É muito difícil inovar quando se trata de
filmes de terror e suspense, mas, de uma forma para lá de estranha, ‘Boa Noite,
Mamãe’ (Goodnight, Mommy; 2022), remake de um filme austríaco de horror de
2014, consegue.
Dirigido por Matt Sobel,
com base no roteiro de Kyle Warren, a trama gira em torno dos gêmeos Elias (Cameron
Crovetti) e Lukas (Nicholas Crovetti) que são deixados pelo pai (Peter Hermann)
na casa de campo da mãe (Naomi Watts), após terem passado um tempo afastados de
sua progenitora.
No entanto, ela está
diferente, pois, além de usar uma máscara cirúrgica que envolve todo o
seu rosto, devido a um procedimento estético que realizou, também está mais
arredia e bruta com os garotos, levando-os a conclusão “lógica” que de que se
trata de uma impostora.
Aqui, o enredo poderia
optar por uma das duas soluções: a mãe é realmente uma impostora ou tudo não
passa de fruto da imaginação dos garotos. De certa forma, tal escolha acaba
acontecendo e o espectador consegue prever exatamente o final antes de
assisti-lo, pelo menos foi o que aconteceu comigo.
O irônico é que, apesar
de todas as pistas espalhadas pela película, de modo a fazer o espectador
adivinhar o seu desfecho, a trama é tão bem conduzida que se fica preso a ela,
à espera de como vai se dar a grande revelação. E é essa a inovação que
mencionei no princípio do texto: não uma grande reviravolta que vai deixar
todos que assistirem em choque, mas como os personagens
vão reagir a ela.
E tudo só funciona
pelas tremendas atuações de Naomi Watts e dos gêmeos Crovetti.
Eu acreditava que já tinha visto de tudo a
respeito de comédias adolescentes. Bem, eu estava enganado e não tenho vergonha
de admitir. Vocês querem saber o porquê?
O que aconteceria se alguém misturasse os filmes ‘As Patricinhas de
Beverly Hills’ (Clueless, algo como Sem Noção em português, 1995), Meninas
Malvadas (Mean Girls, 2004) e... sem brincadeira, Pacto Sinistro (Strangers on
a Train, Estranhos num Trem,1951), de Alfred Hitchcock (1899-1980)? Por
incrível que pareça, o resultado é este filme, Justiceiras (Do Revenge, algo
como Vingue-se ou Faça Vingança, 2022), dirigido por Jennifer Kaytin Robinson,
que também assina o roteiro junto de Celeste Ballard, e estrelado por Camila
Mendes (a Veronica de Riverdale) e Maya Hawke (a Robyn de Stanger Things e a
filha dos atores Uma Thurman e Ethan Hawke).
O
enredo, aparentemente simples, é mais complexo do que parece, pegando
emprestado elementos de cada um dos filmes, citados anteriormente, para contar
uma trama de vingança adolescente. De Meninas Malvadas, temos o conceito de
revanche contra a turma popular, que para tanto aplica a repaginada no visual
aplicada por Cher (Alicia Silverstone) em Tai (Brittany Murphy, 1977-2009) em ‘As
Patricinhas de Beverly Hills’, que transforma um patinho feio num cisne. Para
terminar, o toque de brilhantismo: o acordo de Drea (Camila Mendes) e Eleonor
(Maya Hawke) de uma realizar a vingança da outra, tal qual em Pacto Sinistro.
Tudo
começa quando Max (Austin Abrams), o namorado de Drea, vaza um vídeo íntimo da
garota, levando-a ser excluída da galera popular. Daí, durante as férias de
verão, Drea conhece Eleonor, num acampamento de tênis, e descobre que a última
vai começar a estudar na mesma escola que ela, Rosehill. E coincidentemente,
Eleonor também têm motivos para se vingar de uma estudante do lugar, chamada
Carissa (Ava Capri), que a rejeitou e humilhou por ser lésbica, além de ter
espalhado o boato que Eleonor tentou beijá-la a força, transformando-a numa pária
social.
Está
armado o palco para todo o drama adolescente. Enquanto tramam as suas
vinganças, Drea e Eleonor se aproximam, formando uma inusitada amizade. Tudo
parece muito óbvio até aqui, mas aí que as coisas se complicam e uma
surpreendente reviravolta muda tudo. Qual? Eu não vou dizer, vocês terão de
assistir ao filme para descobrir.
Não se enganem, este filme, de 1955, é sobre
amor, ou melhor, sobre a busca do mesmo, ainda que em condições não
convencionais. A trama, baseada no romance ‘A Leste do Éden’ (East of Eden,
também título original da película em inglês), de 1952, de John Steinbeck
(1902-1968, laureado com o Prêmio Nobel de Literatura) e comandada por Elia
Kazan (1909-2003, grande diretor e também avô da atriz Zoe Kazan), é sobre os
irmãos gêmeos Caleb (James Dean, 1931-1955) e Aron (Richard Davalos, 1930-2016)
e o relacionamento dos mesmos com o seu pai, o correto e honesto Adam Trask (Raymond
Massey, 1896-1983).
Enquanto
Caleb busca desesperadamente obter o amor e a aprovação paterna, por ser
considerado a ovelha negra de sua família, Aron não precisa nem se esforçar: é
o bom moço, o que tira boas notas e tem a bela e cândida namorada Abra (Julie
Harris,1925-2013).
Mas
tudo começa a mudar, naquele ano de 1917, na Califórnia, quando Caleb, por
acaso, ouve, num bar, que sua mãe não está morta como ele e o irmão foram
levados a acreditar. De fato, ela está muito viva e não muito distante de
Salinas, cidade na qual vive a família Trask.
Então
Caleb, por todos considerado um rebelde, que só faz coisas erradas, vai até
Monterrey em busca da mãe e da verdade por trás de seu abandono. Lá, ele
depara-se com Kate (Jo Van Fleet, 1915-1996), uma famosa cafetina, para o seu
espanto. No entanto, ainda assim consegue identificar-se com ela, por possuírem
traços de personalidade semelhantes.
É
a partir daqui que o enredo se desenvolve, com Caleb tentando ser o filho que o
pai tanto quer, ajudando-o como pode no seu plano de levar alface congelado,
via trem, da Califórnia a Nova Iorque, e comprometendo-se a recuperar o
dinheiro perdido,pelo
pai, na empreitada, quando essa falha, ao mesmo tempo em que desenvolve um
relacionamento muito próximo e sentimentos por Abra, não sabendo como lidar com
isso já que essa é a namorada do seu irmão.
É
um tremendo filme, apesar de omitir diversos elementos do livro que o inspirou
que, no caso, eu já li. O interessante é que os mesmos não fazem falta,
tornando a história mais coesa e dando espaço para o aprofundamento dos
personagens, como pode ser visto nas tremendas interpretações de James Dean e
Julie Harris.
Nota: infelizmente, só encontrei o trailer e inglês, mas é possível ativar as legendas em português. Para tanto, ative as legendas e depois clique sobre o ícone da engrenagem (configurações), depois clique em legendas, traduzir e selecione o idioma.
Nota 2: disponível no HBO Max ou no Amazon Prime, neste último para compra.
Apesar
de baseado num clichê recorrente da literatura norte-americana, o do homem que
dorme por vários anos para acordar no futuro, cujos exemplos vão desde o conto
‘Rip Van Winkle’, do autor Washington Irving (1783-1859) às mais recentes
aventuras de Buck Rogers, herói dos livros pulps e das tiras em quadrinhos,criado por Philip
Francis Nowlan (1888-1940) no princípio do século XX, o filme Eternamente Jovem
(Forever Young,1992), dirigido por Steve Miner, com base num roteiro de J.J.
Abrams, e estrelado por Mel Gibson, é uma aventura cativante sobre amor e
perda, do que o ser humano é capaz para lidar com as suas emoções em relação a
ausência daqueles que se vão.
A
trama gira em torno do piloto de testes Daniel McCormick (Mel Gibson) que,
inconsolável com o acidente que deixou a sua namorada Helen (Isabel Glasser) em
um coma aparentemente irreversível, aceita participar de um experimento de
criogenia do seu amigo cientista Harry Finley (George Wendt) que o deixaria em
suspensão criogênica durante um ano.
Mas
algo dá errado e quando o piloto é acordado por Nat Cooper (Elijah Wood) e seu
amigo Félix (Robert Hy Gorman), mais de cinquenta anos se passaram. A partir
daí, Daniel tem que descobrir não só o que deu errado com o experimento, mas
também redescobrir o mundo, que não é mais o mesmo daquele que era em 1939, ano
em que se deu a experiência.
Assim,
ele parte em busca de respostas sobre o que aconteceu com as pessoas com quem
conviveu no passado, auxiliado por Nat, que acaba encontrando no piloto a
figura paterna que tanto faltava em sua vida.
É
um bom filme, cuja mensagem é de amor e esperança, mas, principalmente, de que
nunca se deve deixar para depois algo que se pode fazer agora, pois instantes
antes do acidente que deixou Helen em coma, McCormick pretendia pedi-la em
casamento, porém hesitou e tudo se perdeu.
Nota: o trailer que consegui legendado estava com a qualidade da imagem muito ruim, então também postei uma versão sem legendas.
Estou aqui com Anita Galvão, uma das
fundadoras do grupo CineClássico do Facebook, e vamos conversar uma pouco sobre
a sua paixão pelo cinema.
1.Oi,
Anita. Como vai?
R: Oi.
Estou bem e você?
2.Também.
Muito obrigado por perguntar. Para começar, por que não começa falando um pouco
sobre você?
R: Sou
advogada aposentada, viúva e com dois filhos adultos.
3.Qual
foi o seu primeiro contato com o cinema? Você se lembra?
R: Meu
primeiro contato foi assistindo Branca de Neve e os Sete Anões, no cinema, e
depois Bambi. Era muito pequena. Devia ter uns 3 ou 4 anos.
4.E o
interesse pela sétima arte quando, de fato, começou?
R: Na
época, os filmes demoravam de 3 a 4 anos para chegarem por aqui e passar no cinema.
Não existia vídeo, então, na TV passavam filmes clássicos maravilhosos que eu assistia
com o meu pai.
5.Como
surgiu o grupo CineClássico?
R: Sou
membro de vários grupos de cinema, no entanto, o foco deles era cinema atual e
os clássicos eram relegados ao segundo plano. Então, o Zeca, meu amigo, falou que
gostaria de montar um grupo sobre cinema clássico comigo. Assim, em junho de
2021, surgiu o CineClássico, porque eu só assisto a filmes velhos (risos).
6.E como
você se envolveu com ele?
R: Na
montagem do grupo convidei a Nouah, a Fran e a Madalena para serem moderadoras,
o que foi fundamental para a formação do grupo. Sem elas não seria o grupo que
é.
7.Qual a
área de atuação do grupo? E em quais mídias e redes sociais?
R: Só
permitimos posts sobre produções cinematográficas de 1910 até 1969. Estamos no
Facebook, Instagram e Titok com conteúdos diferentes em cada rede social.
8.É
verdade que até mesmo algumas celebridades internacionais fazem parte do grupo?
R: No
Facebook temos alguns artistas brasileiros e a Sharon Stone nos segue no
Instagram.
Para
terminar algumas perguntas sobre as suas preferências cinematográficas:
9.Qual o
seu filme favorito da era clássica do cinema? E por quê?
R: Tenho
vários filmes favoritos, mas amo todos do Billy Wilder. Em especial, Crepúsculo
dos Deuses e Quanto Mais Quente Melhor.
10.Existe
alguma cena que te marcou muito? Por que?
R: vi
no cinema E o Vento Levou com meus pais, a cena das pessoas mortas e feridas na
Guerra de Secessão me marcou muito. Tinha lido o livro que foi bem fiel.
A nova versão do filme Pinóquio, de 2022,
comandada por Robert Zemeckis, é alegre divertida, cheia de cor e vida.
Assim
como o desenho de 1940, a história aqui é praticamente a mesma, com apenas
alguns acréscimos de personagens, como Sofia (Lorraine Bracco), a gaivota,
Fabiana (Kyanne Lamaya), a marionetista deficiente, e Sabina (Jaquita Ta'le),
sua boneca bailarina.
Mas
não se preocupe que todos os personagens antigos ainda estão lá: um carismático
Gepetto, interpretado de maneira sensacional por Tom Hanks, a Fada Azul (Cynthia
Erivo), o Grilo Falante (Joseph Gordon-Levitt), João Honesto (Keegan-Michael
Key), o gato Fígaro e, é claro, Pinóquio (Benjamin Evan Ainsworth), ainda que a
computação gráfica desse último deixe um pouco a desejar, não sendo tão
realista quanto as dos demais personagens (realista para um boneco, digo).
E
por falar em Gepetto, a sua backstory é expandida nessa segunda versão. Aqui
ele é um viúvo que também perdeu o seu único filho, o que explica tanto a sua
solidão quanto a motivação de seu pedido a estrela cadente, posteriormente
atendido pela Fada Azul.
Os
cenários e os efeitos visuais são fantásticos e as músicas contagiantes, mas no
fim das contas o que vende o filme é a nostalgia, pelo menos para os adultos,
que veem as suas infâncias ganharem vida de uma forma totalmente nova.
Carlo
Collodi (1826-1890), o autor do conto de fadas que inspirou ambas as versões
disneynianas, não poderia estar mais orgulhoso de suas criações, se aqui
estivesse para ver a grandiosidade que alcançaram, apesar de algumas mudanças
no enredo devido ao que, agora, é politicamente correto.
Quem é Scarlett O’Hara (Vivien Leigh,
1913-1967)? Essa é a pergunta que o filme ‘E o Vento Levou...’, de 1939,
dirigido por Victor Fleming (1889-1949), com base no único romance escrito pela
jornalista Margaret Mitchell (1900-1949), durante um período de convalescência,
tenta responder.
Não
que seja um mistério. O roteiro,
adaptado por Sidney Howard (1891-1939), logo nos mostra a garota fútil, mimada
e arrogante que Scarlett é, o tipo de personagem que todo mundo adora odiar. A
grande questão é quem ela vai se tornar.
Logo
no início do filme, a adolescente tem as suas ilusões românticas acerca do
vizinho Ashley Wilkes (Leslie Howard, 1893-1943) destroçadas, ao saber do
noivado do mesmo com sua prima Melanie Hamilton (Olivia de Havilland,
1916-2020).
Ainda muito ingênua e
acreditando que tudo não passa de um engano, que o mundo continua aos seus pés,
Scarlett resolve tomar uma atitude, um primeiro indício de que ela não é como
as outras damas de sua geração, possuindo alguma garra e fibra para lutar pelo
que quer (ou pelo menos imagina querer).
Então, durante o
churrasco de comemoração do noivado em Twelve Oaks (Doze Carvalhos), a fazenda
dos Wilkes, Scarlett espera todas as damas terem se retirado para descansar e
encurrala Ashley na biblioteca da casa principal, declarando a ele o seu amor,
deixando todo o seu orgulho de lado, e dizendo que ele deve se casar com ela.
O Sr. Wilkes, apesar de
tentado, a recusa, muito devido a sua honra e palavra de um cavalheiro do Sul,
abandonando uma furiosa Scarlett na biblioteca, que não perde tempo ao arremessar
um vaso contra uma parede, demonstrando toda a sua frustração.
Aí que percebemos que a
dupla não estava sozinha durante a confissão da moça, pois Rhett Butler (Clark
Gable, 1901-1960) faz notar a sua presença, levantando-se do sofá no qual
estava deitado no cômodo.
Ele alfineta Scarlett
por conta de seu comportamento tolo, que poderia pôr a reputação dela a perder.
E assim começa um relacionamento de gato e rato, pois ao mesmo tempo que Rhett
ama e deseja a moça, ajudando-a como pode, também não pode deixar de
espezinhá-la, de modo a atiçá-la, não só a confessar os seus sentimentos por
ele, mas também a expandir os seus horizontes e perceber que o mundo não gira
em torno de seu próprio umbigo. Não que Scarlett deixe barato, tendo sempre
pronta uma resposta na ponta da língua ou uma provocação para Rhett.
Mas nem tudo são flores
na concretização de tal romance. Vários osbstáculos se entrepõem a felicidade
de ambos, como a eclosão da Guerra Civil Americana, o incêndio de Atlanta e
muitas outras situações, que não vou relatar para não estragar a surpresa de
quem for assistir ao filme.
Só adianto isso: o
filme é tão bom que levou para casa as estatuetas de Melhor Filme, Melhor
Diretor (para Fleming), Melhor Atriz (para Vivien Leigh), Melhor Atriz Coadjuvante
para Hattie McDaniel (1893-1952) por sua interpretação da escrava Mammy, a
mucama de Sacarlett, sendo a primeira pessoa negra a alcançar tal feito, Melhor
Roteiro (para Sidney Howard, ainda que postumamente), Melhor Fotografia e
Direção de Arte, como não poderia deixar de ser com os seus cenários
deslumbrantes, bastante detalhados e coloridos, o que creio ter sido uma grande
novidade para época.
Nota: filme disponível no HBO Max para assinantes ou no Youtube para compra