É
uma das primeiras obras a abordar, de certa forma, o conceito de dupla
personalidade, além de ter inspirado inúmeros outros personagens, como o
Incrível Hulk, e trabalhos literários, como o que serviu de premissa para este
filme, no caso o romance Mary Reilly, de Valerie Martin, no qual a história do
pobre Dr. Jekyll é retratada através dos olhos de sua criada que dá título à
obra. Pode causar certa estranheza ao leitor, mas várias obras famosas já foram
recontadas em outros romances que não de seus autores originais, podendo-se
citar exemplos como clássicos tais quais Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
(1775-1817), e diversos pastichos sobre casos de Sherlock Holmes, que não foram
concebidos pelo seu criador Arthur Conan Doyle (1859-1930).
Enfim,
a película, dirigida por Stephen Frears, não contem uma ideia totalmente
original, mas é boa devido a sua execução, principalmente pelas atuações de
Julia Roberts, como Mary Reilly, e John Malkovich, exercendo aqui a dupla
função de interpretar tanto Jekyll quanto Hyde. Aliás, é o triângulo amoroso
formado por Mary e as duas personalidades de seu patrão que gera tensão na
trama, fazendo-a funcionar.
Por
um lado, temos o gentil doutor que desperta o carinho de Mary por se preocupar
com ela, inquerindo sobre as cicatrizes que a moça, literalmente, carrega de
seu passado, devido a convivência com o seu pai abusivo, o Sr. Reilly (Michael
Gambon e, antes que alguém se pergunte porque o ator lhe parece tão familiar,
sim, trata-se do segundo intérprete do Professor Dumbledore na saga Harry
Potter), algo com que ninguém pareceu se importar, fazendo com que ela se sinta
tratada como um ser humano pela primeira vez e não apenas como alguém que
existe apenas para servir. Por outro, temos o horrendo Sr. Hyde, capaz das maiores
atrocidades, mas que ainda assim desperta a libido de Mary, seus desejos
sexuais mais profundos, algo que, na época em que a trama se passa, o final do
século XIX, não era normal exteriorizar, ainda mais tratando-se de uma mulher.
Outro
ponto forte da trama é a breve, porém marcante interpretação de Glenn Close
como a caricata Sra. Farraday, uma cafetina a qual tanto o Doutor Jekyll quanto
o Sr. Hyde recorrem a seus serviços.
Por
fim, o design de produção é muito agradável aos olhos e vai parecer bastante
familiar para muitas pessoas, pois se trata do trabalho de Stuart Craig, o
responsável pelo design de produção de todos os filmes da franquia Potter. Que
coincidência, não?
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Louis_Stevenson
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mary_Reilly
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jane_Austen
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Conan_Doyle
https://www.imdb.com/title/tt0117002/fullcredits/?ref_=tt_cl_sm
https://www.imdb.com/name/nm0186023/?ref_=ttfc_fc_cr12