Head

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

KING RICHARD

             Todo mundo conhece o final desta história. É sério. Afinal, quem nunca ouviu falar das irmãs Vênus e Serena Williams, duas das maiores tenistas de todos os tempos?

            Mas o foco da trama aqui é outro: Richard Williams (Will Smith), o pai da dupla, que desde cedo planejou cada passo da carreira das filhas para que ambas alcançassem o máximo sucesso.

        O filme de 2021, dirigido por Reinaldo Marcus Green, cuja fotografia remete a filmagem de vídeos em fitas VHS, é bom, assim como o seu elenco e suas respectivas atuações, tanto que Will Smith conquistou o Oscar de Melhor Ator por sua interpretação no mesmo, apesar do seu envolvimento na polêmica do tapa em Chris Rock, durante a premiação da Academia, em Março de 2022, situação que dividiu opiniões... (mas essa é outra história).

          Um dos grandes problemas aqui é outro: até que ponto o enredo, apresentado no longa, é fiel à realidade? O que é ficção ou dramatização, por assim, dizer? Como exemplo, pegue a cena em que Richard quase mata um membro de gangue que estava assediando uma de suas filhas mais velhas, Tunde (Mikayla Lashae Bartholomew). Ele só não o faz porque o sujeito é morto a tiros primeiro, bem na sua frente, num clichê recorrente no cinema, no qual um homem bom, devido a circunstâncias adversas, quase cai na tentação de fazer algo ruim.

         Outro fator incômodo é o quanto Richard mapeou e determinou a carreira das filhas. De acordo com o filme, ele chegou a escrever um plano para cada uma, antes mesmo delas nascerem, de forma a moldá-las em campeãs.

         Obviamente, elas obtiveram sucesso, mas fica a dúvida: foi por escolha, pelo amor ao esporte ou por não conhecerem outra realidade que não a das quadras? Não me entendam mal, elas poderiam até gostar de jogar tênis, mas também ter outras ambições ou aspirações que não a carreira de tenistas profissionais.

           O controle de Richard é tão extremo que ele decide que Vênus vai deixar de jogar em torneios juvenis até que se torne profissional, para que ela possa ser criança, aproveitar a sua infância, atitude louvável, mas àquela altura difícil de manter, pois o patriarca não contava que o seu plano estivesse dando tão certo e fosse ficar cada vez mais difícil manter o gênio dentro da lâmpada, por assim dizer, tamanha é a garra de campeã de Vênus.

           Situação essa que leva a mais intensa e brilhante cena de toda película, o confronto de Richard com sua esposa Oracene (Aunjanue Ellis), na cozinha da casa do casal na Flórida, na qual a matriarca praticamente tem de forçar o marido a ver os efeitos colaterais de sua teimosia nas próprias filhas.

            É aí que começa o arco de redenção do personagem, se é que se pode chamar tal estrutura assim, por se tratar de uma pessoa real. Enfim, o patriarca começa a mudar, afrouxando um pouco a rédea curta na qual mantinha as filhas, passando a dar mais espaço para que tomem suas próprias decisões e apoiando as mesmas, entendendo que boa parte do seu trabalho está feito. Ele já encaminhou Vênus e Serena em suas jornadas, cabendo a elas darem os próximos passos até os seus grandiosos destinos.


 

No mais, desejo um Feliz Ano Novo a todos!


Fontes:

https://www.imdb.com/title/tt9620288/

 

 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

DESCASCANDO A CEBOLA DE VIDRO

              Para quem ama romances policiais como eu, Glass Onion: a Knives Out Mystery (Cebola de Vidro: Um Mistério Entre Facas e Segredos, 2022), escrito e dirigido por Rian Johnson, é um prato cheio de diversão. Todos os clichês do gênero estão lá e, incrivelmente, isso não é uma coisa ruim, já que Johnson consegue subverter as expectativas dos seus espectadores.

            A trama, cujo título é uma referência a uma canção dos Beatles, assim como o de seu antecessor (Knives Out, algo como ‘Com as Facas de Fora’) é uma canção do Radiohead, tem como base a viagem de um grupo de amigos até uma ilha particular para passar um fim de semana junto de seu anfitrião, Miles Bron (Edward Norton), um milionário da tecnologia ao melhor estilo Elon Musk, que preparou uma festa temática de ‘mistério de assassinato’, cujos convidados terão como principal fonte de entretenimento descobrir quem ‘matou’ o guru da tecnologia.

          Curiosamente, entre os convidados para o evento está o grande detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), o que faz a festa tomar um rumo inesperado, quando a brincadeira deixa de ser um jogo e torna-se real.

            Apesar de ter conseguido descobrir o culpado, adorei o filme. Tem um ar semelhante ao livro ‘E não Sobrou Nenhum...’ (anteriormente titulado ‘O Caso dos Dez Negrinhos’, mas alterado para evitar conotações racistas) de Agatha Christie, cuja premissa é basicamente a mesma: um grupo de convidados chega a uma ilha deserta na qual crimes começam a acontecer, sendo que, na obra da Rainha do Crime, os convidados vão morrendo um a um, o que não ocorre no enredo de Johnson.

            No entanto, a trama do longa é uma grande homenagem aos romances de Christie. Aliás, a franquia toda é. A começar com o seu personagem principal, Benoit Blanc, uma versão do século XXI de Hercule Poirot, famoso detetive belga protagonista de 33 romances da Dama do Crime, que como Blanc, também é cheio de excentricidades. A performance de Craig é sublime, dando vida a um personagem extremamente divertido que não só sabe que é a pessoa mais inteligente em um recinto como também não tem o menor pudor de dizê-lo (outra semelhança com Poirot).

            Dave Bautista também entrega uma atuação interessante e para lá de engraçada com o seu Duke Cody, um youtuber/influencer e ativista dos direitos masculinos (não teria como não ser hilário, né?). Kate Hudson não fica atrás com a sua interpretação de Birdie Jay, ex-supermodelo que é o epíteto da loira burra. Sim, são todos personagens clichês, mas que funcionam quando costurados juntos, talvez porque ninguém tenha tido a ideia (brilhante por sinal) de unir os novos estereótipos do século XXI, surgidos da sua revolução tecnológica, num filme de mistério e assassinato. 

 


 

Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Glass_Onion:_A_Knives_Out_Mystery

https://en.wikipedia.org/wiki/Agatha_Christie

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

ESPECIAL DE NATAL!

 

           Você já teve a sensação de ter assistido anteriormente a um filme quando na verdade, não viu? E não estou falando de remakes. Calma, não se preocupe que não estou ficando louco.

             Aliás, é algo bastante comum na sétima arte, por isso resolvi escrever este artigo. Nele, trato de dois longas, cujas premissas são essencialmente idênticas, a ponto de beirar o plágio.

            O primeiro deles é ‘Um Salto para a Felicidade’ (Overboard,1987, algo como Fora do Barco ou No Mar), dirigido por Gary Marshall e estrelado por Kurt Russell e sua esposa Goldie Hawn. O outro é ‘Uma Quedinha de Natal’ (Falling for Christmas, 2022, Caindo no Natal, numa tradução livre, lembrando que o verbo to fall também significa se apaixonar, além de cair, no sentido de fall in love, literalmente cair de amores), comandado pela diretora Janeen Damian e estrelado por Lindsay Lohan e Chord Overstreet.

Em ambos, o enredo gira em torno do seguinte: uma mulher rica se acidenta e perde a memória, indo morar com um viúvo que, no primeiro caso, tem uma penca de filhos e, no segundo, apenas uma filha. Outros aspectos que diferenciam as tramas são a temática natalina, presente no segundo, mas não no primeiro e, o motivo do viúvo acolher a rica desmemoriada. Em ‘Um Salto para a Felicidade’, o intuito é lhe ensinar uma lição, enquanto que em ‘Uma Quedinha de Natal’, é por compaixão. Basicamente, as diferenças terminam aí.


Mas você deve estar se perguntando porque eu vi o longa de 2022 se ele tanto se assemelha ao de 1987, mesmo não se tratando de um remake que, aliás, já foi realizado, sendo estrelado por Anna Faris, mudando apenas que agora é o homem rico que perde a memória. Bem, esta estranha coincidência foi uma das razões, quis ver até aonde as semelhanças iriam.

A outra foi Lindsay Lohan, atriz da qual sou fã desde que assisti sua performance como as gêmeas Hallie e Annie em Operação Cupido (The Parent Trap, 1998, Armadilha para os Pais, que aliás também se trata de um remake de um filme de 1961), mas que estava afastada das telas há três anos.

Mas as semelhanças apontadas entre os filmes não significam que sejam ruins, apenas demonstra a falta de originalidade em Hollywood na atualidade. Ambos os longas possuem pontos fortes. Em ‘Um Salto para a Felicidade’, a química entre Russel e Hawn é excelente, muito provavelmente por conta de seu relacionamento fora das telas. Kurt também entrega uma performance sarcástica e engraçada, a ponto de quase justificar o fato de seu personagem ter se aproveitado da amnésia da personagem interpretada por Goldie. Já em ‘Uma Quedinha de Natal’, o chamariz é a sua meiga protagonista (pelo menos depois de perder a memória), personagens cuja interpretação é a especialidade de Lindsay Lohan, que, apesar do hiato em sua carreira, entrega uma performance consistente, ainda que pouco além do arroz com feijão, devido as limitações do roteiro. 

No mais, desejo a todos um Feliz Natal!

 






NOTA: coloquei o trailer, em inglês, do filme 'Um Salto para a Felicidade', assim como dois outros clipes com a dublagem clássica da Hebert Richers. 

Fontes:

 

https://en.wikipedia.org/wiki/Overboard_(1987_film)

https://en.wikipedia.org/wiki/Falling_for_Christmas

https://en.wikipedia.org/wiki/Lindsay_Lohan

https://en.wikipedia.org/wiki/The_Parent_Trap_(1998_film)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

UMA AVENTURA NA MARTINICA

           

         Dirigido por Howard Hawks (1899-1977) e baseado no romance Ter ou Não Ter, de Ernest Hemingway (1899-1961), ‘Uma Aventura na Martinica’ (1944, To Have and Have Not, cuja tradução literal é o título do livro que inspirou o filme) é um drama de aventura, cujo pano de fundo é a Segunda Guerra Mundial. Mas não esperem ver grandes batalhas ou algo do gênero, pois o longa se passa no Caribe, mais precisamente no ano de 1940, um ano antes do ataque de Pearl Harbor e dos EUA oficialmente adentrarem o conflito mundial.

        Assim, a trama gira em torno do capitão de um barco de pesca, chamado Harry Morgan (Humphrey Bogart, 1899-1957) que, no começo do longa, está velejando com o seu último cliente, o Sr. Johnson (Walter Sande, 1906-1971), e o marujo Eddie (Walter Brennan, 1894-1974), um bebum contumaz, mas de bom coração, numa viagem pesca.

      Para o infortúnio do Sr. Johnson, após quinze ou dezesseis dias (dependendo de a quem você pergunta: ao cliente ou ao capitão Morgan) e duas quase capturas de um grande peixe, a vara do barco é fisgada por um desses animais e levada para as profundezas dos oceanos, o que encerra a pescaria do dia e põe um fim “abrupto” as viagens de pesca do Sr. Johnson que, ao ser indagado pelo pagamento dos 825 dólares que deve ao capitão pelas incursões diárias em alto mar, afirma não ter o montante naquele momento, mas que iria ao banco sacá-lo no dia seguinte.

             De tal maneira que Johnson convida Morgan e Eddie, para apaziguar os seus ânimos, para um drink no bar do hotel no qual vive o capitão e também está hospedado o próprio Johnson. Lá, o capitão é abordado por Gerard, o ‘Francês’, (Marcel Dalio, 1899-1983), o gerente do hotel que quer recrutar a ajuda de Harry para um serviço teoricamente ilegal à época, pois a França havia caído perante os nazistas e a Martinica era uma de suas colônias, portanto passando a ter influência germânica através dos entreguistas, alguns franceses, habitantes do local, que compactuavam com o regime do Eixo.

            Enquanto recusa o serviço, por não querer tomar partido numa guerra que não era sua, Harry vê uma garota (Lauren Bacall,1924-2014) roubar a carteira do Sr. Johnson, mas nada diz, por crer que será pago de qualquer modo.

            O capitão sobe para o seu quarto e para a sua surpresa, a ladra é sua vizinha de frente, então ele a leva para o seu quarto para conversar e acaba por reaver a carteira do Sr. Johnson, para descobrir, estupefato, que o homem não tinha nenhuma intenção de pagá-lo, pois partiria num voo bem cedo no dia seguinte. Marie, o nome da personagem de Bacall, comenta que também gostaria de partir dali, só não o fez porque o seu dinheiro acabou, forçando-a a depender de truques como aquele.

            Numa reviravolta inesperada, Gerard, que não soube ouvir não, leva o grupo da resistência francesa contra os nazistas ao quarto do capitão para lhe explicar a missão: buscar duas pessoas numa ilha próxima. Ele ainda assim diz não e os manda embora, descendo também com Marie para confrontar o Sr. Johnson no bar.

            A dupla chega a fazê-lo, convencendo o vigarista a assinar o cheque com a quantia que deve para Harry, quando por ironia do destino, um tiroteio começa e o Sr. Johnson é baleado fatalmente, antes que tivesse tempo de terminar de assinar o bendito documento.

            Quebrado e sem outra opção para ajudar Marie, por quem começou a cair (aliás, Bogart e Bacall realmente vieram a se casar na vida real após se conhecerem durante as filmagens deste filme, permanecendo juntos até a morte do primeiro), Morgan aceita o trabalho e é aí que aventura realmente começa.

            É um filme interessante e bem-feito, apesar do seu personagem principal ser o clichê do homem durão, muito presente nas obras de Hemingway. Não que isso atrapalhe alguma coisa, pois ao longo do longa-metragem podemos perceber o coração por baixo da fachada de durão do Capitão Morgan, como quando ele é rude com Eddie, de modo a dissuadi-lo a participar da missão de resgate ilegal. Não que adiante de alguma coisa, pois o outro marujo embarca escondido de tão leal que é...

            E se gostarem do filme, sugiro que leiam a prosa de Hemingway. Em todos os seus romances, ela é simples e direta, devido aos seus anos como jornalista. Mas, mais importante que isso, os seus personagens são extremamente humanos. Não tive a oportunidade ler o romance que inspirou esse filme, no entanto já li ‘Adeus às Armas’, ‘O Sol também se Levanta’ e ‘Por Quem os Sinos Dobram’, todas obras brilhantes. Fica a dica!





Nota 1: o primeiro vídeo é o trailer do filme, no qual é necessário ativar as legendas nas configurações (ícone da engrenagem). Os outros dois clipes são cenas do filme que achei legendadas.

Nota 2: o filme está disponível no HBO Max e no Prime Vídeo, para quem se interessar.

Fontes:

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Howard_Hawks

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ernest_Hemingway

https://en.wikipedia.org/wiki/Walter_Sande

https://en.wikipedia.org/wiki/Walter_Brennan

https://en.wikipedia.org/wiki/Humphrey_Bogart

https://en.wikipedia.org/wiki/To_Have_and_Have_Not_(film)

https://en.wikipedia.org/wiki/Marcel_Dalio

https://en.wikipedia.org/wiki/Lauren_Bacall

 

 

 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

A CASA DE CERA

             Admito, não sem algum embaraço, que, de uns tempos para cá, tornei-me fã dos filmes do gênero slasher, que pode ser definido como uma mistura dos conceitos “quem será a próxima vítima? ” e “quem é o assassino/monstro? ”, algo como uma versão de Scooby-Doo para adultos, só que com muito mais sangue e violência gráfica.

            Num gênero, de certa forma, limitado como esse, é bastante difícil que a trama não siga uma certa estrutura e os personagens e as situações sejam um tanto clichês. É o que acontece no filme a Casa de Cera (2005), dirigido por Jaume Collet-Serra (o mesmo diretor do recente Adão Negro e de Jungle Cruise).

            A trama segue a história de um grupo de seis amigos, os irmãos Nick (Chad Michael Murray) e Carly (Elisha Cuthbert), Wade (Jared Padalecki), namorado dessa última, Dalton (Jon Abrahams), e o casal Blake (Robert Ri'chard) e Paige (Paris Hilton), que está a caminho de um jogo de futebol americano em outra cidade.

           Quando um dos dois carros em que o grupo viaja quebra, a turma se divide e uma parte segue para o jogo, enquanto a outra vai até uma cidade aparentemente fantasma, chamada Ambrosia, para ver se consegue uma peça para reposição, de modo a consertar o veículo com defeito.

           É em tal cidadezinha, perdida no meio do nada, que está a Casa de Cera que dá nome ao filme, uma espécie de museu, ao melhor estilo de Madame Tussauds, no qual até mesmo as paredes são de cera.

             É óbvio que as mortes logo vão começar. Um ponto a favor desse filme, apesar de não serem muitos, é escapar de um dos principais clichês do gênero: não é o “cara negro” ou “garota gostosa e burra” que morrem primeiro.

            Mas de qualquer jeito, o grupo volta a se reunir no sinistro lugar, pois um engarrafamento impede que os amigos que foram assistir ao jogo cheguem a tempo de vê-lo, resolvendo então retornar para junto da dupla que ficou para trás.

       E, obviamente, mais mortes vão acontecer...o que não seria nada inesperado, mas o grande problema é que o roteiro é rígido demais e falta profundidade aos personagens, a não ser a Carly, interpretada disparadamente pela melhor atriz de todo o longa, que consegue convencer bastante nas cenas de terror, apesar de um background fraco de “garota do interior que não sabe se vai se mudar para cidade grande sem o namorado”, e Nick, já que o seu intérprete consegue passar a vibe de valentão, em conflito com todos, inclusive com a própria irmã, ao mesmo tempo que se mostra protetor com a mesma no decorrer da trama.

            De qualquer maneira, o filme está longe de ser bom e tanto as intenções quanto as motivações dos vilões são para lá de ridículas, na falta de uma palavra melhor...


 

Curiosidade: esse filme é um pseudo remake de um filme de 1953 de mesmo nome, que por sua vez é também é um remake de um filme 1933, chamado Os Crimes do Museu (Mystery of the Wax Museum), dirigido por ninguém menos que Michael Curtiz, que anos mais tarde dirigiria Casablanca.

Fontes: 

https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Casa_de_Cera

https://pt.wikipedia.org/wiki/Michael_Curtiz

 

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

O GAROTO

          O filme ‘O Garoto’ (The Kid,1921), escrito, dirigido e estrelado por Charlie Chaplin (1889-1977), que além de tudo, ainda compôs a sua trilha sonora, é facilmente um dos primeiros grandes clássicos do cinema, apesar de ser uma película muda e em preto e branco.

        Como não poderia deixar de ser, é estrelado pelo Vagabundo (The Little Tramp, Carlitos na versão brasileira), personagem máxima criada por Chaplin, que consiste em um simpático homenzinho de chapéu coco,  trajando um paletó muito justo e calças muito largas, com um par de sapatos muitos números maior que o de seus pés, o que lhe proporciona um andar esquisito, quase como de um pato, e, por fim, mas não menos importante, um cômico bigode escovinha, que até mesmo Hitler tentou imitar, anos depois, para ver se o deixava mais simpático entre as pessoas, coisa que acredito não ter funcionado...

            Enfim, apesar do Vagabundo estrelar a trama, ela não começa com sua presença, mas sim com a saída da personagem que só conhecemos como a Mãe (Edna Purviance, 1895-1958) de um lar para mulheres desamparadas, carregando seu bebê no colo.

            Daí ocorre um rápido corte de cena para o ateliê de um artista, o pai biológico do garoto, interpretado por Carl Miller (1894-1979), que sem querer, esbarra na foto da Mãe que estava na prateleira acima da lareira, inadvertidamente fazendo com que o retrato vire cinzas.

            A cena seguinte mostra a Mãe assistindo a um casamento, ao passar por uma igreja, percebendo tudo aquilo que não poderá dar ao seu bebê devido ao descaso de seu parceiro, como demonstrado, alegoricamente na cena anterior do ateliê.

            A moça então, abandona o seu bebê, com um bilhete, no banco traseiro de uma carro e parte para uma praça, sem ao menos desconfiar que, pouco após ter deixado seu filho no veículo, o último foi roubado por dois ladrões, que só se dão conta da presença da criança quando já é tarde demais, abandonando-a num beco qualquer, pelo qual passava tanto o Vagabundo quanto uma senhora com um carrinho de bebê, do qual o Vagabundo presume que a criança caiu, tentando devolvê-la, sem sucesso, inúmeras vezes, até que por fim, tem de aceitar ficar com o garoto, por conta da pressão de um policial exercida sobre ele.

            Ao mesmo tempo, a Mãe, prestes a cometer suicídio, pulando de uma ponte, é interpelada por uma criança, que a faz lembrar-se de seu filho, resolvendo buscá-lo, mas a essa altura, é tarde demais, como a ela mesma constata ao descobrir que o carro, em que abandonou o neném, foi roubado.

            Os anos passam e o bebê, que o Vagabundo batizou de John (Jackie Coogan, 1914-1984, que também interpretou o tio Chico no seriado da Família Addams nos anos 60) cresce, tendo agora cinco anos e trabalhando junto de seu pai adotivo no negócio de vidraceiro da família: o garoto quebra as janelas para que o Vagabundo as conserte.

            Já dá para imaginar as confusões que vão ocorrer a partir daí, né? Por essas e outras que esse filme é tão magistral: sabe mesclar momentos da mais pura comédia, devido ao espetacular talento de Chaplin para a pantomima e acrobacias, com atuações bastante dramáticas, com destaque para a do então pequeno Coogan.

            O único defeito desse filme é que o mesmo é curto demais. Confira, abaixo, o filme na íntegra. 



 

Fontes:

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Kid

https://pt.wikipedia.org/wiki/Charlie_Chaplin

https://pt.wikipedia.org/wiki/Edna_Purviance

https://en.wikipedia.org/wiki/Carl_Miller_(actor)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jackie_Coogan 

domingo, 11 de dezembro de 2022

WHAT FEELING

              Recentemente, a cantora Irene Cara faleceu aos 63 anos. E a sua morte avivou em minha memória aquela canção que provavelmente foi o seu derradeiro trabalho: What Feeling, música tema do filme Flashdance, de 1983, dirigido por Adrian Lyne e estrelado por Jennifer Beals e um dos clássicos da Sessão da Tarde.

            A música em questão foi tão importante para o longa que não só fez parte de sua cena mais antológica, como também ganhou o Óscar da Academia e o Globo de Ouro de Melhor Canção Original.


Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Flashdance

https://pt.wikipedia.org/wiki/Flashdance..._What_a_Feeling            


sábado, 10 de dezembro de 2022

A GAROTINHA DO PAPAI

 

        Não Mexa com a Minha Filha (She’s Out of Control, 1989, ‘Ela está fora de Controle’, numa tradução literal para o português) aparenta ser só mais uma comédia adolescente, mas a sua premissa subverte o gênero, pois o protagonista é o pai, Doug Simpson, brilhantemente interpretado por Tony Danza, que tenta a todo custo impedir que o dito romance adolescente aconteça, levando as consequências ao um nível muito alto, literalmente.

          Para se ter ideia, a trama começa com um flashfoward, com Doug estacionando o seu carro em frente à estação de rádio na qual trabalha, a KHEY. Ele adentra furiosamente o edifício, entrando em um estúdio de gravação e atacando um dos convidados de um programa ainda desconhecido para o espectador.

            De uma maneira inusitada, Doug acaba lançado por uma janela, do que aparenta ser um dos andares mais altos do lugar, sendo levado às pressas para o hospital, onde se descobre que os seus ferimentos, milagrosamente, foram mínimos, o que em tese, o permitiria ir embora logo dali a não ser por um pequeno detalhe: ele ainda tem que falar com a polícia sobre o acontecido e é assim que a trama começa de verdade, com Doug narrando os acontecimentos que o levaram a tomar tão drástica atitude.

            Tudo começa com o aniversário de quinze anos de sua filha mais velha, Katie (Ami Dolenz), no qual Simpson a presenteia com um gigante urso de pelúcia e uma passagem para uma viagem escolar para Europa, durante as férias de verão. Ele ainda leva a Katie, na companhia da sua irmã mais nova Bonnie (Laura Mooney), de Richard (Lance Wilson-White), namoradinho de Katie desde os tempos do ginasial, a uma danceteria. Mas, ainda assim, a garota não parece muito feliz.

       Lá também somos apresentados a Janet Pearson (Catherine Hicks), namorada de Doug, já que o mesmo é viúvo, e conta com Janet como o seu maior esteio na criação das meninas, pois dá para ver que ela as ama como se fossem suas, devido ao tratamento carinhoso e atencioso que dispensa as mesmas. Janet até convence Katie a se abrir com o pai, contando que quer terminar com Richard.

        Aí que os problemas de fato começam. Durante uma viagem de negócios do pai, Katie persuade Janet a ajudá-la com um plano: livrar-se do aparelho dentário, substituir os óculos fundo de garrafa por lentes e um banho de loja. E assim a gata borralheira torna-se Cinderela, com um monte de pretendentes batendo a sua porta, para o imenso desespero de Doug que, em seu íntimo, não consegue aceitar que sua menininha cresceu e tornou-se uma bela mulher, a ponto aceitar o conselho de Janet e procurar ajuda psiquiátrica, na forma do Doutor Fishbinder (Wallace Shawn).

            E assim a trama prossegue, com as tentativas infrutíferas de Doug tanto de lidar com os namorados da filha, quanto aceitar o fato que Katie cresceu. Aqui é interessante notar a dualidade da situação em que Simpson encontra-se: ele já foi jovem uma vez e também foi o pesadelo do pai de alguma garota adolescente, mas agora que é sua vez de lidar com o processo, não tem a menor ideia de como fazê-lo.

            Também é digna de nota a atuação de Matthew Perry, o Chandler de Friends, no que acredito ser um dos primeiros papeis de sua carreira: Timothy, um dos inúmeros namorados de Katie.


Nota 1: esse não é o trailer do filme, mas os seus cinco primeiros minutos.
Nota 2: filme assistido através da plataforma HBO Max. 

 

Fontes:

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/She%27s_Out_of_Control

https://en.wikipedia.org/wiki/She%27s_Out_of_Control

 

 

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

BLONDE

 

         Não sei até que ponto o filme Blonde, da Netflix, de 2022, dirigido e adaptado por Andrew Dominik, com base no romance de mesmo nome de Joyce Carol Oates, é verdadeiro ou fruto de liberdade criativa. Muitas passagens são ligeiras distorções da realidade, como no caso da precoce morte de Charles Chaplin Jr. (Xavier Samuel), que só veio acontecer 6 anos após o falecimento de Marilyn Monroe (Ana de Armas), ou melhor, Norma Jeane, e não ao contrário, como indicado na película. Outras, como o abuso sexual (estupro) sofrido pela atriz, perpetrado pelo então Presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, são impossíveis de se confirmar. 

            Enfim, a trama é um estudo da personalidade de Norma Jeane, começando com as dificuldades que enfrentou em sua infância problemática, devido aos maus-tratos físicos e emocionais que sofreu de sua própria mãe, Gladys (Juliane Nicholson) e a ausência do pai, que nunca conheceu e cuja identidade só foi confirmada, através de um exame de DNA, como sendo Charles Stanley Gifford, 60 anos após a morte da estrela, agora em 2022. *

            O interessante são os motivos que levaram Norma a buscar o estrelato: o enorme desejo de ser realmente amada e provar a si mesma que merecia esse carinho. Mas nem tudo são flores em Hollywood. O enredo deixa claro que Marilyn Monroe nada mais era do que outra personagem interpretada por Norma Jeane e que a grande dificuldade de manter tal fachada, de ter de ser duas pessoas ao mesmo tempo, lhe era insuportável, pois no fundo a estrela era somente uma garotinha assustada, que buscava, em cada relacionamento amoroso que teve, o amor paterno que não chegou a conhecer. 

            Tudo é retratado pela técnica do fluxo de consciência, derivada da literatura, em cujo uso o expoente foi o livro Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Somos levados a sentir as emoções e pensamentos de Norma Jeane em momentos diversos de sua vida, ainda que em ordem cronológica. Para as cenas em cores, estamos assistindo a vida por trás das câmeras de Norma Jeane, a tranquilidade e estabilidade familiar que ela tanto buscava, enquanto nas tomadas em preto e branco, Marilyn assumia os holofotes, projetando a imagem do ícone ainda hoje lembrado por todos.

            Por fim, a interpretação da belíssima Ana de Armas é espetacular a ponto de ficar de olho, pois provavelmente abocanhará, além de inúmeras indicações, prêmios como o Globo e Oscar da Academia na categoria de Melhor Atriz.  


 

Fontes:

 https://www.imdb.com/title/tt1655389/

* https://veja.abril.com.br/cultura/pai-misterioso-de-marilyn-monroe-tem-identidade-revelada-em-novo-doc/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mrs_Dalloway

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

OPERAÇÃO DRAGÃO

            Bem, eu assisti ao meu primeiro filme de kung-fu do Bruce Lee (1940-1973), Operação Dragão (Enter the Dragon, algo como Entre o Dragão/ A Entrada do Dragão, numa tradução livre), de 1973, dirigido por Robert Clouse (1928-1997) e escrito por Michael Allin. Ironicamente, foi o também o primeiro longa lançado após a morte do astro das artes marciais, apenas seis dias após o seu falecimento.

            O que eu achei? Bastante legal e divertido, ainda que extremamente datado. A premissa é simples: o Sr. Lee (realmente o nome do personagem de Bruce) é convocado pelo Sr. Braithwaite (Geoffrey Weeks, 1922-1974), um agente da Inteligência Britânica, pois Hong Kong foi um protetorado da Grã-Bretanha até 1997, para participar de um torneio de artes marciais secreto, numa misteriosa ilha, patrocinado pelo enigmático chefe do crime Sr. Han (Shih Kien, 1913-2009), cuja voz foi dublada pelo ator Keye Luke (1904-1991).

           Durante a viagem de barco até a ilha, através de flashbacks, conhecemos um pouco das motivações de dois outros participantes do torneio: Roper (John Saxon, 1936-2020) é um apostador compulsivo, que precisa de grana para quitar as suas dívidas de jogo. Já Williams (Jim Kelly, 1946-2013) é um ativista social negro, membro de um dojô de caratê na sua comunidade, que dá uma surra em dois policiais racistas, antes de escapar com a viatura dos mesmos e partir para o torneio.

            As coreografias de lutas, todas formuladas por Bruce Lee, são muito bem-feitas, o cenário e as cores vibrantes, já os personagens, nem tanto. O vilão é caricato; o Sr. Lee, apesar de ser o protagonista e o personagem mais aprofundado, busca vingança, agindo como mais um anti-herói que hoje temos aos montes (mas que imagino ter sido novidade para a época). Já a dinâmica entre Roper e Williams funciona bem, talvez pelo background de ambos terem servido no mesmo pelotão durante a Guerra do Vietnã.

            O interessante é o impacto cultural que o filme teve em diversas obras, das quais eu destaco Dragon Ball (o meu mangá/anime favorito), no qual há a presença de diversas edições de um torneio de artes marciais, o Tenka’ichi Budokai, que também ocorre numa ilha e, a partir de certo ponto, tem a sua periocidade alterada para cada três anos, tal como a competição do filme. Mais do que isso, os quimonos utilizados pelos lutadores do torneio do Sr. Han são amarelos com faixas pretas, enquanto no manga/anime citado anteriormente são predominantemente vermelho alaranjados, com as faixas pretas ou azuis, dependendo do estágio da história.

 


Fontes:

 

https://en.wikipedia.org/wiki/Enter_the_Dragon

https://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Clouse

https://www.imdb.com/name/nm0917315/

https://en.wikipedia.org/wiki/Hong_Kong

https://en.wikipedia.org/wiki/Shih_Kien

https://en.wikipedia.org/wiki/Keye_Luke

https://en.wikipedia.org/wiki/John_Saxon

https://en.wikipedia.org/wiki/Jim_Kelly_(martial_artist)

https://dragonball.fandom.com/wiki/World_Martial_Arts_Tournament

ENTREVISTA COM LUCIANO CARRIERI

  Luciano Carrierri  é um advogado e pai de família que nas horas vagas gosta de desbravar o mundo dos jogos de tabuleiro. Hoje conversarei ...