Recentemente, a cantora Irene Cara faleceu aos
63 anos. E a sua morte avivou em minha memória aquela canção que provavelmente foi
o seu derradeiro trabalho: What Feeling, música tema do filme Flashdance, de
1983, dirigido por Adrian Lyne e estrelado por Jennifer Beals e um dos
clássicos da Sessão da Tarde.
A
música em questão foi tão importante para o longa que não só fez parte de sua
cena mais antológica, como também ganhou o Óscar da Academia e o Globo de Ouro de
Melhor Canção Original.
Não Mexa com a Minha Filha (She’s Out of
Control, 1989, ‘Ela está fora de Controle’, numa tradução literal para o
português) aparenta ser só mais uma comédia adolescente, mas a sua premissa
subverte o gênero, pois o protagonista é o pai, Doug Simpson, brilhantemente
interpretado por Tony Danza, que tenta a todo custo impedir que o dito romance
adolescente aconteça, levando as consequências ao um nível muito alto,
literalmente.
Para
se ter ideia, a trama começa com um flashfoward, com Doug estacionando o seu
carro em frente à estação de rádio na qual trabalha, a KHEY. Ele adentra
furiosamente o edifício, entrando em um estúdio de gravação e atacando um dos
convidados de um programa ainda desconhecido para o espectador.
De
uma maneira inusitada, Doug acaba lançado por uma janela, do que aparenta ser
um dos andares mais altos do lugar, sendo levado às pressas para o hospital,
onde se descobre que os seus ferimentos, milagrosamente, foram mínimos, o que
em tese, o permitiria ir embora logo dali a não ser por um pequeno detalhe: ele
ainda tem que falar com a polícia sobre o acontecido e é assim que a trama
começa de verdade, com Doug narrando os acontecimentos que o levaram a tomar
tão drástica atitude.
Tudo
começa com o aniversário de quinze anos de sua filha mais velha, Katie (Ami
Dolenz), no qual Simpson a presenteia com um gigante urso de pelúcia e uma
passagem para uma viagem escolar para Europa, durante as férias de verão. Ele
ainda leva a Katie, na companhia da sua irmã mais nova Bonnie (Laura Mooney),
de Richard (Lance Wilson-White), namoradinho de Katie desde os tempos do
ginasial, a uma danceteria. Mas, ainda assim, a garota não parece muito feliz.
Lá
também somos apresentados a Janet Pearson (Catherine Hicks), namorada de Doug,
já que o mesmo é viúvo, e conta com Janet como o seu maior esteio na criação
das meninas, pois dá para ver que ela as ama como se fossem suas, devido ao
tratamento carinhoso e atencioso que dispensa as mesmas. Janet até convence
Katie a se abrir com o pai, contando que quer terminar com Richard.
Aí
que os problemas de fato começam. Durante uma viagem de negócios do pai, Katie
persuade Janet a ajudá-la com um plano: livrar-se do aparelho dentário,
substituir os óculos fundo de garrafa por lentes e um banho de loja. E assim a
gata borralheira torna-se Cinderela, com um monte de pretendentes batendo a sua
porta, para o imenso desespero de Doug que, em seu íntimo, não consegue aceitar
que sua menininha cresceu e tornou-se uma bela mulher, a ponto aceitar o
conselho de Janet e procurar ajuda psiquiátrica, na forma do Doutor Fishbinder
(Wallace Shawn).
E
assim a trama prossegue, com as tentativas infrutíferas de Doug tanto de lidar
com os namorados da filha, quanto aceitar o fato que Katie cresceu. Aqui é
interessante notar a dualidade da situação em que Simpson encontra-se: ele já
foi jovem uma vez e também foi o pesadelo do pai de alguma garota adolescente,
mas agora que é sua vez de lidar com o processo, não tem a menor ideia de como
fazê-lo.
Também
é digna de nota a atuação de Matthew Perry, o Chandler de Friends, no que
acredito ser um dos primeiros papeis de sua carreira: Timothy, um dos inúmeros
namorados de Katie.
Nota 1: esse não é o trailer do filme, mas os seus cinco primeiros minutos.
Nota 2: filme assistido através da plataforma HBO Max.
Não sei até que ponto o filme Blonde, da
Netflix, de 2022, dirigido e adaptado por Andrew Dominik, com base no romance
de mesmo nome de Joyce Carol Oates, é verdadeiro ou fruto de liberdade
criativa. Muitas passagens são ligeiras distorções da realidade, como no caso
da precoce morte de Charles Chaplin Jr. (Xavier Samuel), que só veio acontecer
6 anos após o falecimento de Marilyn Monroe (Ana de Armas), ou melhor, Norma
Jeane, e não ao contrário, como indicado na película. Outras, como o abuso
sexual (estupro) sofrido pela atriz, perpetrado pelo então Presidente dos
Estados Unidos, John F. Kennedy, são impossíveis de se confirmar.
Enfim,
a trama é um estudo da personalidade de Norma Jeane, começando com as dificuldades
que enfrentou em sua infância problemática, devido aos maus-tratos físicos e
emocionais que sofreu de sua própria mãe, Gladys (Juliane Nicholson) e a
ausência do pai, que nunca conheceu e cuja identidade só foi confirmada,
através de um exame de DNA, como sendo Charles Stanley Gifford, 60 anos após a
morte da estrela, agora em 2022. *
O
interessante são os motivos que levaram Norma a buscar o estrelato: o enorme
desejo de ser realmente amada e provar a si mesma que merecia esse carinho. Mas
nem tudo são flores em Hollywood. O enredo deixa claro que Marilyn Monroe nada
mais era do que outra personagem interpretada por Norma Jeane e quea grande dificuldade de
manter tal fachada, de ter de ser duas pessoas ao mesmo tempo, lhe era
insuportável, pois no fundo a estrela era somente uma garotinha assustada, que
buscava, em cada relacionamento amoroso que teve, o amor paterno que não chegou
a conhecer.
Tudo
é retratado pela técnica do fluxo de consciência, derivada da literatura, em
cujo uso o expoente foi o livro Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Somos levados
a sentir as emoções e pensamentos de Norma Jeane em momentos diversos de sua
vida, ainda que em ordem cronológica. Para as cenas em cores, estamos
assistindo a vida por trás das câmeras de Norma Jeane, a tranquilidade e
estabilidade familiar que ela tanto buscava, enquanto nas tomadas em preto e
branco, Marilyn assumia os holofotes, projetando a imagem do ícone ainda hoje
lembrado por todos.
Por
fim, a interpretação da belíssima Ana de Armas é espetacular a ponto de ficar
de olho, pois provavelmente abocanhará, além de inúmeras indicações, prêmios
como o Globo e Oscar da Academia na categoria de Melhor Atriz.
Bem, eu assisti ao meu primeiro filme de
kung-fu do Bruce Lee (1940-1973), Operação Dragão (Enter the Dragon, algo como
Entre o Dragão/ A Entrada do Dragão, numa tradução livre), de 1973, dirigido
por Robert Clouse (1928-1997) e escrito por Michael Allin. Ironicamente, foi o
também o primeiro longa lançado após a morte do astro das artes marciais,
apenas seis dias após o seu falecimento.
O
que eu achei? Bastante legal e divertido, ainda que extremamente datado. A
premissa é simples: o Sr. Lee (realmente o nome do personagem de Bruce) é
convocado pelo Sr. Braithwaite (Geoffrey Weeks, 1922-1974), um agente da
Inteligência Britânica, pois Hong Kong foi um protetorado da Grã-Bretanha até
1997, para participar de um torneio de artes marciais secreto, numa misteriosa
ilha, patrocinado pelo enigmático chefe do crime Sr. Han (Shih Kien, 1913-2009),
cuja voz foi dublada pelo ator Keye Luke (1904-1991).
Durante
a viagem de barco até a ilha, através de flashbacks, conhecemos um pouco das motivações
de dois outros participantes do torneio: Roper (John Saxon, 1936-2020) é um
apostador compulsivo, que precisa de grana para quitar as suas dívidas de jogo.
Já Williams (Jim Kelly, 1946-2013) é um ativista social negro, membro de um
dojô de caratê na sua comunidade, que dá uma surra em dois policiais racistas,
antes de escapar com a viatura dos mesmos e partir para o torneio.
As
coreografias de lutas, todas formuladas por Bruce Lee, são muito bem-feitas, o
cenário e as cores vibrantes, já os personagens, nem tanto. O vilão é caricato;
o Sr. Lee, apesar de ser o protagonista e o personagem mais aprofundado, busca
vingança, agindo como mais um anti-herói que hoje temos aos montes (mas que
imagino ter sido novidade para a época). Já a dinâmica entre Roper e Williams
funciona bem, talvez pelo background de ambos terem servido no mesmo pelotão
durante a Guerra do Vietnã.
O
interessante é o impacto cultural que o filme teve em diversas obras, das quais
eu destaco Dragon Ball (o meu mangá/anime favorito), no qual há a presença de
diversas edições de um torneio de artes marciais, o Tenka’ichi Budokai, que
também ocorre numa ilha e, a partir de certo ponto, tem a sua periocidade
alterada para cada três anos, tal como a competição do filme. Mais do que isso,
os quimonos utilizados pelos lutadores do torneio do Sr. Han são amarelos com
faixas pretas, enquanto no manga/anime citado anteriormente são predominantemente
vermelho alaranjados, com as faixas pretas ou azuis, dependendo do estágio da
história.
Para início de conversa, apesar de abordar um
personagem da Marvel, ainda que pouco conhecido, ‘Lobisomem na Noite’ (Werewolf
by Night, 2022) não é propriamente um filme, mas um especial de Halloween de
quase uma hora de duração. Seria como um episódio, um pouco mais longo, de uma
série de televisão.
A
premissa é interessante: um grupo de caçadores de monstros reúne-se para decidir,
através de uma caçada, quem será o herdeiro de Ulysses Bloodstone, até então o
maior dos caçadores, mas que infelizmente faleceu. O problema jaz na execução
do especial dirigido por Michael Giacchino, com base num roteiro de Heather
Quinn e Peter Cameron.
A estética do especial, rodado em
preto e branco, é interessante, uma bela homenagem aos filmes de monstros da
Universal. No entanto, a fotografia, os cenários, os figurinos, a maquiagem e
os efeitos especiais não dão conta de salvar uma trama apressada, que peca ao
introduzir os seus personagens principais: Jack Russell (Gael García Bernal) e
Elsa Bloodstone (Laura Donnelly), essa última filha e herdeira natural de
Ulysses, mas que há muito abandonou o seu legado familiar.
Talvez,
por eu ter lido os quadrinhos do Lobisomem da Marvel, o meu olhar seja um tanto
quanto enviesado, pois já sabia quem era o lobisomem de cara, como também que
não se tratava do monstro a ser caçado, um outro personagem pouco conhecido da
Marvel, bastante semelhante ao Monstro do Pântano da DC, tanto que ambos
personagens debutaram no mesmo ano (1971), com a exceção de que o Homem-Coisa
surgiu poucos meses antes.
Enfim,
vale como uma introdução do personagem Lobisomem ao Universo Cinematográfico
Marvel e possui uma estética agradável, cuja cena final é uma brilhante
referência ao final do filme ‘O Mágico de Oz’ (Wizard of Oz, 1939).
O que torna um filme interessante, atraente ao
seu espectador? Talvez a premissa seja o fator mais importante. Então, quando
eu me deparei com a ideia de uma fuga de prisioneiros de guerra por meio de uma
partida de futebol, fui fisgado rapidamente. Ainda mais com dois dos nomes
elenco Sylvester Stallone e Pelé, uma dupla um tanto quanto inusitada, ao meu
ver. É isso mesmo, o tricampeão mundial brasileiro de futebol, por muitos
considerado o ‘Rei’ de tal esporte, atua nessa película, num papel secundário,
com algumas poucas falas.
E
outra surpresa esperava-me nos créditos de abertura: a direção do longa, de
1981, coube ao lendário John Huston (1906-1987), um dos maiores cineastas de
sua geração, com base num roteiro de Yabo Yablonsky e Evan Jones, que fizeram
uma adaptação anglo-americana do filme, de 1961, Dois Tempos no Inferno (Two
Half Times in Hell), numa tradução livre, que por sua vez utilizou como fonte
um jogo real, ocorrido em 1942, conhecido como a Partida Mortal, entre
prisioneiros ucranianos soviéticos, forçados a trabalhar em fábricas do Reich
em Kiev, contra os seus captores nazistas.
Mas
a trama do longa de Huston é um tanto quanto diferente. Num campo de
prisioneiros da 2ª Guerra, em algum lugar da França, então ocupada pelos
nazistas, o seu comandante, o Major Karl Von Steiner (Max von Sydow, 1929-2020)
convence o Capitão John Colby (Michael Caine), um soldado que na sua vida civil
era um jogador profissional de futebol, a participar do que a princípio era um
amistoso entre um time formado pelos prisioneiros do campo e outro por seus
carcereiros.
No
entanto, o jogo ganha maiores proporções quando os superiores do Major Von
Steiner decidem utilizar a partida como forma de propaganda nazista,
transferindo a mesma para um estádio em Paris, ao mesmo tempo em que os
prisioneiros tramam um plano para escapar durante a ida ao estádio.
Fuga
para Vitória (Escape to Victory) é um filme empolgante, com as boas atuações de
Caine como Colby e Stallone como o astuto e sarcástico Hatch, goleiro do time
dos prisioneiros. Vale notar que, apesar da participação de Pelé ser de
coadjuvante, ele realizou a coreografia de todos os lances da partida de
futebol, realmente um show à parte, já que muitos outros jogadores
profissionais atuaram no longa, como Bobby Moore (1941-1993), campeão mundial
pela seleção inglesa, na Copa de 1966, e Osvaldo Ardiles, também campeão
mundial, mas pela seleção argentina na Copa de 1978.
E
o final não poderia ser mais belo e impactante.
Curiosidade:
QuandoChaves estreou,
em 24 Agosto de 1984, como um quadro da TV Powww!, as gravações do humorístico,
criado e estrelado por Chespirito (Roberto Gómez Bolaños, 1929-2014) já haviam
terminado há alguns anos, mesmo que seriado o tivesse permanecido vivo sob a
forma de esquetes dentro do programa Chespirito. Apesar disso, o programa
humorístico fez um imenso sucesso em terras tupiniquins, em grande parte por
conta da incrível dublagem, que soube com maestria adaptar as piadas e
trocadilhos presentes nos diálogos. Por conta disso, em dado episódio,
propriamente intitulado “Vamos ao Cinema?”, Chaves
reclama que “era melhor ter ido ver o filme do Pelé”, só que no original a
referência é ao filme El Chanfle, de 1979, escrito e protagonizado por
Chespirito, cuja temática é justamente o futebol. Então, qual seria o tal filme
do Pelé que o Chaves tanto menciona no capítulo? Muito provavelmente, trata-se
do filme Fuga a Vitória, acima resenhado, devido à proximidade de seu
lançamento, em 1981, e a estreia do programa humorístico Chaves no Brasil, em
1984.
Moonrise Kingdom (2012, algo como Reino do
Nascer da Lua, numa tradução literal para o português) é um filme idílico por
natureza, como não poderia deixar de ser, tendo sido dirigido por Wes Anderson.
O
próprio cenário em que a trama se passa, duas ilhas afastadas de tudo, com
muito verde e pequenas comunidades em cada uma, assim como a época, o não tão
distante ano de 1965, confirmam essa impressão.
É
como se tudo não passasse de um sonho ou uma fábula, de tão excêntricos que são
os personagens, características dos filmes comandados por tal diretor. Ao mesmo
tempo que as crianças se comportam como crianças, também agem de maneira mais
articulada que suas contrapartes adultas, que parecem perdidas em seus próprios
delírios, extravagâncias e excentricidades.
Não
há nada de errado com isso, até mesmo acrescenta um sabor especial a premissa,
que é até bastante simples: tudo começa com a fuga de um escoteiro de doze
anos, chamado Sam Shakusky (Jared Gilman) de seu acampamento, aparentemente sem
nenhuma razão.
Descoberto
o sumiço, o atrapalhado chefe dos escoteiros, Randy Ward (Edward Norton), põe
os demais garotos em alerta e os manda procurar o membro perdido de sua tropa,
além de alertar o capitão Sharp (Bruce Willis), o policial no comando da força
policial de uma das ilhas nas quais se passam a história.
Logo,
também é descoberto o desaparecimento de outra criança de doze anos, chamada
Suzy Bishop (Kara Hayward), o que está longe de ser uma coincidência. Na
verdade, a fuga foi planejada pelo casal de namorados Sam e Suzy, cada um tendo
as suas razões, que são melhores explicadas ao longo do filme.
Se
ainda não foi possível convencer algum leitor de que esse longa metragem é
especial, o seu elenco ainda conta com Bill Murray e Frances McDormand, como
Walter e Laura Bishop, respectivamente.