há anos brigada com o pai; o bondoso e atrapalhado policial Jim Kurring (John C. Reilly); e o antigo campeão do show apresentado por Gator, Donnie Smith (William H. Macy), agora um adulto fracassado, cujos pais ficaram com todos os recursos financeiros que ele ganhou no programa.

            Mas aos poucos as tramas vão se cruzando e o espectador passa entender melhor os elos que unem os personagens, sejam esses para o bem ou para o mal. Tudo é bastante complexo e as atuações do elenco são bastante convincentes, como no caso já mencionado de Julienne Moore ou a performance de canastrão de Tom Cruise, que deve ter vindo fácil para o astro, devido a autoconfiança que ele esbanja na vida real, além de ter conseguido imprimir uma grande nuance emocional num personagem tão cafajeste quanto Frank.

           O único problema é o filme é excessivamente longo e demora a engrenar a sua trama.


Nota: é preciso habilitar as legendas do trailer! 

Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt0175880/

https://www.imdb.com/title/tt0175880/fullcredits?ref_=tt_cl_sm

https://www.imdb.com/name/nm0001311/?ref_=ttfc_fc_cl_t20

https://www.imdb.com/name/nm0000450/?ref_=ttfc_fc_cl_t33

https://www.imdb.com/name/nm0001673/?ref_=ttfc_fc_cl_t34

 

 

terça-feira, 14 de março de 2023

FAÇA A SUA HISTÓRIA -O MITO E O CLICHÊ- O CASO DO SUPERMAN

        Ei, gente! Esse é o segundo artigo da série 'Faça a sua História'! Espero que gostem!

FAÇA  A SUA HISTÓRIA

-O MITO E O CLICHÊ-

O CASO DO SUPERMAN

         

Existe uma linha tênue entre o mito e o clichê. Enquanto o primeiro é uma história, ou melhor, um mote que já se tornou clássico e, por conta disso, é por todos lembrado, o segundo nada mais é que um mito diversas vezes repetido, a ponto de ter se desgastado.

Pegue-se o Superman por exemplo. O personagem é muito rico e carrega, em sua essência, ambos conceitos. A sua origem, como o último filho do planeta Kripton pode até parecer original, mas não é. Trata-se de uma releitura de uma história bíblica. Não acredita? Moisés, o libertador das tribos de Israel do Egito, foi abandonado, ainda bebê, por sua mãe, num cesto em um rio, tendo sido posteriormente encontrado pela filha do faraó. Familiar? Substitua um cesto por uma nave espacial, o rio pelo universo, e têm-se a origem do Superman.


Mas isso não a torna menos válida. As circunstâncias se assemelham, mas também muito diferem. A construção de um personagem, de uma história como um todo, nada mais é que uma colcha de retalhos. Ainda no caso do Super, pode-se identificar mais um aspecto de cunho religioso: os poderes do kriptoniano advém do Sol, assim como os do deus Apolo da mitologia grega. Novamente, percebe-se uma roupagem semelhante, mas os conceitos divergem drasticamente a partir do ponto em que se dá uma explicação científica para os poderes do Homem do Amanhã: suas células kriptonianas funcionam como uma bateria solar, que absorvem a radiação de nosso astro amarelo concedendo incríveis habilidades ao Sr. Kent, que de outra forma não as teria, pois o sol de seu planeta natal era vermelho.

Por falar em Clark Kent, outra vez depara-se com um conceito reaproveitado: a da persona pública atrapalhada e introvertida, em contraste com a sua audaciosa identidade heroica. Pouco menos de duas décadas antes, em 1919 (o lançamento do Superman foi em 1938), o personagem Zorro já exibia tal dualidade entre a sua versão encapuzada e sua pacata identidade civil como Don Diego de la Veja. Antes dele, o Pimpinela Escarlate, personagem criado pela Baronesa Orczy, já possuía a mesma característica, assim como incontáveis outros heróis.

Isso os torna menos interessantes ou originais? Obviamente que não. Como um último exemplo, pegue-se Lois Lane, o par romântico do Superman. Ela é o clichê de todo interesse amoroso da época e de muito antes disso: a donzela em perigo. Mas o seu papel nas histórias não se limita a isso: também possuía uma profissão: a de repórter, diferenciando-as das socialites que povoavam a época. Era o seu trabalho que a punha em perigo. Essa quebra de paradigma foi importante para que personagens protagonistas femininas surgissem, como a Mulher-Maravilha, em 1941.

Aproveite e leia também os demais artigos da série:

FAÇA A SUA HISTÓRIA – O CASO SEINFELD

FAÇA A SUA HISTÓRIA – A ORDEM DAS PALAVRAS


sexta-feira, 10 de março de 2023

LA BAMBA

         O meu primeiro contato com o filme ‘La Bamba’, escrito e dirigido por Luís Valdez, foi através da Sessão da Tarde, em meados dos anos 2000, quando ainda era um adolescente, mas por alguma razão não terminei de assisti-lo, talvez por tido outra coisa mais importante para fazer, o que foi uma pena, pois trata-se de uma película bastante divertida.

           Agora, mais de uma década depois,  pude finalmente assisti-lo por completo. É uma trama animada que conta a rápida ascensão a fama de Ritchie Valens (Lou Diamond Phillips). Para quem não sabe, Valens foi uma figura real, um dos pioneiros do rock, durante o final dos anos 50, junto a figuras como Buddy Holly e Eddie Cochran.

       Ritchie alcançou a fama muito cedo, mal tendo completado os seus dezessete anos de idade. Por conta disso, podemos presenciar a sua juventude, o apoio incondicional que recebeu de sua mãe, Connie (Rosanna DeSoto), em relação a sua carreira, o seu conturbado relacionamento com o seu irmão mais velho Bob (Esai Morales, de longe a melhor e mais profunda performance de todo filme) e o seu primeiro amor, Donna (Danielle von Zerneck), para quem o cantor chega a compor uma canção de mesmo nome.

            Em suma, ‘La Bamba’ é um filme sobre amadurecimento, do quão árduo é se tornar um adulto, ainda mais nas circunstâncias em que Valens teve de fazê-lo, mas o fez com muito bom humor e belas músicas, honrando as origens mexicanas de sua família, adaptando a canção popular latina, que dá nome ao filme, ao clássico do rock que hoje conhecemos.

 





Nota: não achei o trailer dublado, mas é só ativar as legendas em português nas configurações do vídeo.

Fontes:

 

https://www.imdb.com/title/tt0093378/

 

segunda-feira, 6 de março de 2023

FAÇA A SUA HISTÓRIA - O CASO SEINFELD - ARTIGO PILOTO

 Olá, gente! Esse é um novo projeto que estou pensando em desenvolver aqui, no The End:  uma série de artigos sobre como é criar/contar uma história. Dependo da aceitação, eu continuo! Então, se vocês gostarem deixem um comentário na postagem!

O CASO SEINFELD

O que faz uma boa história? Aliás, o que é uma história? Estamos rodeados por elas, vivemo-las diariamente, sem lhes dar muita atenção. Ainda assim, todos temos uma. É algo tão importante, na existência humana, que nos dedicamos a criar outras por pura diversão.

Entretanto, se você perguntar para diversas pessoas o que faz uma história ser boa, elas não vão saber responder com clareza. É óbvio que vão ter uma noção intuitiva, mas terão dificuldades de articular o conceito em palavras.

    Têm que ter princípio, meio e fim? De preferência, sim. No entanto, a técnica narrativa evoluiu tanto que temos tramas com finais abertos ou que se encerram justamente da forma que começaram. Um exemplo desse último tipo de enredo é a sitcom Seinfeld, que termina com os seus personagens tendo uma conversa idêntica a que tiveram no episódio piloto. Um dos personagens, George Constanza creio eu, até mesmo denota o fato.

A questão é que Seinfeld foi projetado como um seriado no qual os personagens não evoluiriam e não aprenderiam com seus erros, permanecendo os mesmos durante toda a duração do programa. Agora, muitos devem estar se perguntando qual a graça de assistir a um show assim, com nenhuma história (outra marca da sitcom, descrita por seus criadores, Jerry Seinfeld e Larry David, como sendo sobre o nada). 

Em primeiro lugar, trata-se de uma comédia, formato cujo principal objetivo é justamente despertar o riso. Em segundo lugar, mesmo que não seja possível ter uma identificação profunda com os personagens, algo que atrai espectadores como moscas ao mel para uma trama, somos inconscientemente atraídos por suas personalidades. Afinal, quem nunca sentiu vontade de dizer ou fazer o que quiser, sem se importar com as consequências?

É por isso que histórias como Seinfeld funcionam tão bem. São como válvulas de escape que podem ser utilizadas como forma de relaxar, por exemplo, após um dia exaustivo de trabalho.

Leia os demais artigos da série!

FAÇA A SUA HISTÓRIA - O MITO E O CLICHÊ

FAÇA A SUA HISTÓRIA - A ORDEM DAS PALAVRAS


quinta-feira, 2 de março de 2023

SEBERG CONTRA TODOS

       Existe uma tênue linha entre o certo e o errado e este filme, ‘Seberg Contra Todos’ (Seberg, 2019), dirigido por Benedict Andrews e roteirizado por Joe Shrapnel e Anna Waterhouse, com base na vida da atriz Jean Seberg (1938-1979), interpretada por Kristen Stewart, é sobre isso, como também sobre ideologias e o que acontece quando diferentes crenças entram em conflito.

          De um lado, temos Jean, alguém que quer fazer algo mais no mundo do que meramente atuar. Ela se importa, quer fazer do planeta um lugar melhor, encontrando a sua causa junto ao movimento negro e a luta pelos direitos civis, no final dos anos 60, em Los Angeles, apesar de ser uma mulher branca. 

            Do outro, temos o FBI, ainda na era Hoover (J. Edgar Hoover foi o primeiro diretor da agência durante o período de 1935 a 1972), aqui representado pelos agentes Jack Solomon (Jack O'Connell) e Carl Kowalski (Vince Vaughn), responsáveis pela campanha de difamação da atriz, expondo, por exemplo, o caso dela, que ainda estava casada com Romain Gary (Yvan Attal) na época, com o militante negro Hakim Jamal (Anthony Mackie).

            É um filme profundo, ainda mais pelas excelentes atuações de Kristen Stewart, que se reinventou durante a última década em Hollywood, e Vince Vaughn, que demonstrou toda a sua versatilidade de transitar entre gêneros tão díspares como o drama, caso deste filme, e a comédia, gênero no qual está mais acostumado a trabalhar.

            Mas o mais interessante de tudo é o contraste que se tem com a atualidade, na qual prevalece o tal “lugar de fala”, coisa que não deveria existir, pois qualquer cidadão, independentemente de seu gênero, etnia e sexualidade, tem o dever moral, se não de fazer, pelo menos de dizer algo quando se depara com alguma situação errada.  


Fontes: 

https://www.imdb.com/title/tt1780967/

https://pt.wikipedia.org/wiki/J._Edgar_Hoover




ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

  Luciano Carrierri  é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei ...